terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Então é Natal...

É Natal: sinta esta alegria
O Natal está chegando. É tempo de amor, de confraternização, de carnês de loja amontoados na carteira e da maldita Simone cantando as mesmas músicas desde 1995. Até as pessoas que pregam aquela velha máxima de que Natal não é apenas data comercial querem presentes, e o seu décimo terceiro salário – aquele plus no orçamento que te dá a ligeira sensação de riqueza – geralmente é comprometido pelas lembrancinhas de fim de ano e pelo safado do Chester.

Os dias que antecedem o 25 de dezembro são recheados de atividades, a começar pela montagem da árvore de Natal e decoração da residência. Algumas pessoas levam isto muito a sério. Meu pai, por exemplo. Ele coloca pisca-pisca até na arara vermelha de madeira que temos. É verdade. Em um Natal passado, Itaipu teve que aumentar a geração de energia em 15% para dar conta de acender as luzes da minha casa. A iluminação pública da rua onde moro não foi necessária naquele dezembro.

Amei o presente, colega...
Outra atividade de Natal é amigo secreto. Quem é que inventou o bendito amigo secreto? Você geralmente dá o presente de R$ 20 mais legal do mundo e recebe de volta uma cueca bege. É nitidamente uma recomendação camuflada para não se ter filhos no próximo ano. Isto, sem contar, o vexame que é a revelação quando algum engraçadinho te pegou – sem trocadilhos. Geralmente você é levado ao fundo do poço pelo “secreto”, porque de amigo ele não tem é nada. “O meu amigo secreto, ou amiga, não vale um tostão. É um caloteiro. É gente boa, mas é meio boca aberta. Sem contar que é corno. Apesar dos pesares eu gosto do aspa torta, mesmo com o que falam, e...”. Pior que isto, só se todos já descobrirem que é você.

O Natal vai se aproximando e se aceleram as compras. As lojas te tiram para otário, preste atenção nas ofertas. As prestações não têm juros, mas os pagamentos a vista têm 10% de desconto (?). Sem contar aquelas vendedoras que não te deixam respirar; você só gostaria de olhar a vitrine em paz e a atendente corre para perguntar o que você quer, com a tabela de metas pessoais em baixo do braço. Você pensa: “Quero que você saia, cretina”, mas diz: “Só estou dando uma olhadinha...”. Algumas fecham a cara e dão meia volta. Outras dizem que – enfim – você pode ficar à vontade.

Tio Noel: sempre animando a família
Na véspera e no dia de Natal, grande parte das famílias tem por costume se reunir. É sempre uma boa oportunidade para as pessoas encontrarem os parentes que nunca dão as caras e um ou outro primo infernal que era melhor não ter aparecido. Algum tio embriagado se veste de Papai Noel e distribui os presentes, enquanto quatro mulheres decidem, na frente do forno, se o peru está, ou não, no ponto. As crianças estão apavoradas com aquele tio vestido de vermelho com uma almofada na barriga, que agora grita “Ho Ho Hic Ho” – ele está bêbado –, e a única certeza que ficará do Natal é de que o Bom Velhinho é alcoólatra.

Depois do 25 de dezembro as lojas viram zonas: é que começa o troca-troca. É hora de devolver aquela camiseta baby look que não caberia nem no seu pinscher e pegar algo que realmente valha a pena – ou que pelo menos sirva. As atendentes, que ainda estão com dores nas pernas e calos nas línguas, te atendem sem a menor vontade. É que elas não bateram aquelas metas pessoais e em janeiro já tem torra-torra. Moral da história: quem sai torrada é a sua paciência.

Falando assim até parece que não gosto de Natal. Eu amo o Natal. Só acho uma pena a maioria das pessoas não se importar com o que realmente importa: o importante. Deveríamos estar mais preocupados em nos reunir à mesa, agradecer pela comida e celebrar tudo o que a vida nos trouxe no ano que está quase acabando. Não precisa ter qualquer fru-fru... Só os entes queridos reunidos para comemorar o nascimento de Cristo e a morte de Chester. Natal é isto. Mas, é como disse no começo: eu também quero presente.

PS: Agora, com vocês... Simone!!!



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 20 de dezembro de 2011.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O amor e outras drogas

Carro: importante desde sempre
Um colega de trabalho disse outro dia que você sabe que está apaixonado quando as letras de pagode começam a fazer sentido. Ah, o amor. A pior droga que já inventaram é o amor. Você não fica tonto, não dá risadas sem motivos e sequer vê tigres na parede enquanto conversa com um gnomo multicolorido que se chama Alfredo Ricardo – o texto não é autobiográfico, juro. A única sensação que o amor te traz é calafrios, mas qualquer salto de paraquedas tem o mesmo efeito – com uma chance bem menor de se quebrar a cara. E homens, sejamos francos: essa parada de “borboletas no estômago” é muita viadagem.

Amor e paz...
Não existe nada mais tosco do que homem apaixonado. Mulher se controla. Homem, não. Pela convicção de que é ele quem deve tomar a iniciativa, elas só provocam. Um decote ali, uma minissaia acolá, um sorrisinho maroto mais longo deixado no ar. Se mesmo com tudo isso o cara não deu em cima – em geral, porque ela é uma garota escrota –, deixa pra lá, tudo bem, pronto, acabou. Isso não acontece com o homem. O homem se expõe. Ele tem que tomar a iniciativa. É flor, bombom, cartão, convites cheios de segundas e terceiras intenções. Tudo isso correndo o risco de a gata desejada classificá-lo como “ridículo”, “cretino”, “grudento” ou “vai sonhando, moleque”. Pior que isso: depois de ganhar os mimos ela pode te achar “fofo”. Fofo, colega, é amigo gay.

Amor e guerra...
O amor e os Correios precisam da mesma coisa para funcionar: correspondência. E tanto em um, como em outro, tudo começa com o selinho. Paixão e amor são coisas distintas. Amor é sentimento. Paixão é sobrenome de leão-de-chácara de zona. Em suma, o prazer que o amor traz é zero e ainda existem efeitos indesejáveis. O amor te deixa com cara de bobo, boca seca, língua presa e pernas bambas. Se já não fosse o bastante, se gagueja na frente da pessoa amada. Resumindo: o amor não quer que você pegue ninguém.

Toda pessoa que já amou sabe que existem poucas coisas mais sofríveis do que amar e não ser correspondido: ser enterrado vivo, ver Domingão do Faustão e prender os testículos na porta do carro. Só. A verdade é que o amor é um sentimento danado. Poetas, pensadores e outros alcoólatras já tentaram defini-lo. Camões disse que é ferida que dói e não se sente. Vinicius de Moraes explicou que é infinito enquanto dura, posto que é chama. Frank Aguiar completou dizendo que lavou ta nova. Aí veio Renato Russo e questionou quem inventou o amor... Caetano Veloso até respondeu, mas ninguém acompanhou o raciocínio.

Homens e casamento: nada a ver
Grande parte dos problemas sociais resulta do amor. Problema de saúde: causa dor de cotovelo e pode cegar. Problema de lei seca: faz você encher a cara. Problema musical: cria duplas sertanejas. As autoridades deveriam dar um basta no amor, mas já não podem mais contê-lo ou regularizá-lo; hoje em dia está fácil comprar amor – aquele falso, claro. A questão já começa na infância. Tem mãe que cria a filha para ser bem casada, e esquece que ela pode virar mal comida. Até dizem que uma mulher pode ter um homem rico, um homem que a satisfaça na cama, um homem que ouça todos os seus problemas pessoais e esteja pronto para fazer qualquer coisa. Só não dá para deixar que estes três homens se encontrem. O amor tem destas coisas.

Profissão repórter

Até que a dentadura nos separe...
Sou do tipo que ainda acredita no amor, mas naquele que não termina quando os credores batem à porta. Ele ainda vaga por aí, perdido nas esquinas da cidade... Encontrei alguém que me ama mesmo quando os presentes de Natal estão a perigo. Para um jornalista, isto é muito importante. Em casamento de repórter, o padre sempre repete a parte do “na riqueza e na pobreza”, acentuando a última parte, para evitar posteriores reclamações. Algumas dão pra trás no altar, é sempre um risco. Rogo a Deus para que salve as Amélias, todas aquelas que passam fome e acham bonito não ter o que comer. Amém.

PS: Agora, com vocês, Fundo de Quintal...



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 13 de dezembro de 2011.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Como se dar bem na balada

Esta coluna é para você!
Mulher bonita é que nem eleição para vereador: o que não falta é candidato. Se você, homem, está no mercado, tem que se preparar para enfrentar a concorrência – muitas vezes desleal. É sério. É incrível a quantidade de rapazes com dinheiro e carro. E a probabilidade de você estar lendo esta coluna e não fazer parte deste grupo é de aproximadamente 90%. É fato: se tivesse veículo e grana, não precisaria de dicas. Então, pobretão, vou tentar ajudar.

Não existe uma segunda chance para causar uma boa primeira impressão. De modo geral, cantadas não dão certo – a não ser que você seja bonito. E a avaliação da sua mãe sobre isto não conta. Ou seja: você é mais feio do que pensa. Sabendo disto, invista em um bom papo. Caso a conversa não seja o seu forte, o jeito é disfarçar com a simpatia: “Gata, adoraria falar contigo por horas, mas um beijo vale mais que mil palavras, um toque é bem mais que poesia”. Na mosca.

Você tem carro? Avance duas casas
A gente nunca sabe o que as mulheres realmente querem em uma balada, mas temos alguma noção do que elas não querem: caras chatos. Se a garota já nem olhou para o seu rosto quando você esboçou abrir a boca para dar oi, desista. E pelo amor de Deus: jamais puxe o cabelo dela. É tão óbvio que a dica chega a ser patética, só que é espantosa a quantidade de moleques que já vi segurar o cabelão da mulherada enquanto as moças caminhavam pela pista. A garota passa, e o sem noção se atira como se fosse agarrar a crina do tordilho negro. Você sabe quantas horas ela passou alisando aqueles fios? A mulher só não bota arame farpado em volta para não estragar o look. A dica é: mantenha distância.

Festa de gente rica? Mais duas casas
Na grande maioria dos casos, as mulheres são indecisas. Então ajuda a passar segurança – senão você dança. Nova dica: “Gata, sou tão bom que tenho até selo de qualidade. Sério, quer um selinho?”. Sugiro ainda que você invista em assuntos dos quais ela entenda, como doces: “Você gosta de brigadeiro? E de beijinho, sua linda?”. Talvez seja o caso de mostrar inteligência. Acompanhar a bolsa de valores sempre impressiona: “Gata, se você fosse uma moeda, seria dólar... É que você é boa demais para ser real”. Conhecimentos históricos também podem contar pontos a favor: “Não estamos mais na era medieval, mas você sempre me deixa de armadura, sua linda!”. O trocadilho costumava vir seguido de um chute no meio das pernas na época das cruzadas. Com a falta da armadura, atualmente o golpe dói mais.

Festa de gente pobre? Volte ao início
Outra recomendação que dou é: invista em boas festas. Geralmente aqueles locais onde se paga um pouco mais para entrar são frequentados por mulheres mais interessantes – fisicamente, pelo menos. A vida é injusta, mas a verdade é que festas baratas estão repletas de mulheres feias, e costuma-se beber muito mais. É que nestes locais, se não rolam os bebes, também não rolam os comes. E sejamos francos: todo mundo sabe que beleza não põe a mesa, mas com certeza põe à cama.

Se alguma mulher acompanhou as dicas até aqui para tentar ficar imune
Loiras ou morenas? Gostosas
à macharada, vou fazer o favor de dar uns toques. Primeiro: o verão está chegando, cuidado. No inverno, todo homem procura um cobertor de orelha, mas no verão eles só querem mesmo agasalhar o croquete. Segundo: sempre tem aquela dúvida, “os homens preferem as loiras ou as morenas?”. Vou revelar o segredo: os homens preferem as gostosas. E terceiro: parem de reclamar que nós não prestamos. Estamos tão cientes disto que preferimos ficar com vocês... Aliás, todas gostam de afirmar que adoramos mentir, mas fazem isto logo no primeiro encontro. Não se façam de desentendidas: deveria haver cueca com bojo. Só assim saberiam como nos sentimos ao saber da verdade.

Um segredo, mulher: homem é tarado
Por falar em verdade, é preciso que sejamos francos, homens: toda mulher trocaria uma noite de sexo por um dia de promoção. Então não se grile caso você não se dê bem na balada. Afinal de contas, o amor não é uma coisa que você encontra na sua cama, toda vez que chega em casa. Essa é a barata da vizinha. O amor é outra coisa. E se saiu chupando o dedo e está a fim de sentir aquele corpo quente, suado, roçando contra o seu, fica a última dica: de meia em meia hora tem ônibus saindo na cidade.

PS: Agora, com vocês, Caetano Veloso...



Será que ela quererá?
Será que ela quer?
Será que meu sonho influi?
Boa sorte, solteiro.

Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 6 de dezembro de 2011.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Pro dia nascer feliz

Bom dia é o car@#$&!
A vida deveria começar só depois do meio-dia. É sério. Você já deveria acordar sem olheiras e sem remelas, devidamente arrumado, cama, mesa e banho. Sua principal refeição do dia – a primeira – seria logo a mais supimpa, o almoço, quando, em dias de sorte, rola até batata frita. Você já não teria que dar bom dia para todas aquelas pessoas chatas só por educação, com aquele sorriso de bunda no meio da sua cara por ser 7h30min. Imagine uma bunda sorrindo. É a sua cara. E não é legal.

Eu sou do tipo que não acorda cheio de disposição. Levanto às 6 horas
Dormir com segurança, fica a dica
da manhã, mas geralmente abro o primeiro olho 45 minutos depois. Até lá sou apenas um corpo vagando pelo universo. E pior do que acordar cedo é acordar cedo perto de alguém que acorda bem. Minha mãe, por exemplo. Como alguém pode adquirir tanto assunto depois de dormir por oito horas?! Como, Pai?!

Normalmente as pessoas que acordam cheias de disposição falam dos sonhos; querem o seu comentário sobre o sonho delas; querem ouvir o relato dos seus sonhos; querem saber por que você não sonhou; comentam as notícias da TV; querem o seu comentário sobre as notícias da TV também; relembram de alguma coisa que esqueceram de contar no
Da série: "Eu sou você amanhã"
dia anterior; querem o seu comentário sobre isto; querem saber por que você está quieto; querem que você fale sobre o porquê de estar quieto. Tudo isso.

Não sou do tipo antipático, até gosto de ver as pessoas que me são importantes logo no início do dia. Ver. Eu penso: “Legal, elas estão ali”, e pronto. Os indivíduos que gostam de conversar antes das 7 horas da manhã simplesmente não são humanos. Inclusive deveria haver uma lei contra isto: proibido conversar antes das 7. Prisão perpétua. Boa maneira para estas pessoas repensarem suas vidas, já que o crime de puxar papo antes de o sol nascer de fato não deixa de ser um assassinato:
Estou estudando, mãe...
seu dia acabou de morrer.

Pior do que aqueles que acordam com vontade de conversar, só mesmo os que acordam com vontade de cantar. Ou essa pessoa se deu muito bem na noite anterior (você sabe do que estou falando); ou essa pessoa tem problemas psíquicos de intensidade alta; ou essa pessoa tem problemas psíquicos de intensidade alta e se deu muito bem na noite anterior. A natureza é prova disto. O único animal que acorda cantando é o galo, mas ele geralmente dorme com umas 10 galinhas, todas com peitos, coxas e sobrecoxas deliciosas. Sem contar que são
O legítimo galo velho!
carinhosas: as danadas têm um coraçãozinho...

Se você estiver lendo isto e, por algum motivo, em algum dia da sua vida, acordar do meu lado, seja em um camping, um asilo ou em uma cela de penitenciária, faça o favor de respeitar o meu silêncio matinal. A não ser que você veja que estou sorrindo de orelha a orelha, cantarolando, cheio de amor para dar. Aí, provavelmente, terei dormido com as galinhas.

Profissão repórter

A vantagem de ser jornalista e trabalhar em um jornal impresso é que, geralmente, você trabalha apenas a partir da tarde – exceto naqueles dias em que alguma autoridade engraçadinha resolve inaugurar obra pela manhã. Entre a classe, existem os que dormem até o meio-dia. Fica registrada aqui a minha admiração por estes afortunados. Eu sou do tipo de jornalista que, por não trabalhar de manhã, acaba sempre convocado para fazer alguma tarefa doméstica – já que “não trabalho”, e sempre tem algum safado que lembra disto. Tem que ir ao mercado: o Renam não trabalha de manhã. Tem que comprar uma maçaneta nova para a porta: o Renam não trabalha de manhã. Tem que trocar o óleo do carro da namorada: o Renam não trabalha de manhã. Tem que esquentar o almoço: o Renam não trabalha de manhã. Tem que dedetizar o forro, lavar o portão, desentupir as calhas e pintar a casa: o Renam acaba de conseguir um trabalho para a manhã.

PS: Agora, com vocês, Barão Vermelho...



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 29 de novembro de 2011.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

A popularização do automóvel

Dia do fatídico comentário: Prates prestes a perder emprego
Hoje qualquer miserável tem um carro; logo, eu tenho um carro. A primeira parte da frase foi dita por Luiz Carlos Prates em um afamado comentário que culminou com a saída dele do Grupo RBS – perdeu os empregos, de uma só vez, no Diário Catarinense e no Jornal do Almoço, o ladino. Hoje o jornalista faz seus comentários no SBT e, dizem, vende Tele Sena nas horas vagas.

De certa forma, compreendo o que Prates tentou – com insucesso – dizer. Primeiro: a popularização do automóvel contribui para – dã – o aumento de número de carros e, consequentemente, a quantidade de acidentes; segundo: pessoas frustradas, para amenizar suas frustrações, compram carros mais potentes; terceiro: acho que mulheres preferem chocolates mais potentes a carros mais potentes (opinião minha); quarto: homem que “necessita” de carro grande tem pinto pequeno; quinto: eu necessito apenas de um Gurgel.

Ex-deputado Fernando: com ele, está tudo em Ribas
Um pouco disto tudo já daria uma receita complicada, mas a omelete desandou de vez quando Prates insinuou que o governo não deveria ter facilitado tanto o acesso a automóveis para a população menos favorecida economicamente – vulgos pobres – e que veículos estavam sendo guiados por pessoas que jamais leram livros e que, por este motivo, não deveriam dirigir... Na minha opinião, respeitar uma placa de 80 km/h não tem ligação com ser culto; tem ligação com ser honesto, ter responsabilidade, bom senso. Livros, de modo geral, não ensinam isto. Será que o ex-deputado Fernando Ribas Carli Filho, que matou dois jovens ao colidir contra o carro deles embriagado, a mais de 160 km/h, jamais leu um livro? Pelo acidente, segundo a teoria de Prates, ele deveria ser, no mínimo, neandertal.

A popularização do automóvel é um problema? Se o trânsito nas cidades não for repensando para acomodar todos os veículos, sim. Mas o que gostaria de tratar agora, e dei voltas e voltas para chegar até aqui, é sobre outro problema que a popularização do automóvel trouxe consigo: os motoristas com bracinho na janela.

Esta categoria de condutores costuma andar, lentamente, pelas áreas centrais e mais povoadas das cidades. Quase nunca, de modo geral, olham para frente: seus olhares estão fixos nas calçadas, à procura de pessoas que possam estar acompanhando suas passagens. Outra característica marcante do grupo é que os motoristas com bracinho na janela estão sempre acompanhados de mais um ou até de mais quatro colegas, todos homens. O resultado do passeio é que nem na Bahia existe tanto coco por metro quadrado.

Os Prestígios, apelido carinhoso dado aos automóveis guiados pelos motoristas com bracinho na janela, só ficam completos, claro, com som – ou barulho, como queira. Não raro, os equipamentos sonoros custam mais do que o restante do veículo. Mais comum ainda: as músicas são péssimas. A trilha sonora da vida de um motorista com bracinho na janela costuma ser aquela que você só tolera no quarto dia de Carnaval a dois goles de um coma alcoólico. Quando há letra, algo totalmente opcional nas canções (?!), a poesia pode tentar te motivar a: A) Beijar na boca. B) Beijar na boca e fazer sexo. C) Beijar na boca, fazer sexo e beber. D) Dançar kuduro.

Ouso a dizer que o maior problema da popularização do automóvel é a epidemia de motoristas com bracinho na janela. Cientistas britânicos descobriram que um quarto do gás carbônico despejado na atmosfera poderia ser evitado caso estes condutores não passassem tantas vezes seguidas pelo Calçadão da sua cidade. Cientistas chineses acreditam que a extinção desta categoria de proprietários de veículos poria fim ao kuduro. E ao Latino. Cientistas tailandeses, por sua vez, estão prestes a divulgar um revelador estudo sobre o grupo, mas pararam os trabalhos para a hora da massagem. Há quatro meses. Já os norte-americanos, empenhados no tema, ligaram à existência dos motoristas com bracinho na janela a um grupo específico de mulheres que receberam provisoriamente o nome de latino-americanas piriguetes, termo ainda sem tradução, mas que, acredita-se, seja algo como “Marias Gasolina”. Por sorte, o governo brasileiro já se adiantou e tenta acabar com a praga: a partir de 2012, só serão permitidas no país “Marias Biodiesel”.

PS: Agora, com vocês, kuduro na voz marcante de Latino...



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 22 de novembro de 2011.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Os bastidores da notícia, os desafios da reportagem

Monalisa Maria da Penha Perrone
Hoje resolvi falar sobre Jornalismo. Três fatos ocorridos nos últimos dias foram decisivos para a escolha do tema desta coluna. Primeiro: recebi o meu diploma da faculdade de Jornalismo; segundo: dois malucos empurraram uma repórter da Rede Globo durante uma entrada ao vivo; terceiro: um repórter cinematográfico do Grupo Bandeirantes foi morto em meio a um tiroteio entre policiais militares e traficantes no Rio de Janeiro. Você sabe o que estas três situações, aparentemente divergentes, têm em comum? Nada. Absolutamente nada. Mas ainda assim é um bom tema.

Gelson Domingos morreu no sábado *
Na maioria das vezes, me perguntam se fiz Jornalismo pensando em ocupar o lugar do William Bonner, mas honestamente odiaria ter que criar trigêmeos, e não sinto muita atração pela Fátima Bernardes. Já sobre trabalhar no Jornal Nacional, por que não? Não sou do tipo que recusa uma proposta antes de ouvi-la e, caso a família Marinho me procure, estou aberto à negociação.

Minha namorada um dia pensou que casar com um jornalista poderia ser um bom golpe da barriga; até que esqueci meu extrato bancário sobre a mesa e seu mundo ruiu. Hoje estamos juntos pelo afeto e somos um casal perfeito: dizem que beleza não põe mesa e que viver de matéria te põe na miséria. Resumindo, se por um lado os encantos dela não nos dão a certeza de que seremos ricos, o fato de eu ser repórter ratifica que seremos pobres. Felizes na pindaíba até que a morte nos separe – mas felizes, Tuf Tuf.

Maldito celibato
Pouca gente sabe, mas já cogitei a ideia de ser padre. Inclusive já fui coroinha e, na época, o comentário na paróquia era de que eu dava mesmo para padre. Afastaram o pároco pouco tempo depois, não sei bem o porquê. Enfim, jornalistas e padres têm muito em comum, penso. Exceto pelo celibato, é claro. Aliás, foi a proibição do sexo que me afastou da ideia de vestir a batina: eu tinha 12 anos, queria ser padre, mas não podia ver um sutiã estendido no varal.

Como dizia, a única diferença entre ser padre e ser jornalista é o sexo. E olha que seria até mais fácil os padres conseguirem sexo, já que no caso deles a maioria dispõe de carro. No mais, ambos sabem que terão que fazer voto de pobreza. E os jornalistas, assim como os religiosos, acabam vivendo da caridade alheia: lancham em coletivas de imprensa, ganham brindes em feiras e costumam entrar nas festas sem pagar a entrada. Também se reza muito. No fim do mês, especialmente, quando os credores cansaram de ouvir a sua caixa postal e resolveram te procurar pessoalmente. Falando nisto, todo jornalista costuma ser desapegado ao dinheiro: ele fica tão pouco tempo na sua carteira que é impossível criar qualquer laço afetivo.

O que me deixa mais assustado é o fato de ser consenso que a categoria mais mal paga do Brasil é a dos professores. O que me preocupa, no caso, é que ganhamos quase a mesma coisa que eles. Parte do problema se deve às nossas greves, que quase nunca dão certo: quando os jornalistas paralisam seus trabalhos, ninguém fica sabendo. O jeito é voltar às redações, mas aí o movimento reivindicatório já perdeu força e a notícia da greve morreu antes mesmo do deadline.

É preciso amor à camisa
A quem está pensando em fazer Jornalismo, se eu pudesse dar uma dica, apenas uma dica, diria o seguinte: filtro solar. Use filtro solar... O.k., eu diria: faça Jornalismo somente se você tiver muito amor à camisa. Amor à camisa é o principal. Digo isto porque você vai usar a mesma camisa por muito tempo, geralmente não sobra grana para compras. No mais, não acredite que o estudo acadêmico não é válido só porque o diploma – que agora eu tenho – não é mais exigido. Você acredita que sua comida seria pior após cursar Gastronomia? Então por que diabos você pensa que já sabe escrever suficientemente bem? Não sejas tolo: com estudo, és tudo.

PS: Esta música sempre me diz muito quanto penso sobre o Jornalismo... Talvez pareça estranho, mas todo este blog não passa de um grande devaneio. E afinal: escrevo para quem? Eu falo para quem? Noticio para quem? Eu canto para quem? Agora, com vocês, Adriana Calcanhotto...



Eu ando pelo mundo
Divertindo gente,
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome
Nos meninos que têm fome...

Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 8 de novembro de 2011.

* Apesar da tola brincadeira com o seu sobrenome, fiquei triste pelo colega de profissão. Se puder, nos faça um favor: vá registrando tudo aí por cima, que logo mais chegamos para editar as imagens. Abraços!

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Pedintes na sua porta

Não é feitiçaria...
Ontem foi o Dia das Bruxas e se tem uma coisa que sempre curti é Feiticeira. E Tiazinha, mas o Programa do Huck na Band acabou. O barato do Halloween pelo mundo é quando as crianças se fantasiam e vão de casa em casa para extorquir as pessoas. Algumas delas até se profissionalizam e depois de certo tempo passam a fazer o mesmo vendendo Herbalife. Ou pedindo votos. Ou contando que o filho em casa precisa de leite ou faltam apenas R$ 5 para ela comprar a passagem de volta para a cidade natal. Enfim, a travessura nunca acaba.

Se existe uma coisa que me irrita é pedinte na porta de casa. O problema é crônico. Cada vez mais existem malandros querendo voltar para Goiânia pedindo socorro (esta frase é dedicada a quem assiste Pânico na TV; se não for o seu caso, ignore). Não sei como é o ciclo em outras cidades e em outros bairros, mas onde moro o problema se agrava aos sábados: no dia em que você não trabalha, quem trabalha são eles.

As histórias geralmente são as mesmas: fome, doenças degenerativas e filhos a dar com pau. Honestamente acho incrível como gente tão debilitada possa gerar tantas crianças... Já percebeu, leitor? Os doentes terminais da sua porta são simplesmente touros sexuais entre quatro paredes. Não esperam nem o fim da quarentena, os danados, benza Deus.

Dadinho? Dadinho?!
Existem pessoas necessitadas, que precisam realmente de sua ajuda? Existem. Mas estas pagam pelas vadias. Você batalha o mês todo em jornadas exaustivas para obter o dinheiro necessário para comprar comida, pagar as contas e ter um mínimo de conforto. Eis que surge na frente da sua casa um marmanjão sadio de 19 anos, maior pinta de Dadinho – Dadinho é o car#$@&! –, e pede a sua ajuda... O que fazer?

Alternativa A: Dar parte do dinheiro que você suou para conseguir porque acredita que ele mereça. Alternativa B: Dar parte do dinheiro que você suou para conseguir porque está com medo do safado. Alternativa C: Dar um corridão no malandro e sumir da cidade antes que ele acione o restante da gangue. Alternativa D: Ser educado com o jovem socioeconomicamente necessitado e explicar-lhe que este mês a situação está difícil, e que sente muito por não poder ajudar rapaz tão bem apessoado, mas acredita que aquela simpática vizinha provavelmente lhe oferecerá socorro com todo prazer. Semanalmente, inclusive.

Lógico que você quer dar um corridão no sacana, mas a alternativa mais coerente é a D. E tire o sorrisinho do rosto, não é aconselhável mandá-lo procurar a vizinha antipática. Lembre-se: o próximo pedinte pode procurar primeiro a cretina, o que abre margem para vinganças.

Eu, relatando o problema do pão
Falando assim parece até que tenho raiva de pedintes, não é? E eu tenho mesmo. Lembro de uma vez quando eu ainda era criança e atendi uma pedinte na porta de casa. A mulher falava em filhos, desgraças, fome, má sorte na vida... enfim, pedia dinheiro. Era criança, as únicas moedas que via naquela época eram aquelas de chocolate. Ainda assim, comovido, entreguei-lhe um saco de pão. E não era pão velho, não, era pão bom. Sei nem o porquê, subi na grade do portão para ver a mulher ir embora; na esquina, ela atirou no lixo o pão que comeríamos na minha casa... Foram quatro anos de análise com uma psicóloga para superar tal trauma.

O.k., não precisei de análise, mas me senti totalmente infantil ajudando a sacana. E veja bem, não é fácil para uma criança se sentir infantil... Passei a não mais acreditar nos mendigos de sábado e fico triste por saber que, provavelmente, deixei de ajudar alguém que realmente precisava de apoio, que precisava do pão que foi jogado no lixo.

Antes que a coluna acabe, ressalto que este texto não prega a falta de solidariedade; considero muito digno partilhar com os menos afortunados uma parte de seu esforço. Apenas sugiro que você concentre as suas doações a instituições beneficentes que verdadeiramente fazem um trabalho sério e atendem necessitados – ONGs do programa Segundo Tempo não contam. Faça uma pesquisa em sua cidade, comece a colaborar, e não deixe de também visitar as entidades. As instituições sérias geralmente valorizam mais o seu afeto do que o seu dinheiro.

PS: Agora, com vocês, Skank...



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 1º de novembro de 2011.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Mesquinharias e coisas afins

Todo mundo (não) conhece alguém assim
Esse mundo só não é pior porque é uma bola; acho que se fossem duas seria um saco. Ainda assim ele está repleto de maldades e mesquinharias. Aos mais desavisados, mesquinho, segundo o dicionário Michaelis, é alguém “sem qualidades de grandeza”. Ou o “cavalo que não deixa pegar na cabeça, especialmente nas orelhas, por isso é difícil pôr-lhe o cabresto, buçal ou freio”, o que me lembra que certas vezes me dá medo consultar o dicionário.

Concentremos-nos nas pessoas “sem qualidades de grandeza”. Elas existem aos montes. Estão constantemente preocupadas com a etiqueta da roupa, o veículo na garagem e o tamanho da casa. É o maldito status. Status, como já se definiu há um bom tempo, é comprar aquilo que você não precisa, com o dinheiro que você não tem, para mostrar às pessoas que você não gosta alguém que você não é. Status, segundo o dicionário Michaelis, é uma merda.

Vejo muitas pessoas vazias caminhando por este mundo, e acredito que o termo não é facilmente compreendido. Uma vez joguei na cara de um gordinho que ele era uma pessoa vazia. Ficou feliz. No mesmo dia largou a dieta e voltou a comer McDonald’s com Coca-Cola. Antes ele só comia o McDonald’s.

Big Big Mac
Uma pessoa vazia, no meu entendimento, é alguém que não está em busca de ser o melhor que pode ser; está em busca de ser melhor do que os outros, de fato, são. Inveja. O grande problema deste modo de se viver é que não apenas o sucesso pessoal é valorizado, mas também o fracasso alheio: “se minha casa não pode ser maior que a do vizinho, que bom que a dele desmoronou”, refletia o gordinho com o Big Mac na mão...

Parabéns pelo corte de gastos, chefe!
Não viva assim. Já tem gente demais perdendo tempo ao lado de pessoas de que não gosta realmente para alimentar algum interesse banal. São sujeitos sempre dispostos a dar tapinha nas costas do chefe e falar mal dele na hora do café para os colegas. São indivíduos que fazem amizade com um cara porque ele é amigo de uma garota que é prima de alguém que conhece um produtor que pode elevar a sua carreira – ou seu status... Crie laços que verdadeiramente sejam prazerosos de se manter. Por afeto, não por conveniência.

Essa levou muito golpe de barriga para dar golpe da barriga...
E se amizade por interesse já é terrível, ainda tem algo pior: relacionamento por interesse. Há quem acredite que subir na vida é “dar para o homem certo”, e faça disto uma meta. São prostitutas de luxo. E pior do que quem aplica, é quem cai no velho golpe da barriga, mais antigo até que o do bilhete premiado. Existem velhos ricaços, devidamente carecas e pançudos, que creem no amor verdadeiro de siliconadas garotas de 25 anos sem restrições sexuais. Como também há milhares de endinheiradas mulheres com idade avançada que acredita ser possível existir um jovem mancebo sedento por, veja só, carinho e sexo com idosas.

Além do relacionamento por interesse financeiro, há outra modalidade – tão mesquinha quanto – que se baseia na carência. Esta palavra é constantemente usada para justificar um relacionamento que é fundamentado no interesse. Posso ser careta, mas não entendo uma pessoa que namora outra e não tem o objetivo claro de ficar realmente com ela; sim, estou me referindo a casamento. E, sim, sei que os homens que chegaram até aqui fugiram da leitura do restante do texto... Mas é o que penso. Quando se está ao lado de uma pessoa, você tem que ao menos vislumbrar a sua vida ao lado dela, senão, vale de quê? Namoro por carência é uma piada. Você pode muito bem se deitar no sofá e ganhar cafuné da sua mãe. Pode comprar um cachorro e ser recebido todo dia por alguém que estava com saudade – caso você o alimente. E quanto a sexo... sejamos francos: do jeito que a coisa anda, não é difícil conseguir. Só não tente com sua mãe e seu cachorro.

O danado do meu vizinho provoca...
O texto está chegando ao fim, e como Cazuza fez um dia gostaria de dedicá-lo para aquelas “pessoas de alma bem pequena, remoendo pequenos problemas, querendo sempre aquilo que não têm”. Talvez não seja uma boa conclusão, mas tenho que ir até a agropecuária mais próxima comprar adubo: a grama do vizinho me parece mais verde.

PS: Agora, com vocês, a homenagem de Cazuza...



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 25 de outubro de 2011.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Uma dose de humor negro

As crianças odeiam ter que escovar os dentes após as refeições; logo, as crianças de Serra Leoa são mais felizes...

Ore e me adore antes que eu te cobre!
Leitor, este é o chamado humor negro, prazer. Neste tipo de piada, situações trágicas são usadas para fazer rir. Nem sempre conseguem. Humor negro é como Síndrome de Down: ou você tem, ou você não tem. Fui apresentado ao melhor – ou pior, depende do ponto de vista – do humor negro por dois amigos da faculdade de Jornalismo que têm, obviamente, o lugar garantido no inferno; Deus não tolera este tipo de piada no céu. A não ser que você contribua com os seus 10% mensalmente, claro... (by Edir Macedo)

O humor negro passou a ser mais frequente, imagino, com o fim da ditadura e o período em que passou a vigorar a liberdade de expressão: a princípio, neste país, você pode emitir qualquer opinião livremente – e ser processado pelo que disser, mas, enfim. Com esta liberdade assegurada, este tipo de humor passou a estar presente em nosso cotidiano pelas mais variadas formas. Até em cantada, vejam só, já existe humor negro. “Gata, se esta pista de dança fosse um tabuleiro de xadrez, você seria a rainha!”. “Que fofo! Por quê?”. “Por que estou louco para te co...”. O que define se o rapaz se dará bem ou não com a cantada é o fato de a garota gostar ou não de humor negro. Talvez o fato de ela ser ou não safada também influencie... Bem, talvez seja só isto.

O humor negro está presente, ainda, na televisão, em programas como o Pânico na TV, da Rede TV!, e como o CQC (Custe o Que Custar), da Band – que trouxe para a telinha humoristas que já praticavam este tipo de humor no stand-up comedy, tipo de apresentação na qual o humorista ou comediante aparece de cara limpa, sem fazer personagens, e começa a “contar causos”. E é sobre esta invasão do humor negro à televisão que eu gostaria de falar...

Rafinha Bastos, Marcelo Tas e Marco Oportunista Luque
O episódio aconteceu há quatro semanas. Durante o CQC, programa transmitido às segundas-feiras à noite, a cantora Wanessa Camargo foi mencionada. Marcelo Tas, um dos três homens que compõe a bancada, cita que a filha de Zezé di Camargo estava linda no quarto ou quinto mês de gravidez – não com a entonação de uma mulher em um salão de beleza pintando as unhas, veja bem; da forma, sim, como um homem se referiria a uma mulher durante a terceira rodada de cerveja em um bar. Eis que surge o humorista Rafinha Bastos, outro integrante da bancada, e ao melhor estilo “humor negro na roda de boteco” finaliza o assunto: “Eu comeria ela e o bebê”. Parte da plateia ri, o assunto muda, termina o nosso flashback.

Essa pelo menos não engravida, né, Ronaldão?
Dias depois Rafinha Bastos foi afastado pela cúpula da emissora, que decidiu retirá-lo da bancada do programa como forma de punição pela piada. Antes disto, Ronaldo – o craque da camisa número 9 e o eterno ex de Milene Domingues, Daniella Cicarelli e Andréia Albertini – telefonou para a Band para reclamar da piada feita. Ronaldo é amigo e sócio do marido de Wanessa, Marcus Buaiz. Marco Luque, o terceiro integrante da bancada do programa, também soltou na imprensa uma nota de repúdio à piada feita pelo colega de CQC, em apoio ao casal, de quem diz ser amigo – além, “claro”, de ser contratado pela empresa de Buaiz para fazer propaganda para uma operadora de celular.

O ocorrido nos leva a pensar sobre diversas questões, como liberdade de expressão – a favor de Rafinha Bastos – e responsabilidade ética, moral e bons costumes na TV – contra. A piada de Rafinha Bastos foi um cocô? Foi. Não porque era de humor negro, mas porque foi ruim mesmo. Foi uma espécie de “humor negro sem humor”. E você sabe, quando só fica negro...

O humorista é adepto confesso deste tipo de piada. Sempre usou em apresentações de stand-up antes de ser contratado pela Band. Era óbvio que, mais cedo ou mais tarde, faria humor negro e desagradaria parte do público – a que não é tão chegada ao estilo, especificamente. A piada foi ruim, mas ainda assim era uma piada. Quem gosta de humor negro, rindo ou não, achou normal; quem odeia, além de não gostar, se ofendeu. A diferença é esta, e só esta, leitor. Você vê? Acredito que sim. Até porque coluna de jornal não é feita para cegos...

PS: Sim, este texto contém humor negro de cabo a rabo, mas não se preocupe: pagarei meus 10%.

Agora, com vocês, uma música com humor negro...



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 18 de outubro de 2011.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Quando era criança

Popeye fumava até em lugares fechados na minha época
Eu fui criança por muito tempo. Durante toda a minha infância, mais ou menos. As coisas eram bem diferentes naquela época – que acabou há uns 10 ou 12 anos. O Estado permitia que os pais dessem palmadas nos filhos. Não havia bullying – a denominação, no caso. A Laranjinha Água da Serra custava R$ 0,30. O SBT viva exibindo Chaves. Bem, ainda vive. A Manchete existia. A Record ainda era uma emissora pequena, e não uma “TV universal”. A Sessão da Tarde passava filmes dos Trapalhões. Os personagens de desenhos da Disney e da Warner apareciam fumando! Os meninos brincavam com réplicas de armas de fogo, e nenhum aluno matava outro nas escolas por influência de jogos.

As crianças não sabiam usar o Word e – Jesus! – não havia internet. As pesquisas eram feitas nas bibliotecas, e não no Google, e todo estudante conhecia o que era Barsa. Os pais sabiam onde os filhos estavam sem ter que recorrer ao telefone celular. Havia piolho. Subíamos em árvores. Usávamos estilingues. Soltávamos pipas. Malhação ainda se passava em uma academia, e o título do seriado fazia sentido. André Marques era magro... Dengue era só um bicho da Xuxa – que naquela época fazia programas com audiência e ainda por cima pegava o Senna, a danada.

Yes, eu tive TV CRUJ e Doug Funny na infância!
É engraçado que as palavras “quando era criança”, ordenadas exatamente deste modo, geralmente vêm acompanhadas de algo como “tudo era diferente”. A geração anterior sempre acha que a seguinte não teve infância, se é que isto é possível. Meus pais acham que eu não fui feliz como eles foram por nunca ter andado de rolimã ou jogado pião – consulte o dicionário, caso preciso. O mais estranho é que eu acho que esta atual geração também não pode ser tão feliz como foi a minha. Estas crianças nunca andaram de roller, de patins ou de patinete; não jogaram bolinhas de gude, Tazo ou bafo com santinhos de políticos; nem imaginam o que é Mário Kart e nunca viram Castelo Rá-Tim-Bum, Glub-Glub ou TV CRUJ (Comitê Revolucionário Ultra-Jovem).

Isto já foi muito, muuuuito legal
O fato é que acreditamos que as crianças da geração seguinte não são felizes como fomos justamente porque aquilo que nos fez feliz já não existe mais, foi superado por novas tecnologias, brinquedos e brincadeiras. Um Nintendinho não tira o menor sorriso de um menino que cresceu com PlayStation e Nintendo Wii. Mas isto não quer dizer que não seja divertido: só quer dizer que o mundo atualizou-se. Só quer dizer que o tempo passou para nós. Só quer dizer que estamos velhos, e temos que aceitar o fato de que uma criança de 5 anos aprende mais rapidamente a lidar com um iPhone do que nós, a geração que o criou.

Às crianças, se eu pudesse dar apenas uma dica, diria o seguinte: use filtro solar. Os benefícios a longo prazo do uso de filtro solar estão provados e comprovados... O.k., a pombagira do Pedro Bial já passou. Se eu pudesse dar apenas uma dica às crianças mesmo, de verdade, diria o seguinte: divirtam-se. O tempo nesta fase parece ser muito longo, os anos parecem passar devagar, mas é um engano; quando você menos esperar, acabou o ginásio, digo, a 8ª Série, digo, o 9º Ano – Deus, como estou velho! Aí você vai ver que aqueles três anos do Ensino Médio vão passar voando, aqueles quatro ou cinco da faculdade vão ser ainda mais rápidos e você terá que assumir todos os compromissos, carnês e contas que comprovam que, sim, você já é um adulto. Quando você se der conta, talvez perceba que nunca teve um dia de “Curtindo a Vida Adoidado”, ou nunca fez uma festa ao melhor estilo “American Pie”,
Onde é que a gente compra um destes?
e talvez perceba que aos amigos que jurou jamais se separar não cumpriu com a promessa; os caminhos os levaram a destinos longínquos uns dos outros. Talvez você se pegue em meio a uma coluna de jornal falando disto tudo e sentindo saudade, palavra maldita que infelizmente existe nesta língua. Talvez você queira voltar no tempo, mas acabe por aceitar que seu carro não pode ir rumo ao passado para depois ir de volta para o futuro. Sei que você que ainda não completou duas décadas não entendeu o trocadilho. Aliás, talvez não tenha entendido nada... Mas, daqui a uns anos, mais velho, vai perceber que, quando era criança, tudo era diferente.

Se tem uma coisa que eu aprendi por não ter que lavar roupas na minha infância, é o seguinte: se sujar, faz bem

PS: Quando era pequeno, isso existia:



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 11 de outubro de 2011.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

O mito que criou-se em torno da TPM

Alerta: mulher com intenções duvidosas
Existe um velho mito, repassado de geração em geração, que há tempos me incomoda. O desconforto causado pela afamada lenda começou por volta de meus 12 anos, quando, uma a uma, minhas colegas de aula começaram a ficar “mocinhas”. Na coluna de hoje, gostaria de por um ponto final na questão: a velha história de que a Tensão Pré-menstrual (TPM) afeta as mulheres. Que bobagem... A TPM afeta, mesmo, os homens.

O amigo leitor que convive diretamente com ao menos uma mulher em casa ou no trabalho já entendeu aonde quero chegar. As feministas mais radicais não alcançaram este segundo parágrafo. As mulheres que, por coincidência, estão na fase que antecede a menstruação prosseguiram com a leitura só a fim de ter mais embasamento para me dar um tiro na próxima esquina. Mas é importante a discussão. Feito meu testamento, avanço com a teoria.

As mulheres não sofrem com a TPM, quem sofre são os homens. Veja bem, a mulher tem todo o direito de ficar – por um período que pode ser superior a uma semana... – impaciente, depressiva, intolerante, inquieta, revoltada, indisposta, chateada, intocável, carente, triste, insuportável, feia no espelho, gordinha no espelho, quebrar o espelho, chata de galocha de verdade. Os homens, não. E mais – e é aqui que a teoria ganha força: a nós cabe apenas compreender e aceitar. Tão somente isto!

Ahnnn?! Ele desligou primeiro?! Mas que filho da...
Se para tudo na vida há um propósito estabelecido por Deus, a TPM foi criada pelo capeta. Só mesmo o diabo do satanás poderia ter planejado algo tão infeliz – a nós, homens. Há que reconhecer, todavia, a importância da Tensão Pré-menstrual para a humanidade. Thomas Edison criou a lâmpada pelo medo que sentia de ficar em casa no escuro com a própria mulher. Alexander Graham Bell bolou o telefone a pedido de uma namorada com fortes crises de TPM, a qual queria saber quem desligava primeiro. Mark Zuckerberg, por sua vez, inventou o Facebook só para admitir, publicamente, que estava “em um relacionamento sério”. E assim, bem como nossos semelhantes, vamos nos submetendo às vontades delas...

PORRA, Palocci, O QUE FOI? Como, nada? Sei...
Pesquisadores britânicos iniciaram uma pesquisa só com mulheres em estado de Tensão Pré-menstrual. Não há registro de sobreviventes em tal laboratório. Já nos Estados Unidos um estudo feito em um presídio feminino teve êxito – com elas enjauladas, ficou mais fácil. Os cientistas descobriram que 50% das presas haviam cometido crimes no período pré-menstrual. Percebe-se que já há um consenso em reconhecer que estes dias que antecedem a menstruação afetam realmente as mulheres. Na Inglaterra, a TPM pode servir de atenuante à pena de uma criminosa; o próximo passo é a comunidade acadêmica reconhecer o atenuante para a pena do homem que mata uma mulher em TPM, afinal ele também estava sob pressão. Ainda não há projetos de lei neste sentido tramitando no Congresso Nacional, apesar da relevância do tema. O problema é o medo causado pela TPM da presidente Dilma Rousseff – a qual parece durar o mês todo.

Os atuais esforços de grupos científicos espalhados pelos quatro cantos deste mundo redondo consistem em reordenar o significado das siglas para TPM. Entre as opções já sugeridas pelos pesquisadores, temos: Todos os Problemas Misturados; Tempo Para Meditação; Toda Problemática no Momento; Total Paranóia Mental; Totalmente Pirada e Maluca; Tente no Próximo Mês; Tô Pirada Mesmo; Tendências a Patadas e Murros; Tocou, Perguntou, Morreu; Temporada Proibida para Machos; Tô Puta Mesmo; Tendência Para Matar; Tire as Patas, Moleque; Tenha Paciência, Meu; Tira a Porra da Mão! O nome ainda não foi definido, mas os pesquisadores nunca mais voltaram para casa.

Ops... Ai, como tô bandida!
Não há método comprovado cientificamente para um homem combater com sucesso uma Tensão Pré-menstrual, mas ao longo da vida aprendi algumas coisas. 1º) Não faça perguntas tolas; aliás, não faça perguntas. 2º) Jamais responda com “não sei”, “talvez” ou “tanto faz”; ou você usa a afirmativa “sim”, ou você usa a afirmativa “não”. 3º) Acerte a afirmativa. 4º) Ligue sempre, mesmo sem ter nada para falar. 5º) Jamais fique sem falar nada ao telefone, você não gosta de conversar com ela? Por que você ligou? Você não a ama mais, cretino? 6º) Nunca desligue primeiro. Talvez, mesmo com todos estes esforços, nada dê certo. Por via das dúvidas, tenha sempre chocolate por perto.

PS: Agora, com vocês, uma música sobre TPM...



PS: Por fim, uma história real sobre um dia de fúria...



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 4 de outubro de 2011.