terça-feira, 13 de agosto de 2013

É cedo ou tarde demais?

Hasta la vista, baby!
Eu nunca fui muito bom para terminar relacionamentos. Nunca. Sou do tipo de cara que acorda com alguém na cama depois de uma festa e namora três meses com esta pessoa só por não saber como dar fim ao caso. É o medo de chegar na lata e falar: “Gilberto, a gente precisa conversar...”. O quê, não é comum despertar ao lado do leão de chácara da zona? Não? Ok, vamos adiante.

Também nunca fui muito bom em definir quando algo deve chegar ao fim. A garrafa de vodka, por exemplo. Até porque vodka ou água de coco, pra mim, tanto faz. Falando assim até parece que sou algum tipo de beberrão crônico. Besteira. Nunca tive problemas com a bebida. Só com a Polícia.

Mentira. Não sou do tipo que bebe todo dia. Mas um velho ditado afirma que não se faz amigos tomando leite. Já foi até comprovado que em algumas pessoas o ato de mamar gera certa intransigência persistente durante toda a vida. É o que chamam popularmente de intolerância “à lactose”. E, sim, esta foi apenas uma piada ruim.

Eu também tenho uma dificuldade enorme em dizer não. Sim. Qualquer pessoa com alto poder de convencimento consegue me persuadir. Minha irmã de onze meses de idade, por exemplo. Uma mente brilhante aparentemente inofensiva que vicia qualquer adulto Ph.D nas músicas da Galinha Pintadinha. Basta que ela ameace um chorinho pra que eu atenda todos os seus pedidos – um prolongamento da voltinha na rua ou a 437ª ida até o brinquedo que ela decidiu jogar ao chão.

Também preciso estar atento a tudo. Especialmente com as mulheres. Minha namorada é capaz de estourar o meu cartão de crédito e durante a discussão me fazer sentir culpado. “Tudo bem, benzinho, você precisava mesmo daquelas três bolsas novas...”. Claro que precisava. Meu limite é que é baixo!

Meus pais são outros que sempre conseguem me fazer sentir culpado. Por coisas simples, como não lavar a louça ou esquecer de religar o marca-passo da vovó. Mas o que mais os incomoda mesmo é minha ausência em datas especiais, fins de semana e feriados. Fico me perguntando se a formatura não bastou para que eles entendessem que eu havia me tornado um jornalista...

Você talvez já tenha percebido, querido leitor: estou enrolando. Preciso retomar o pensamento. Sempre tive dificuldade em colocar pontos finais. Vírgulas e reticências são mais fáceis. Você não precisa encontrar uma frase de efeito, não se preocupa em deixar uma boa impressão na saída, ainda não tem que encontrar as chaves na bolsa. Tudo é mais simples.

Vamos direto ao ponto: esta é minha última coluna no Jornal Sem Censura. Há muito tempo ando sem muito tempo. Basta ver pelos textos publicados neste espaço. Sempre tentei ser original e nos últimos meses acabei virando uma repetição de mim mesmo. Você, leitor, merece mais do que colunas republicadas. E não posso oferecer isto agora. Assumi compromissos que me impedem de revisitar este meu passatempo tão querido.

Agradeço pelo espaço dado. Não é todo jornal que tem coragem de abrir caminho para qualquer devaneio – sem nunca questionar a linha editorial, vale ressaltar. E foi exatamente por esta coluna que ganhei muito, muito Prestígio. E também Chokito e alguns Diamantes Negros, todos deliciosos.

Em alguns comentários favoráveis aos textos, cheguei a ouvir o absurdo da comparação ao mestre Luis Fernando Verissimo. Blasfêmia. Ainda preciso comer muito arroz com feijão, beber muita Catuaba e decorar o Aurélio de traz pra frente e de frente pra adiante pra chegar aos pés do gaúcho. Ainda que eu também seja gaúcho e isto crie uma certa relação homoconterrânea.

Ivan Lessa, ao se despedir da Playboy, contou que sempre escreveu os textos nu. E suando em bicas. A verdade é que sempre estive mais para Ivan Lessa do que para Luis Fernando Verissimo. Entenda como quiser. E se ainda não pareceu, pela minha dificuldade em por fim a tudo, isto é um adeus, Gilberto.

PS: Agora, com vocês... adivinhem... adivinhem! Pois é:



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 26 de fevereiro de 2013.