terça-feira, 30 de agosto de 2011

Quem é feliz neste mundo cão?

Freud com cara de delicinha...

Sigmund Freud dizia – o homem já morreu – que apenas somos felizes em tempo integral na mais tenra idade. Somente na infância, nos primeiros anos de vida, poderíamos experimentar deste doce beijo que se chama felicidade. E “como é doce o beijo quando vem da sua boca, dá uma vontade de levar você comigo”.

A teoria de Freud, a mim, até faz sentido. Para os bebês, tudo é novo, e o novo sempre fascina e, logo, nos deixa felizes. Esqueçam toda a parte na qual Freud fala do transtorno da menina por não ter pênis ou do sofrimento do filho homem ao saber que a mãe não tem amor apenas por ele e, pior, ainda faz sexo com aquele barrigudo nada atlético que é seu pai. Balela. As crianças são felizes com sinceridade porque ainda estão experimentando o mundo. Experimentando mesmo. Comem areia, papel, bolas de gude, fezes de gato... enfim. Não fossem os bebês, jamais teríamos a expressão “gosto de guarda-chuva na boca”.

Ainda não entendeu, amigo leitor? Tudo bem, culpa minha. Dei voltas e mais voltas e ainda não desenvolvi o tema. Problema masculino, criado pelas mulheres. Ao longo dos anos, pediram tanto para que não fossemos “direto ao ponto”, que perdemos para sempre a localização do G. A gente sabe que está lá, mas onde...

O.k., como dizia, os bebês são felizes porque, até então, nada conhecem. É por isso que bebê tem aquela cara babaca de turista em cidade nova. Repare. O ônibus da excursão para, todos descem e logo os novatos passam a apontar para as coisas com os indicadores, com a boca aberta e aquela cara de “dããã...”. Só falta o sorvete na testa. Bebê é feliz em tempo integral porque, recém-saído do útero, qualquer besteira – incluindo as fezes de gato – é novidade. Turista também é feliz, mas só até pegar a BR-101 de volta para casa...

Cazuza, por sua vez, dizia, ou melhor, cantava, que só as mães são felizes. Em partes, discordo. Lembro-me que minha mãe não ficou feliz quando, com uma tesoura, cortei – modo de dizer; destruí – meu próprio cabelo pela terceira vez quando era pequeno. Também não ficou feliz quando xinguei a empregada lá de casa. Eu saberia instantes depois que ela havia se entristecido comigo. A Havaiana contou à minha bunda. Chorei de dor. Por tê-la decepcionado, claro.

Cão chupando manga
Bem, já temos Freud e Cazuza. Dois loucos e duas teorias. Freud cita os bebês e, Cazuza, as mães. Não sou corinthiano, mas junto-me ao bando de loucos. E com minha própria teoria, que acabei de criar neste fim de semana chuvoso: só os cachorros são felizes. Te preparas que lá vem a tese. Dá uma de cão, e chupa essa manga...

Os cães, salvo raras exceções que incluem estrelas de TV e farejadores de drogas em aeroportos, não trabalham. Os cães não têm contas para pagar. Os cães não precisam escovar os dentes para ter saúde bucal. As esposas dos cães não reclamam quando eles não tomam banho depois de correr horrores atrás de uma bola ou de um carro – até os acham mai sexy, penso. As esposas caninas, por sua vez, podem ficar tranquilas, porque sabem que os maridos não vão dar mole para nenhuma gata metida a besta. E elas sempre recompensam os bofes, agindo como verdadeiras cadelas na cama. Maravilha.

Bem, de modo geral, os cachorros são felizes porque se contentam com pouco. Quando você tem um cão, ele sempre te recebe com prazer na hora do seu retorno para casa. Você pode ter bebido a noite toda, chorado abraçado com um mendigo e amanhecido na Delegacia com o Beto, o Cabeça e o Pedrão: você vai chegar em casa e só vai ter que arremessar uma bolinha três vezes para que seu cachorro volte a te amar como nunca. Tente fazer o mesmo com a sua mulher... E me mande um e-mail caso tenha chegado vivo à segunda tacada.

Devíamos nos espelhar nos cães, felizes todo dia. E não pense que cão não tem motivos para sofrer. Quem já viu medirem a temperatura do bichinho com um termômetro, sabe o que digo... Nem avisam o coitado. Mas cachorro é legal, logo esquece. Bastam três jogadas de bola. Jamais tente resolver da mesma forma no caso de ter colocado o “termômetro” do mesmo modo na sua mulher sem aviso prévio. Ela nunca entenderia. Neste mundo cão, só mesmo os cachorros são felizes.



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 30 de agosto de 2011.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

E a novela segue...

Norma, a da novela, sujando o tapete da sala
Quem matou a Norma? Você já sabe. Você até já sabia antes da última sexta-feira, mas provavelmente esqueceu. Pois bem, quem matou a Norma Culta da Língua Portuguesa foi o Ministério da Educação (MEC). A polêmica começou em maio, está lembrado, amigo leitor? Não sou Tang, mas te refresco – a memória, no caso. Dizia um trecho do livro “Por uma Vida Melhor”:

“É importante saber o seguinte: as duas variantes [norma culta e popular] são eficientes como meios de comunicação. A classe dominante utiliza a norma culta principalmente por ter maior acesso à escolaridade e por seu uso ser um sinal de prestígio. Nesse sentido, é comum que se atribua um preconceito social em relação à variante popular, usada pela maioria dos brasileiros”.

Vejas bem tu que me lês, ó, prestimoso amigo da coluna. Esta citação pela qual teus olhos caminharam soa profana a meu ser. Ou, como escreveria a classe não dominante, ou, ainda, dominada, ‘cuanta sacanage’. Ao que parece, querem privar o pobre do direito da língua culta e, pior, fazer com que ele ache que está tudo bem. Afinal, corrigir uma frase mal pontuada pode ser “preconceito social”. Opa, eu disse pontuação? Perdão. O buraco é mais embaixo. Quis dizer concordância:

Ministro da Educação, Fernando Haddad, indicando o local onde enterrou a Norma... isso, aí no parágrafo de baixo
“‘Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado’. Você pode estar se perguntando: ‘Mas eu posso falar ‘os livro?’.’ Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico. Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever, tomando as regras estabelecidas para a norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas. O falante, portanto, tem de ser capaz de usar a variante adequada da língua para cada ocasião”.

Fosse eu o autor do livro, diria o seguinte... “Você pode estar se perguntando: ‘Mas alguém pode deixar de me contratar em uma grande empresa por eu falar ‘os livro?’.’ Claro que pode! Ou talvez pode estar se perguntando: ‘Eu posso ter que trabalhar de sol a sol por um salário de miséria que só paga a minha cachaça por falar ‘os livro?’.’ Claro que pode! Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ter que começar a praticar assalto a mão armada para alimentar ‘as criança’. A culpa é da classe dominante. Ou, melhor dizendo, do ‘sistema’, tá ligado?”.

Uma pena que não fui eu o autor desta obra, acho que teria vendido bem mais. Mas aí, também, não seria o livro de cabeceira do Lula e de demais companheiros, companheiras e presidentas, parentas e outras mulheres decentas. É óbvio que se a classe mais pobre – desculpe, pobre é ofensivo; mais necessitada – não tiver acesso à Norma Culta o carimbo de “não dominante” sempre acompanhará os novos filhos que deste ventre sair. E benza Deus, como faz filho esta gente!

O que mais me indigna nisto tudo é a parte que cita o “preconceito linguístico”. Hoje em dia tudo é preconceito, credo! Contar piada é um dilema. Foi-se o tempo que dava para dizer que loira era burra, que padre pegava coroinha, que gaúcho era gay e, o pior, que gay era gay. Eu sou do tempo em que bullying era onde a gente fazia o caféllying. Agora tudo é preconceito, preconceito, preconceito... E nessa onda do politicamente correto, para mim o pior preconceito mesmo é aquele em que não se respeita piada.

Resumo da ópera para você, ‘dos livro’. Não deixe que o Ministério da Educação o deseduque. Corre atrás, filho. Se é a classe A e B quem mais fala pela Norma Culta e você quer sair da miséria, por que diabos você não se esforça para falar da mesma forma? Caso o seu plano seja ganhar na Mega-Sena, ignore a recomendação, mas, se não for o caso, estude. Devore ‘os livro’ até que eles virem ‘os livros’. Não sabe como começar? Comece a parar de se importar com a Norma de Insensato Coração e passe a se preocupar com a Norma Culta, esta que querem que você esqueça. Machado de Assis era negro e pobre, e não esperou que a “classe dominante” lhe oferecesse cotas universitárias para virar um dos maiores escritores da Língua Portuguesa. E você, está esperando o quê?

Ah, e antes que eu me esqueça, só mais uma dica sobre o assassinato da Norma: na novela, foi a Wanda.


Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 23 de agosto de 2011.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Papai, te amo

Eu sou homem. Sou gaúcho, sou são-paulino, já fui coroinha, mas, sim, sou homem. E homem que é homem, depois de certa idade, não chama outro homem de “papai” – isso se ele quiser ter o respeito de seus pares, pelo menos. Os machos que nos colocaram no planeta tratamos por “meu velho”, por “coroa” ou, no máximo, por “pai”, quando queremos receber a mesada. Não que algum dia eu tenha recebido mesada, óbvio. Meu pai era mais adepto à cintada. O mérito, todavia, é semelhante para ambos os prêmios: quanto mais você reclama, mais mesada ou cintada ganha. Tudo depende do pai.

Brincadeiras a parte, meu pai só bateu em mim quando eu era pequeno uma vez – se algum conselheiro tutelar estiver lendo, isto não é uma denúncia, ok? – e, honestamente, não me lembro o porquê. Mas, como foi só essa vez, percebe-se que ele não era violento e, logo, aquele gordinho safado que eu era devia ter merecido mesmo aquela surra. Fora isso, ele também me atirou pela janela uma vez. Defenestrou-me, como saberia mais tarde por Luis Fernando Veríssimo. Conselheiros tutelares, por favor, também não quero fazer denúncia sobre isto, que coisa!

Tudo era brincadeira. “Vou jogar... vou jogar... vou jogar...”. Jogou. Na quarta vez, escorreguei de seus braços e saltei para fora de casa pela janela. O vizinho da frente passou por três meses de análise por conta da cena. Mas, também, não é todo dia que se vê uma criança voar. Daiane dos Santos que me perdoe, mas fui o primeiro a efetuar com perfeição o duplo twist carpado. E, com relação ao meu velho, não há remorso: só mesmo um pai para nos mostrar o tamanho de nossas asas.

Me lembro que, quando era pequeno e meu pai tinha 30 anos, achava ele muito velho. Hoje percebo que, na verdade, eu é que era muito novo. Tenho 22 anos e, na Copa do Mundo de 2022, já serei tão idoso quanto meu pai fora para mim um dia. Está longe? Que nada. Se fosse longe mesmo, a Fifa não estaria escolhendo desde já a sede daquela Copa. Meu pai tem 42 anos. Hoje eu acho que ele está um pouco velho, mas, quando eu chegar aos 30, vou perceber que eu é que era muito novo agora.

Se Deus existe mesmo, ele é um ser muito esperto. Ladinão, mesmo. O Cara Lá de Cima – ouvi muito Lua de Cristal, desculpe – soube exatamente que precisaríamos de alguém para nos colocar um pouco de tino na mente nos primeiros anos de vida e lá pôs nossos pais. Mãe é colo, pai é papo cabeça e os dois são chineladas na bunda. Ainda bem que podemos contar com eles.

Já que eu falei em mãe, coitada da minha. Meu pai e eu promovíamos guerra de almofadas na sala, disputas de vôlei com balão dentro da cozinha, campeonatos de “futebol vale-tudo na chuva” no pátio... As roupas, ela lavava. A cozinha, ela arrumava. A sala, que se dane! Quando chegava lá, a mulher já estava nos xingando em alemão e não queria mais nada com a vida. Perturbamos... E como era bom!

Lembro de um tempo em que meu pai ficou desempregado. Eu adorava ter o velho por casa por dois motivos. Primeiro: não sabia, na época, que precisávamos de dinheiro. Segundo: eram mais oportunidades para guerra de almofadas, para disputas de vôlei com balão e para “futebol vale-tudo na chuva”. Era muito pequeno e não recordo-me, mas possivelmente minha mãe tenha aderido aos antidepressivos durante aquele período.

Quando chegou a minha adolescência, meu herói da infância virou somente um homem. Depois, um careta. Depois, um mala. Aí a gente vai crescendo... E o mala virou um careta e, agora que passou mais um tempo, ele virou de novo um homem. Somente um homem. Mas é o mais importante da minha vida e, sei, chegará o dia em que o verei como herói de novo. É sempre assim...

Quando eu era um garoto de 14 anos, meu pai era tão ignorante que eu mal conseguia suportar ficar perto daquele senhor. Mas, quando completei 21, fiquei estarrecido com quanto ele havia aprendido nesses sete anos. (Mark Twain, 1835-1910, escritor americano)

“Depois de grande”, homem nunca sabe o que dizer em Dia dos Pais. Tolos, somos. Em qualquer fase da vida, mesmo na fase da convivência mais turbulenta, basta um abraço. Em seguida tudo pode voltar ao normal, mas, naquele momento, você se sente protegido como nos velhos tempos pelo herói de antigamente. Dá até vontade de voltar a ser criança, só para dizer: “Papai, te amo”. Certas coisas, nunca mudam.




Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 16 de agosto de 2011.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Mamando na tetinha

Se há uma coisa que o Governo brasileiro pode se orgulhar é da teta – vulgo seio. As tetas de Brasília estão para os bebezões beberrões corruptos como as latas de NAN estão para as crianças de colo. É uma nutrição que, olha, benza Deus. O tetão de Brasília faz muita mulher fruta abandonar o decote quando chega na rodoviária da Capital Federal – motivadas pela concorrência desleal, claro. É leite que não se acaba, minha gente. De onde sai todo o precioso líquido, parece que tem muito mais – e cada vez surgem mais interessados em fazer uma boquinha. E olha que a nossa sorte é que a presidente é a Dilma Rousseff, porque, se fosse a Marcela Temer, haveria bem mais pessoas querendo mamar nas tetas do Governo. Compare:



A vice-primeira-dama, ao que parece, entretanto, não faz questão de tomar as rédeas do poder. Só quer mesmo é cuidar do maridão 43 anos mais velho, Michel Temer. Como é bonito ver o amor verdadeiro, né?

A bola da vez é o Ministério dos Transportes, alvo de inúmeras denúncias de corrupção. Toda semana sai uma denúncia nova publicada pela Veja – não que esta seja uma revista partidária (risos). As demissões estão ocorrendo em uma velocidade tão alta que até faz falta uma blitz da Polícia Rodoviária Federal nos Transportes. O bafômetro nem precisaria levar, já que Lula deixou a Presidência ano passado.

Honestamente? Não sei se sobra alguém. É tanto ladrão de dinheiro nessa pasta que, em mim, o pessoal do Santa Augusta já nem mete mais medo. Até porque o pior tipo de bandido é aquele que a gente não pode identificar. Sem cicatrizes no rosto, marcas de tiro no abdômen e corações tatuados no braço com o nome da mãe, fica difícil de a gente saber quem é criminoso ou não em Brasília. E a teta segue nutrindo...

O pior é que ninguém faz nada. Eu, se fosse “O Justiceiro” de Balneário Arroio do Silva, nem perdia meu tempo com peixe pequeno. Para que se incomodar com a morte de um Zé Ninguém, se você pode se incomodar com a morte de um Zé Sarney, por exemplo? Mas cada um faz a sua escolha, sempre digo.

Como quem não chora não mama, o jeito é a corja do Congresso toda apelar para o berreiro. Sem o leite quente – leia-se propina –, os projetos simplesmente não andam na Casa que, sejamos francos, poderia chamar-se Zona. E cada novo faz-me rir me faz chorar...

O problema do Brasil é que aqui é a terra do malandro. É tudo no jeitinho. Fura-se fila de banco, fura-se sinal vermelho e, pior, fura-se até olho de amigo, como já nos evidenciou o poeta Roberto de Souza Rocha, mais conhecido como Latino. É um fura-fura que deixa um tico-tico no fubá no chinelo. E, na terra da boêmia, o bom malandro não mora no morro, está em grandes latifundiários contabilizando votos em troca de migalhas. Em tempo: aquele que se acha esperto, é sempre passado para trás.

A situação é tão grave, amigo leitor, que se gritar pega ladrão, meu irmão, só fica mesmo o Garibaldi Alves. Senador com consciência tranquila? Que nada. Com 87 anos, ninguém escuta mais coisa nenhuma. E assim o leite das tetas do Governo segue correndo, alimentando os filhos da Zona... Todos filhos da proprietária. Desculpe-me pela revolta. Deve ser intolerância à lactose.



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 9 de agosto de 2011.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Ainda estou vivo

A semana foi de muita expectativa para os leitores da Devaneios. Semana passada, neste mesmo espaço, alertei sobre a possibilidade de a coluna, sucesso de público e crítica lá em casa, não chegar à segunda semana. Tudo dependia das negociações que eu teria ao longo dos próximos sete dias com a minha namorada. E quem é homem sabe: negociar com mulher nem sempre é fácil. Ainda mais se houver o agravante de a sua mãe ter por costume apoiar esta mulher. É preferível intermediar o conflito entre Israel e Palestina ou, sei lá... ter os testículos presos pela porta do carro. Mas, para o alívio geral, minha bela namorada não deu cabo de minha vida e todos os meus leitores – que já chegam a dois, pai e mãe, pelos meus cálculos – podem ficar tranquilos. Vamos lá.

Há três coisas que, depois de lançadas, jamais voltam; a primeira delas é a palavra dita; a segunda e a terceira coisa que jamais voltam, são a pasta de dente para o tubo e o coringa da cacheta. Concentremo-nos na primeira.

O poder das palavras na boca de um louco

Hitler, adorável desde a infância
A palavra tem poder. É por isso que dizem que, em terra de mudo, quem é gago é rei – ou quase isso. A maioria das pessoas não se dá conta do quanto uma frase mal dita pode se tornar maldita. “Vou acabar com a tua raça”, por exemplo, é um perigo. Na última vez que alguém disse isto no meio de uma briga na Alemanha, morreu mais de um milhão de judeus logo em seguida. Especula-se que o desentendimento tenha ocorrido durante uma partida de truco.

Ninguém dava muito crédito a Adolf Hitler, um baixinho de bigode estranho que deveria ter se chamado Adolfo se aquele dia no cartório
Acordando com cara de "poucos amigos"
não fosse plantão de Faulheit – que significa “vindo da Bahia”, em tradução livre. Mas aquele homem demoníaco fazia duas coisas como ninguém. O primeiro grande talento de Adolf era a oratória. O segundo, o chucrutes. Cozinhava um chucrutes que era uma beleza, o danado. Mas o segundo talento pouco lhe adiantou, já que só mesmo a Eva Braun para colocar a boca no chucrutes do homem.

Boca. O primeiro grande talento de Adolf. O alemão não tocava nada, mas vivia com a bendita no trombone. E agradava. Hitler falava de um modo tão magistral que prendia a atenção da plateia. Vocês imaginem só
Identidade de Adolfo Hitler
se ele não discursasse como um chiuaua no cio, o que não teria feito. Era um dom. Se tivesse vendido picolés no verão do Arroio do Silva, provavelmente a Geloko não teria quebrado. Uma pena.

O fato é que Adolf cumpriu o que prometeu ao judeu Jhony – a globalização dava os primeiros passos... – e tentou acabar mesmo com a raça dele. Para tal, com suas palavras, incendiou os alemães com o pretexto de que queria criar um povo superior, a chamada “raça ariana” – que desprezava os outros signos, exceto as mulheres quem eram Virgem. Ninguém sabe o que teria acontecido se o alemão vivesse por
Hitler discursando
mais alguns anos. Talvez tivesse conseguido levar adiante seu plano e matado todos os judeus, negros, e quem mais fosse bem dotado nesse mundo... Mas não teve tempo.

O povo tem sido bom para com ele. Mesmo com tantos motivos para ser execrado, Adolf hoje não é mais lembrado pela guerra, e sim pela paz: o bigodinho de Hitler virou sinônimo de um tipo de pomba. Mas o seu passado ainda lhe persegue. Não raro, Hitler e o seu bigode estão novamente tomados pelo sangue alheio. Carma.

Que Adolf Hitler era bom com as palavras, isso não podemos negar. Se as tivesse usado para o bem, seu poder de oratória poderia ter salvado milhões de vidas. Poderia ter se tornado o secretário-geral da Onu ou talvez, quiçá, o maior vendedor de Herbalife porta em porta
Hitler fazendo alongamento
do planeta. Mas Deus dá asas a quem não sabe voar, sempre digo – o que me deixa mais indignado ainda pelo fato de o bigodinho de Hitler ter virado pomba.

Adolf só não seria capaz de uma coisa, penso eu... Homem que era, duvido que fosse capaz de convencer Eva Braun do contrário quando esta tinha o apoio da mãe dele, a dona Klara Pözl. Mulher unida com sogra, nem a lábia de Hitler contorna.


Esta coluna contém informações não confirmadas em livros de história, como a parte do chucrutes; e, segundo os colegas da redação, muito humor negro – o que provavelmente deixaria Hitler, racista, bem chateado. Bem feito. Chupa, Hitler!


Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 2 de agosto de 2011.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Posso entrar?

Não fazia a menor ideia de como começar isso. A síndrome da folha em branco tinha que se abater sobre mim logo na primeira coluna? Deve ser o que chamam de sorte de principiante. Só que ao contrário. Um amigo sugeriu que eu deveria começar pelo começo. Que grande ideia, pensei! Enfim, um rumo. Logo, se deveria começar pelo começo, tinha eu que me apresentar. Acho justo. Não sou do tipo que entra sem pedir licença. Então espero, amigo leitor, que me deixes entrar. Ricky Martin, ex-Menudo, aconselharia: não se reprima.

Meu nome é Renam Meinen e sou jornalista formado. E não apenas isto; sou simplesmente o melhor jornalista que existe, comprovadamente. A pesquisa, encomendada por mim, foi feita e é divulgada pela minha mãe. A margem de erro é de todos os outros jornalistas para mais, ou para menos. De qualquer forma, amo o que faço mais do que Rufles com Coca-Cola. Ou seja: muito mesmo.

Completei a faculdade de Jornalismo no ano passado, e sinto falta do seio acadêmico. Mas quem não sentiria falta de um bom seio, não é? Me conformo. Sei que ainda há muito pela frente, estou no auge de meus 22 anos - o que me dá mais cinco anos de vida se minha mãe estiver certa e eu for mesmo um mito, tal como Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison ou Amy Winehouse. Mas no, no, no... (Está tão na moda falar da Winehouse que essa menina não morre tão cedo.)

Como ia dizendo, estou com 22 anos. É uma fase complicada da vida, na qual se descobre que, ao contrário do que se pensava na infância, você não pode ser tudo o que quer ser. Jamais poderei ser um avatar, por exemplo. O que me frustra, pois adoro azul. Hoje eu sei. Na verdade, minha ficha começou a cair mesmo quando me dei por conta de que jamais poderia pilotar a nave da Xuxa. Foi como se tivessem cortado meu cordão umbilical pela segunda vez; algo que parecia parte de mim, se foi.

Sou filho único. Há quem diga que é ótimo - inacreditavelmente, todos aqueles que têm irmãos. As teorias me divertem. "No Natal, todos os presentes são para você". "Você não tem que dividir a atenção com mais ninguém". "Suas roupas são só suas". A última, confesso, é a que mais me intriga. O fato de alguém pegar a "minha roupa" não faz com que a roupa não seja mais minha - do contrário, seria furto ou pior, roubo, caso praticado com violência. Em todo caso, não vejo problema em dividir o que tenho. A não ser que seja brigadeiro, mas aí também já é sacanagem.

Ainda sobre as outras afirmações, igualmente discordo. Se o filho do Eike Batista tivesse dez irmãos, acredito que ele ainda receberia mais presentes no Natal do que eu. Não que eu não tenha gostado da cueca bege que ganhei em 2010, longe disto – é brincadeira. Sobre "não ter que dividir as atenções"... é aqui que realmente me incomodo. Todo filho único sabe que, com mais atenção sobre os ombros, qualquer que seja o passo em falso lá estará mamãe ou papai com a "chinela" nas mãos. O que me faz lembrar que ainda não fiz minha carta de agradecimentos a Havaianas por suspender a fabricação do modelo feito com bambu e taquara. Só não consegui escapar dos modelos com tiras presas com prego, mas aí a culpa já não é da fabricante - era simplesmente uma customização do produto feita pela minha mãe, me diriam os franceses anos mais tarde.

Tenho uma namorada linda que não acredita e muito menos entende porque peguei mais um trabalho para fazer: a coluna. "Jornalista é assim, meu amor...", explicava eu, sobre a mira da espingarda cano duplo com numeração raspada. Resolvi falar dela para ver se a minha barra alivia. Se não der certo e eu não aparecer neste espaço na próxima semana, ao menos vocês já sabem de quem é a culpa.

Eu sempre quis ter uma coluna de opinião, e é isto que me motivou a escrever. Para ser franco, eu até já tinha uma coluna, e já tinha opinião, então só faltava mesmo juntar as duas coisas. Agora me parece o casamento perfeito – se é que se pode unir na mesma frase casamento e perfeição.

Neste espaço, mesclarei ideias e humor de quinta. Mas sempre às terças. Isso, é claro, se eu voltar na próxima semana. Só por garantia: caso algo aconteça, deixo tudo à caridade.

Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 26 de julho de 2011.