terça-feira, 9 de agosto de 2011

Ainda estou vivo

A semana foi de muita expectativa para os leitores da Devaneios. Semana passada, neste mesmo espaço, alertei sobre a possibilidade de a coluna, sucesso de público e crítica lá em casa, não chegar à segunda semana. Tudo dependia das negociações que eu teria ao longo dos próximos sete dias com a minha namorada. E quem é homem sabe: negociar com mulher nem sempre é fácil. Ainda mais se houver o agravante de a sua mãe ter por costume apoiar esta mulher. É preferível intermediar o conflito entre Israel e Palestina ou, sei lá... ter os testículos presos pela porta do carro. Mas, para o alívio geral, minha bela namorada não deu cabo de minha vida e todos os meus leitores – que já chegam a dois, pai e mãe, pelos meus cálculos – podem ficar tranquilos. Vamos lá.

Há três coisas que, depois de lançadas, jamais voltam; a primeira delas é a palavra dita; a segunda e a terceira coisa que jamais voltam, são a pasta de dente para o tubo e o coringa da cacheta. Concentremo-nos na primeira.

O poder das palavras na boca de um louco

Hitler, adorável desde a infância
A palavra tem poder. É por isso que dizem que, em terra de mudo, quem é gago é rei – ou quase isso. A maioria das pessoas não se dá conta do quanto uma frase mal dita pode se tornar maldita. “Vou acabar com a tua raça”, por exemplo, é um perigo. Na última vez que alguém disse isto no meio de uma briga na Alemanha, morreu mais de um milhão de judeus logo em seguida. Especula-se que o desentendimento tenha ocorrido durante uma partida de truco.

Ninguém dava muito crédito a Adolf Hitler, um baixinho de bigode estranho que deveria ter se chamado Adolfo se aquele dia no cartório
Acordando com cara de "poucos amigos"
não fosse plantão de Faulheit – que significa “vindo da Bahia”, em tradução livre. Mas aquele homem demoníaco fazia duas coisas como ninguém. O primeiro grande talento de Adolf era a oratória. O segundo, o chucrutes. Cozinhava um chucrutes que era uma beleza, o danado. Mas o segundo talento pouco lhe adiantou, já que só mesmo a Eva Braun para colocar a boca no chucrutes do homem.

Boca. O primeiro grande talento de Adolf. O alemão não tocava nada, mas vivia com a bendita no trombone. E agradava. Hitler falava de um modo tão magistral que prendia a atenção da plateia. Vocês imaginem só
Identidade de Adolfo Hitler
se ele não discursasse como um chiuaua no cio, o que não teria feito. Era um dom. Se tivesse vendido picolés no verão do Arroio do Silva, provavelmente a Geloko não teria quebrado. Uma pena.

O fato é que Adolf cumpriu o que prometeu ao judeu Jhony – a globalização dava os primeiros passos... – e tentou acabar mesmo com a raça dele. Para tal, com suas palavras, incendiou os alemães com o pretexto de que queria criar um povo superior, a chamada “raça ariana” – que desprezava os outros signos, exceto as mulheres quem eram Virgem. Ninguém sabe o que teria acontecido se o alemão vivesse por
Hitler discursando
mais alguns anos. Talvez tivesse conseguido levar adiante seu plano e matado todos os judeus, negros, e quem mais fosse bem dotado nesse mundo... Mas não teve tempo.

O povo tem sido bom para com ele. Mesmo com tantos motivos para ser execrado, Adolf hoje não é mais lembrado pela guerra, e sim pela paz: o bigodinho de Hitler virou sinônimo de um tipo de pomba. Mas o seu passado ainda lhe persegue. Não raro, Hitler e o seu bigode estão novamente tomados pelo sangue alheio. Carma.

Que Adolf Hitler era bom com as palavras, isso não podemos negar. Se as tivesse usado para o bem, seu poder de oratória poderia ter salvado milhões de vidas. Poderia ter se tornado o secretário-geral da Onu ou talvez, quiçá, o maior vendedor de Herbalife porta em porta
Hitler fazendo alongamento
do planeta. Mas Deus dá asas a quem não sabe voar, sempre digo – o que me deixa mais indignado ainda pelo fato de o bigodinho de Hitler ter virado pomba.

Adolf só não seria capaz de uma coisa, penso eu... Homem que era, duvido que fosse capaz de convencer Eva Braun do contrário quando esta tinha o apoio da mãe dele, a dona Klara Pözl. Mulher unida com sogra, nem a lábia de Hitler contorna.


Esta coluna contém informações não confirmadas em livros de história, como a parte do chucrutes; e, segundo os colegas da redação, muito humor negro – o que provavelmente deixaria Hitler, racista, bem chateado. Bem feito. Chupa, Hitler!


Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 2 de agosto de 2011.

2 comentários:

  1. Renam sempre surpreendendo! Não há uma única vez q ele falha! Texto incrível! Tá ai um talento que merece ser reconhecido por todos ;)

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