terça-feira, 2 de agosto de 2011

Posso entrar?

Não fazia a menor ideia de como começar isso. A síndrome da folha em branco tinha que se abater sobre mim logo na primeira coluna? Deve ser o que chamam de sorte de principiante. Só que ao contrário. Um amigo sugeriu que eu deveria começar pelo começo. Que grande ideia, pensei! Enfim, um rumo. Logo, se deveria começar pelo começo, tinha eu que me apresentar. Acho justo. Não sou do tipo que entra sem pedir licença. Então espero, amigo leitor, que me deixes entrar. Ricky Martin, ex-Menudo, aconselharia: não se reprima.

Meu nome é Renam Meinen e sou jornalista formado. E não apenas isto; sou simplesmente o melhor jornalista que existe, comprovadamente. A pesquisa, encomendada por mim, foi feita e é divulgada pela minha mãe. A margem de erro é de todos os outros jornalistas para mais, ou para menos. De qualquer forma, amo o que faço mais do que Rufles com Coca-Cola. Ou seja: muito mesmo.

Completei a faculdade de Jornalismo no ano passado, e sinto falta do seio acadêmico. Mas quem não sentiria falta de um bom seio, não é? Me conformo. Sei que ainda há muito pela frente, estou no auge de meus 22 anos - o que me dá mais cinco anos de vida se minha mãe estiver certa e eu for mesmo um mito, tal como Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison ou Amy Winehouse. Mas no, no, no... (Está tão na moda falar da Winehouse que essa menina não morre tão cedo.)

Como ia dizendo, estou com 22 anos. É uma fase complicada da vida, na qual se descobre que, ao contrário do que se pensava na infância, você não pode ser tudo o que quer ser. Jamais poderei ser um avatar, por exemplo. O que me frustra, pois adoro azul. Hoje eu sei. Na verdade, minha ficha começou a cair mesmo quando me dei por conta de que jamais poderia pilotar a nave da Xuxa. Foi como se tivessem cortado meu cordão umbilical pela segunda vez; algo que parecia parte de mim, se foi.

Sou filho único. Há quem diga que é ótimo - inacreditavelmente, todos aqueles que têm irmãos. As teorias me divertem. "No Natal, todos os presentes são para você". "Você não tem que dividir a atenção com mais ninguém". "Suas roupas são só suas". A última, confesso, é a que mais me intriga. O fato de alguém pegar a "minha roupa" não faz com que a roupa não seja mais minha - do contrário, seria furto ou pior, roubo, caso praticado com violência. Em todo caso, não vejo problema em dividir o que tenho. A não ser que seja brigadeiro, mas aí também já é sacanagem.

Ainda sobre as outras afirmações, igualmente discordo. Se o filho do Eike Batista tivesse dez irmãos, acredito que ele ainda receberia mais presentes no Natal do que eu. Não que eu não tenha gostado da cueca bege que ganhei em 2010, longe disto – é brincadeira. Sobre "não ter que dividir as atenções"... é aqui que realmente me incomodo. Todo filho único sabe que, com mais atenção sobre os ombros, qualquer que seja o passo em falso lá estará mamãe ou papai com a "chinela" nas mãos. O que me faz lembrar que ainda não fiz minha carta de agradecimentos a Havaianas por suspender a fabricação do modelo feito com bambu e taquara. Só não consegui escapar dos modelos com tiras presas com prego, mas aí a culpa já não é da fabricante - era simplesmente uma customização do produto feita pela minha mãe, me diriam os franceses anos mais tarde.

Tenho uma namorada linda que não acredita e muito menos entende porque peguei mais um trabalho para fazer: a coluna. "Jornalista é assim, meu amor...", explicava eu, sobre a mira da espingarda cano duplo com numeração raspada. Resolvi falar dela para ver se a minha barra alivia. Se não der certo e eu não aparecer neste espaço na próxima semana, ao menos vocês já sabem de quem é a culpa.

Eu sempre quis ter uma coluna de opinião, e é isto que me motivou a escrever. Para ser franco, eu até já tinha uma coluna, e já tinha opinião, então só faltava mesmo juntar as duas coisas. Agora me parece o casamento perfeito – se é que se pode unir na mesma frase casamento e perfeição.

Neste espaço, mesclarei ideias e humor de quinta. Mas sempre às terças. Isso, é claro, se eu voltar na próxima semana. Só por garantia: caso algo aconteça, deixo tudo à caridade.

Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 26 de julho de 2011.

4 comentários:

  1. Já disse que sou tua fã. Então vim aqui registrar isso e parabenizar pelo blog. Vou estar aqui toda semana para me alegrar. Mesmo com assuntos sérios e tristes o teu humor ácido e de duplo sentido me fazem sorrir. Parabéns!
    @fabrinej

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  2. Nossa, REnam, quem diria que aquele menino que na copa de 98 foi pra escola com uma camiseta metade Brasil, metade SAo Paulo se nao me falha a memoria [e essa eh a memoria que smepre me vem a cabeca quando lembro que fomos colegas] se tornaria esse jornalista brilhante, que escreve desse jeito descontraido e inteligente...
    Simplesmente me apaixonei pelo qeu tu escreveu e tens com certeza mais uma fa, espero que a espingarda de cano duplo e numeracao raspada da tua namorada nao me encontre, ateh porque esse recado nao tem maldade nenhuma, soh expressa minha admiracao pelo teu trabalho... Que Deus te abencoe e que vc continue nos agraciando com seus otimos textos...

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  3. Que comentário lindo, Aline!

    Obrigado pelo carinho, teacher... Fiquei emocionado! Espero seguir trabalhando sem deixar a peteca cair agora que tenho uma leitora assim, importante. Haha!

    Beijos!

    PS: Credo, que memória é essa, menina!? :D

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  4. como assim, uma leitora importante? valeu, mas nao sei do que se trata.. e minha memoria, nem me fale, as vezes as epssoas acham qeu eu sou uma daquelas maniacas com o caderninho, porque eu lembro de detalhes qeu as pessoas nao estao nem ai.. hehhee, em algum momento de certo essa minha capacidade de lembrar coisas vai me audar em algo...
    Fico feliz que o comentario tenha surtido tal efeito, porque foi de coracao mesmo.. teh semana que vem, entao, terca feira estou aqui.. lendo o proximo devaneio.. ;)

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