terça-feira, 18 de outubro de 2011

Uma dose de humor negro

As crianças odeiam ter que escovar os dentes após as refeições; logo, as crianças de Serra Leoa são mais felizes...

Ore e me adore antes que eu te cobre!
Leitor, este é o chamado humor negro, prazer. Neste tipo de piada, situações trágicas são usadas para fazer rir. Nem sempre conseguem. Humor negro é como Síndrome de Down: ou você tem, ou você não tem. Fui apresentado ao melhor – ou pior, depende do ponto de vista – do humor negro por dois amigos da faculdade de Jornalismo que têm, obviamente, o lugar garantido no inferno; Deus não tolera este tipo de piada no céu. A não ser que você contribua com os seus 10% mensalmente, claro... (by Edir Macedo)

O humor negro passou a ser mais frequente, imagino, com o fim da ditadura e o período em que passou a vigorar a liberdade de expressão: a princípio, neste país, você pode emitir qualquer opinião livremente – e ser processado pelo que disser, mas, enfim. Com esta liberdade assegurada, este tipo de humor passou a estar presente em nosso cotidiano pelas mais variadas formas. Até em cantada, vejam só, já existe humor negro. “Gata, se esta pista de dança fosse um tabuleiro de xadrez, você seria a rainha!”. “Que fofo! Por quê?”. “Por que estou louco para te co...”. O que define se o rapaz se dará bem ou não com a cantada é o fato de a garota gostar ou não de humor negro. Talvez o fato de ela ser ou não safada também influencie... Bem, talvez seja só isto.

O humor negro está presente, ainda, na televisão, em programas como o Pânico na TV, da Rede TV!, e como o CQC (Custe o Que Custar), da Band – que trouxe para a telinha humoristas que já praticavam este tipo de humor no stand-up comedy, tipo de apresentação na qual o humorista ou comediante aparece de cara limpa, sem fazer personagens, e começa a “contar causos”. E é sobre esta invasão do humor negro à televisão que eu gostaria de falar...

Rafinha Bastos, Marcelo Tas e Marco Oportunista Luque
O episódio aconteceu há quatro semanas. Durante o CQC, programa transmitido às segundas-feiras à noite, a cantora Wanessa Camargo foi mencionada. Marcelo Tas, um dos três homens que compõe a bancada, cita que a filha de Zezé di Camargo estava linda no quarto ou quinto mês de gravidez – não com a entonação de uma mulher em um salão de beleza pintando as unhas, veja bem; da forma, sim, como um homem se referiria a uma mulher durante a terceira rodada de cerveja em um bar. Eis que surge o humorista Rafinha Bastos, outro integrante da bancada, e ao melhor estilo “humor negro na roda de boteco” finaliza o assunto: “Eu comeria ela e o bebê”. Parte da plateia ri, o assunto muda, termina o nosso flashback.

Essa pelo menos não engravida, né, Ronaldão?
Dias depois Rafinha Bastos foi afastado pela cúpula da emissora, que decidiu retirá-lo da bancada do programa como forma de punição pela piada. Antes disto, Ronaldo – o craque da camisa número 9 e o eterno ex de Milene Domingues, Daniella Cicarelli e Andréia Albertini – telefonou para a Band para reclamar da piada feita. Ronaldo é amigo e sócio do marido de Wanessa, Marcus Buaiz. Marco Luque, o terceiro integrante da bancada do programa, também soltou na imprensa uma nota de repúdio à piada feita pelo colega de CQC, em apoio ao casal, de quem diz ser amigo – além, “claro”, de ser contratado pela empresa de Buaiz para fazer propaganda para uma operadora de celular.

O ocorrido nos leva a pensar sobre diversas questões, como liberdade de expressão – a favor de Rafinha Bastos – e responsabilidade ética, moral e bons costumes na TV – contra. A piada de Rafinha Bastos foi um cocô? Foi. Não porque era de humor negro, mas porque foi ruim mesmo. Foi uma espécie de “humor negro sem humor”. E você sabe, quando só fica negro...

O humorista é adepto confesso deste tipo de piada. Sempre usou em apresentações de stand-up antes de ser contratado pela Band. Era óbvio que, mais cedo ou mais tarde, faria humor negro e desagradaria parte do público – a que não é tão chegada ao estilo, especificamente. A piada foi ruim, mas ainda assim era uma piada. Quem gosta de humor negro, rindo ou não, achou normal; quem odeia, além de não gostar, se ofendeu. A diferença é esta, e só esta, leitor. Você vê? Acredito que sim. Até porque coluna de jornal não é feita para cegos...

PS: Sim, este texto contém humor negro de cabo a rabo, mas não se preocupe: pagarei meus 10%.

Agora, com vocês, uma música com humor negro...



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 18 de outubro de 2011.

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