terça-feira, 11 de outubro de 2011

Quando era criança

Popeye fumava até em lugares fechados na minha época
Eu fui criança por muito tempo. Durante toda a minha infância, mais ou menos. As coisas eram bem diferentes naquela época – que acabou há uns 10 ou 12 anos. O Estado permitia que os pais dessem palmadas nos filhos. Não havia bullying – a denominação, no caso. A Laranjinha Água da Serra custava R$ 0,30. O SBT viva exibindo Chaves. Bem, ainda vive. A Manchete existia. A Record ainda era uma emissora pequena, e não uma “TV universal”. A Sessão da Tarde passava filmes dos Trapalhões. Os personagens de desenhos da Disney e da Warner apareciam fumando! Os meninos brincavam com réplicas de armas de fogo, e nenhum aluno matava outro nas escolas por influência de jogos.

As crianças não sabiam usar o Word e – Jesus! – não havia internet. As pesquisas eram feitas nas bibliotecas, e não no Google, e todo estudante conhecia o que era Barsa. Os pais sabiam onde os filhos estavam sem ter que recorrer ao telefone celular. Havia piolho. Subíamos em árvores. Usávamos estilingues. Soltávamos pipas. Malhação ainda se passava em uma academia, e o título do seriado fazia sentido. André Marques era magro... Dengue era só um bicho da Xuxa – que naquela época fazia programas com audiência e ainda por cima pegava o Senna, a danada.

Yes, eu tive TV CRUJ e Doug Funny na infância!
É engraçado que as palavras “quando era criança”, ordenadas exatamente deste modo, geralmente vêm acompanhadas de algo como “tudo era diferente”. A geração anterior sempre acha que a seguinte não teve infância, se é que isto é possível. Meus pais acham que eu não fui feliz como eles foram por nunca ter andado de rolimã ou jogado pião – consulte o dicionário, caso preciso. O mais estranho é que eu acho que esta atual geração também não pode ser tão feliz como foi a minha. Estas crianças nunca andaram de roller, de patins ou de patinete; não jogaram bolinhas de gude, Tazo ou bafo com santinhos de políticos; nem imaginam o que é Mário Kart e nunca viram Castelo Rá-Tim-Bum, Glub-Glub ou TV CRUJ (Comitê Revolucionário Ultra-Jovem).

Isto já foi muito, muuuuito legal
O fato é que acreditamos que as crianças da geração seguinte não são felizes como fomos justamente porque aquilo que nos fez feliz já não existe mais, foi superado por novas tecnologias, brinquedos e brincadeiras. Um Nintendinho não tira o menor sorriso de um menino que cresceu com PlayStation e Nintendo Wii. Mas isto não quer dizer que não seja divertido: só quer dizer que o mundo atualizou-se. Só quer dizer que o tempo passou para nós. Só quer dizer que estamos velhos, e temos que aceitar o fato de que uma criança de 5 anos aprende mais rapidamente a lidar com um iPhone do que nós, a geração que o criou.

Às crianças, se eu pudesse dar apenas uma dica, diria o seguinte: use filtro solar. Os benefícios a longo prazo do uso de filtro solar estão provados e comprovados... O.k., a pombagira do Pedro Bial já passou. Se eu pudesse dar apenas uma dica às crianças mesmo, de verdade, diria o seguinte: divirtam-se. O tempo nesta fase parece ser muito longo, os anos parecem passar devagar, mas é um engano; quando você menos esperar, acabou o ginásio, digo, a 8ª Série, digo, o 9º Ano – Deus, como estou velho! Aí você vai ver que aqueles três anos do Ensino Médio vão passar voando, aqueles quatro ou cinco da faculdade vão ser ainda mais rápidos e você terá que assumir todos os compromissos, carnês e contas que comprovam que, sim, você já é um adulto. Quando você se der conta, talvez perceba que nunca teve um dia de “Curtindo a Vida Adoidado”, ou nunca fez uma festa ao melhor estilo “American Pie”,
Onde é que a gente compra um destes?
e talvez perceba que aos amigos que jurou jamais se separar não cumpriu com a promessa; os caminhos os levaram a destinos longínquos uns dos outros. Talvez você se pegue em meio a uma coluna de jornal falando disto tudo e sentindo saudade, palavra maldita que infelizmente existe nesta língua. Talvez você queira voltar no tempo, mas acabe por aceitar que seu carro não pode ir rumo ao passado para depois ir de volta para o futuro. Sei que você que ainda não completou duas décadas não entendeu o trocadilho. Aliás, talvez não tenha entendido nada... Mas, daqui a uns anos, mais velho, vai perceber que, quando era criança, tudo era diferente.

Se tem uma coisa que eu aprendi por não ter que lavar roupas na minha infância, é o seguinte: se sujar, faz bem

PS: Quando era pequeno, isso existia:



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 11 de outubro de 2011.

8 comentários:

  1. Um guri como você já se achando velho!

    Mas é tempo é só tempo e nada mais. Eu, por exemplo, me sinto um guri 3.7 quase 3.8, mas um guri.

    abs

    Rafael

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  2. Sério que o professor já está perto dos 4.0?

    Então aposto que Renew... hahaha!

    Obrigado pelo comentário, Rafael! A vinda do professor até este blog me deixa muito feliz, sinceramente. :)

    Abraços, mestre!

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  3. Também vou comprar a receita do Rafael. Sempre disse e sempre vou repetir pra minha querida mãezinha: eu não queria crescer. queria parar no tempo ao estilo Peter Pan, pra melhor época da minha vida: dos três aos seis. Que infância feliz! Acho que.. "na nossa época", as coisas ainda eram um pouco inocentes. Ou talvez seja só ilusão.
    Feliz dia da criança, tio! Quero bala!
    :)

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  4. E eu que jurava que a melhor época da sua vida foi dos 18 aos 22, tempo em que você me conheceu, Lô. Hahaha!

    A pior parte de virar adulto é parar de ver o mundo com os olhos de criança; as coisas eram bem mais simples antigamente, e hoje me sinto mais frio quanto a algumas coisas que me tocavam no passado.

    ***

    Enquanto isto, em 1993, em um armazém da cidade...

    “Quero quatro pão d’água, um saquinho de leite e o resto de Bubbaloo, seu Pedro...”.

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  5. Aaah era tãão bom levar para escola os Tazos repetidos para trocar com os coleguinhas... hehe
    Mas não estamos tãão velhos não, ainda falta três longos anos pra eu começar a usar Renew e a globo até passa ainda a Caverna do Dragãão hehehe

    Parabéns, virei fã dos seus devaneios!
    ;*

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  6. Os Tazos realmente deixaram saudades, né?

    Havia os tubinhos Porta Tazo, aquelas mãos nojentas para pegar Tazo, aqueles Tazos grossos que usávamos para virar os Tazos normais... enfim.

    Sobre a Caverna do Dragão... bem, eu não sei por que insistem em passar um desenho sem fim para as crianças. Já não basta ter frustrado a nossa geração?

    E enquanto a chegada do Renew estiver distante para você, fico despreocupado com a chegada do exame da próstata para mim. ;D

    Que bom que gostou dos meus devaneios, Thabatita! Espero que volte sempre. :)

    PS: Obrigado por ser uma das melhores amigas que tive na infância. E por ainda ser alguém com que posso contar hoje em dia... :_)

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  7. Mariana Rafaela Pizzutti28 de outubro de 2011 às 03:12

    Olá Renam,
    Conheci teu blog através de uma amiga ontem,é não pude deixar de ler todos os teus textos, são realmente Ótimos!Parabéns!!
    Sucesso para você e vida longa ao blog!! =)

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  8. Você não sabe o quanto isto me deixa feliz, Mariana! :)

    Espero que essa sua amiga seja devidamente paga... por Deus, claro. Haha!

    Torço para que volte mais vezes. Até!

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