terça-feira, 8 de novembro de 2011

Os bastidores da notícia, os desafios da reportagem

Monalisa Maria da Penha Perrone
Hoje resolvi falar sobre Jornalismo. Três fatos ocorridos nos últimos dias foram decisivos para a escolha do tema desta coluna. Primeiro: recebi o meu diploma da faculdade de Jornalismo; segundo: dois malucos empurraram uma repórter da Rede Globo durante uma entrada ao vivo; terceiro: um repórter cinematográfico do Grupo Bandeirantes foi morto em meio a um tiroteio entre policiais militares e traficantes no Rio de Janeiro. Você sabe o que estas três situações, aparentemente divergentes, têm em comum? Nada. Absolutamente nada. Mas ainda assim é um bom tema.

Gelson Domingos morreu no sábado *
Na maioria das vezes, me perguntam se fiz Jornalismo pensando em ocupar o lugar do William Bonner, mas honestamente odiaria ter que criar trigêmeos, e não sinto muita atração pela Fátima Bernardes. Já sobre trabalhar no Jornal Nacional, por que não? Não sou do tipo que recusa uma proposta antes de ouvi-la e, caso a família Marinho me procure, estou aberto à negociação.

Minha namorada um dia pensou que casar com um jornalista poderia ser um bom golpe da barriga; até que esqueci meu extrato bancário sobre a mesa e seu mundo ruiu. Hoje estamos juntos pelo afeto e somos um casal perfeito: dizem que beleza não põe mesa e que viver de matéria te põe na miséria. Resumindo, se por um lado os encantos dela não nos dão a certeza de que seremos ricos, o fato de eu ser repórter ratifica que seremos pobres. Felizes na pindaíba até que a morte nos separe – mas felizes, Tuf Tuf.

Maldito celibato
Pouca gente sabe, mas já cogitei a ideia de ser padre. Inclusive já fui coroinha e, na época, o comentário na paróquia era de que eu dava mesmo para padre. Afastaram o pároco pouco tempo depois, não sei bem o porquê. Enfim, jornalistas e padres têm muito em comum, penso. Exceto pelo celibato, é claro. Aliás, foi a proibição do sexo que me afastou da ideia de vestir a batina: eu tinha 12 anos, queria ser padre, mas não podia ver um sutiã estendido no varal.

Como dizia, a única diferença entre ser padre e ser jornalista é o sexo. E olha que seria até mais fácil os padres conseguirem sexo, já que no caso deles a maioria dispõe de carro. No mais, ambos sabem que terão que fazer voto de pobreza. E os jornalistas, assim como os religiosos, acabam vivendo da caridade alheia: lancham em coletivas de imprensa, ganham brindes em feiras e costumam entrar nas festas sem pagar a entrada. Também se reza muito. No fim do mês, especialmente, quando os credores cansaram de ouvir a sua caixa postal e resolveram te procurar pessoalmente. Falando nisto, todo jornalista costuma ser desapegado ao dinheiro: ele fica tão pouco tempo na sua carteira que é impossível criar qualquer laço afetivo.

O que me deixa mais assustado é o fato de ser consenso que a categoria mais mal paga do Brasil é a dos professores. O que me preocupa, no caso, é que ganhamos quase a mesma coisa que eles. Parte do problema se deve às nossas greves, que quase nunca dão certo: quando os jornalistas paralisam seus trabalhos, ninguém fica sabendo. O jeito é voltar às redações, mas aí o movimento reivindicatório já perdeu força e a notícia da greve morreu antes mesmo do deadline.

É preciso amor à camisa
A quem está pensando em fazer Jornalismo, se eu pudesse dar uma dica, apenas uma dica, diria o seguinte: filtro solar. Use filtro solar... O.k., eu diria: faça Jornalismo somente se você tiver muito amor à camisa. Amor à camisa é o principal. Digo isto porque você vai usar a mesma camisa por muito tempo, geralmente não sobra grana para compras. No mais, não acredite que o estudo acadêmico não é válido só porque o diploma – que agora eu tenho – não é mais exigido. Você acredita que sua comida seria pior após cursar Gastronomia? Então por que diabos você pensa que já sabe escrever suficientemente bem? Não sejas tolo: com estudo, és tudo.

PS: Esta música sempre me diz muito quanto penso sobre o Jornalismo... Talvez pareça estranho, mas todo este blog não passa de um grande devaneio. E afinal: escrevo para quem? Eu falo para quem? Noticio para quem? Eu canto para quem? Agora, com vocês, Adriana Calcanhotto...



Eu ando pelo mundo
Divertindo gente,
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome
Nos meninos que têm fome...

Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 8 de novembro de 2011.

* Apesar da tola brincadeira com o seu sobrenome, fiquei triste pelo colega de profissão. Se puder, nos faça um favor: vá registrando tudo aí por cima, que logo mais chegamos para editar as imagens. Abraços!

8 comentários:

  1. Essa vida de jornalista é uma viagem sem volta, mesmo. Porque apesar de ter que aceitar bocas-livres nas coletivas e viver na pindaíba, a gente não quer mudar de rumo. Ô coisa louca, paixão maldita. Eu, sinceramente, espero que o meu futuro marido ganhe na loteria. Só assim vou poder me matar de trabalhar sem ligar pro dinheiro, só pela paixão "suicida" hehehe

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  2. Tu é bom cara! haha... Eu ri horrores com teu texto, e eu entendo perfeitamente a parte de "viver na pindaíba". Não sou jornalista, mas eu também estou nessa! haha
    Beijoss

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  3. Li no jornal e gostei muito, muito mesmo. Realmente é por isso mesmo que um jornalista passa, só quem é e quem convive sabe, haha :) Parabéns pelo teu trabalho, tá ótimo. Beijos

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  4. Relação afetiva com o dinheiro é realmente muito difícil. Acho que o jornalismo é sacerdócio pq não da pra desligar totalmente a cabeça do trabalho, do nada pode surgir uma pauta, chegar um e-mail ou alguém te ligar.

    Ótima trilha. Sempre pensei a mesma coisa que você.E além daquele trecho que vc destacou me identifico com "Ah, eu quero chegar antes, pra sinalizar o estar de cada coisa, filtrar seus graus"

    Quanto ao filtro solar ...
    "Esqueça o filtro solar e acredite no conhecimento" - vale a pena ;)
    http://www.youtube.com/watch?v=CGdHWHh_f50

    Beijão
    parabéns

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  5. Tenho dito, muito constantemente, a seguinte frase: "maldito amor pela profissão"! É incrível como esse "troço" chamado jornalismo, "pega"! Só não vicia mais que a boa e velha cerveja gelada!
    Claro, frusta um pouco a falta de reconhecimento, e falo sim, do financeiro! O mais engraçado, é que as pessoas acreditam, piamente, que jornalista ganha bem, para não falar que muitos e muitos mesmo, acreditam que jornalista é rico. No meu caso, que trabalho com televisão, isso acontece com muita frequência, mas gostaria de dizer que jornalista, não é celebridade, ou seja, não ganha como tal. Embora deveria e falo de toda a classe. Afinal de contas, o que seria do mundo se não fosse a informação? As notícias? Prestem atenção na real importância que os jornalistas tem no mundo, os éticos, é claro!
    Quanto aos que querem fazer jornalismo. Friso o que o nobre amigo falou, se quer ganhar dinheiro, corra léguas dessa profissão. Sugiro medicina, que trabalha igual ao jornalista, trabalha muito, faz plantões, não tem hora para ser chamado, é surpreendido constantemente e ganha o reconhecimento por isso...
    Continuo, quer ser jornalista? Pensa duas vezes, duas não, milhares. Saibam, não é fácil. Por vezes é decepcionante e frustante e para superar isso, é preciso gostar muito, amar, ter mesmo amor à camisa, somente assim, você consegue seguir adiante e sendo feliz, como jornalista! Para quem gosta mesmo, a profissão é perfeita, ou quase. E a formação, sou bem objetivo, diploma é tudo e faz a diferença, toda a diferença! Palavras de um jornalista diplomado, que ganha o piso e tenta buscar mais...

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  6. Ótimo texto Renam... e sim, já me perguntaram quando vou pro JN... hahaha

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  7. simplesmente... absoluto...

    como diz a Rosana Tu é bom cara...

    Abraços..

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  8. Bom, como disse a Rosana e repetido pelo Richard... Tu é bom cara! Abraço... (Primo Keto)

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