terça-feira, 1 de novembro de 2011

Pedintes na sua porta

Não é feitiçaria...
Ontem foi o Dia das Bruxas e se tem uma coisa que sempre curti é Feiticeira. E Tiazinha, mas o Programa do Huck na Band acabou. O barato do Halloween pelo mundo é quando as crianças se fantasiam e vão de casa em casa para extorquir as pessoas. Algumas delas até se profissionalizam e depois de certo tempo passam a fazer o mesmo vendendo Herbalife. Ou pedindo votos. Ou contando que o filho em casa precisa de leite ou faltam apenas R$ 5 para ela comprar a passagem de volta para a cidade natal. Enfim, a travessura nunca acaba.

Se existe uma coisa que me irrita é pedinte na porta de casa. O problema é crônico. Cada vez mais existem malandros querendo voltar para Goiânia pedindo socorro (esta frase é dedicada a quem assiste Pânico na TV; se não for o seu caso, ignore). Não sei como é o ciclo em outras cidades e em outros bairros, mas onde moro o problema se agrava aos sábados: no dia em que você não trabalha, quem trabalha são eles.

As histórias geralmente são as mesmas: fome, doenças degenerativas e filhos a dar com pau. Honestamente acho incrível como gente tão debilitada possa gerar tantas crianças... Já percebeu, leitor? Os doentes terminais da sua porta são simplesmente touros sexuais entre quatro paredes. Não esperam nem o fim da quarentena, os danados, benza Deus.

Dadinho? Dadinho?!
Existem pessoas necessitadas, que precisam realmente de sua ajuda? Existem. Mas estas pagam pelas vadias. Você batalha o mês todo em jornadas exaustivas para obter o dinheiro necessário para comprar comida, pagar as contas e ter um mínimo de conforto. Eis que surge na frente da sua casa um marmanjão sadio de 19 anos, maior pinta de Dadinho – Dadinho é o car#$@&! –, e pede a sua ajuda... O que fazer?

Alternativa A: Dar parte do dinheiro que você suou para conseguir porque acredita que ele mereça. Alternativa B: Dar parte do dinheiro que você suou para conseguir porque está com medo do safado. Alternativa C: Dar um corridão no malandro e sumir da cidade antes que ele acione o restante da gangue. Alternativa D: Ser educado com o jovem socioeconomicamente necessitado e explicar-lhe que este mês a situação está difícil, e que sente muito por não poder ajudar rapaz tão bem apessoado, mas acredita que aquela simpática vizinha provavelmente lhe oferecerá socorro com todo prazer. Semanalmente, inclusive.

Lógico que você quer dar um corridão no sacana, mas a alternativa mais coerente é a D. E tire o sorrisinho do rosto, não é aconselhável mandá-lo procurar a vizinha antipática. Lembre-se: o próximo pedinte pode procurar primeiro a cretina, o que abre margem para vinganças.

Eu, relatando o problema do pão
Falando assim parece até que tenho raiva de pedintes, não é? E eu tenho mesmo. Lembro de uma vez quando eu ainda era criança e atendi uma pedinte na porta de casa. A mulher falava em filhos, desgraças, fome, má sorte na vida... enfim, pedia dinheiro. Era criança, as únicas moedas que via naquela época eram aquelas de chocolate. Ainda assim, comovido, entreguei-lhe um saco de pão. E não era pão velho, não, era pão bom. Sei nem o porquê, subi na grade do portão para ver a mulher ir embora; na esquina, ela atirou no lixo o pão que comeríamos na minha casa... Foram quatro anos de análise com uma psicóloga para superar tal trauma.

O.k., não precisei de análise, mas me senti totalmente infantil ajudando a sacana. E veja bem, não é fácil para uma criança se sentir infantil... Passei a não mais acreditar nos mendigos de sábado e fico triste por saber que, provavelmente, deixei de ajudar alguém que realmente precisava de apoio, que precisava do pão que foi jogado no lixo.

Antes que a coluna acabe, ressalto que este texto não prega a falta de solidariedade; considero muito digno partilhar com os menos afortunados uma parte de seu esforço. Apenas sugiro que você concentre as suas doações a instituições beneficentes que verdadeiramente fazem um trabalho sério e atendem necessitados – ONGs do programa Segundo Tempo não contam. Faça uma pesquisa em sua cidade, comece a colaborar, e não deixe de também visitar as entidades. As instituições sérias geralmente valorizam mais o seu afeto do que o seu dinheiro.

PS: Agora, com vocês, Skank...



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 1º de novembro de 2011.

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