terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O amor e outras drogas

Carro: importante desde sempre
Um colega de trabalho disse outro dia que você sabe que está apaixonado quando as letras de pagode começam a fazer sentido. Ah, o amor. A pior droga que já inventaram é o amor. Você não fica tonto, não dá risadas sem motivos e sequer vê tigres na parede enquanto conversa com um gnomo multicolorido que se chama Alfredo Ricardo – o texto não é autobiográfico, juro. A única sensação que o amor te traz é calafrios, mas qualquer salto de paraquedas tem o mesmo efeito – com uma chance bem menor de se quebrar a cara. E homens, sejamos francos: essa parada de “borboletas no estômago” é muita viadagem.

Amor e paz...
Não existe nada mais tosco do que homem apaixonado. Mulher se controla. Homem, não. Pela convicção de que é ele quem deve tomar a iniciativa, elas só provocam. Um decote ali, uma minissaia acolá, um sorrisinho maroto mais longo deixado no ar. Se mesmo com tudo isso o cara não deu em cima – em geral, porque ela é uma garota escrota –, deixa pra lá, tudo bem, pronto, acabou. Isso não acontece com o homem. O homem se expõe. Ele tem que tomar a iniciativa. É flor, bombom, cartão, convites cheios de segundas e terceiras intenções. Tudo isso correndo o risco de a gata desejada classificá-lo como “ridículo”, “cretino”, “grudento” ou “vai sonhando, moleque”. Pior que isso: depois de ganhar os mimos ela pode te achar “fofo”. Fofo, colega, é amigo gay.

Amor e guerra...
O amor e os Correios precisam da mesma coisa para funcionar: correspondência. E tanto em um, como em outro, tudo começa com o selinho. Paixão e amor são coisas distintas. Amor é sentimento. Paixão é sobrenome de leão-de-chácara de zona. Em suma, o prazer que o amor traz é zero e ainda existem efeitos indesejáveis. O amor te deixa com cara de bobo, boca seca, língua presa e pernas bambas. Se já não fosse o bastante, se gagueja na frente da pessoa amada. Resumindo: o amor não quer que você pegue ninguém.

Toda pessoa que já amou sabe que existem poucas coisas mais sofríveis do que amar e não ser correspondido: ser enterrado vivo, ver Domingão do Faustão e prender os testículos na porta do carro. Só. A verdade é que o amor é um sentimento danado. Poetas, pensadores e outros alcoólatras já tentaram defini-lo. Camões disse que é ferida que dói e não se sente. Vinicius de Moraes explicou que é infinito enquanto dura, posto que é chama. Frank Aguiar completou dizendo que lavou ta nova. Aí veio Renato Russo e questionou quem inventou o amor... Caetano Veloso até respondeu, mas ninguém acompanhou o raciocínio.

Homens e casamento: nada a ver
Grande parte dos problemas sociais resulta do amor. Problema de saúde: causa dor de cotovelo e pode cegar. Problema de lei seca: faz você encher a cara. Problema musical: cria duplas sertanejas. As autoridades deveriam dar um basta no amor, mas já não podem mais contê-lo ou regularizá-lo; hoje em dia está fácil comprar amor – aquele falso, claro. A questão já começa na infância. Tem mãe que cria a filha para ser bem casada, e esquece que ela pode virar mal comida. Até dizem que uma mulher pode ter um homem rico, um homem que a satisfaça na cama, um homem que ouça todos os seus problemas pessoais e esteja pronto para fazer qualquer coisa. Só não dá para deixar que estes três homens se encontrem. O amor tem destas coisas.

Profissão repórter

Até que a dentadura nos separe...
Sou do tipo que ainda acredita no amor, mas naquele que não termina quando os credores batem à porta. Ele ainda vaga por aí, perdido nas esquinas da cidade... Encontrei alguém que me ama mesmo quando os presentes de Natal estão a perigo. Para um jornalista, isto é muito importante. Em casamento de repórter, o padre sempre repete a parte do “na riqueza e na pobreza”, acentuando a última parte, para evitar posteriores reclamações. Algumas dão pra trás no altar, é sempre um risco. Rogo a Deus para que salve as Amélias, todas aquelas que passam fome e acham bonito não ter o que comer. Amém.

PS: Agora, com vocês, Fundo de Quintal...



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 13 de dezembro de 2011.

3 comentários:

  1. Renan, tu é um figura. Excelente texto... Abraço! (primo Keto)

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    1. Valeu, Keto! Espero que volte pra acompanhar o trabalho...

      Abraços!

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  2. Cara adorei os teus textos. O Humor quem há neles não deixa a leitura se torna chata e cansativa. Muito bom mesmo!

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