Freud com cara de delicinha... |
Sigmund Freud dizia – o homem já morreu – que apenas somos felizes em tempo integral na mais tenra idade. Somente na infância, nos primeiros anos de vida, poderíamos experimentar deste doce beijo que se chama felicidade. E “como é doce o beijo quando vem da sua boca, dá uma vontade de levar você comigo”.
A teoria de Freud, a mim, até faz sentido. Para os bebês, tudo é novo, e o novo sempre fascina e, logo, nos deixa felizes. Esqueçam toda a parte na qual Freud fala do transtorno da menina por não ter pênis ou do sofrimento do filho homem ao saber que a mãe não tem amor apenas por ele e, pior, ainda faz sexo com aquele barrigudo nada atlético que é seu pai. Balela. As crianças são felizes com sinceridade porque ainda estão experimentando o mundo. Experimentando mesmo. Comem areia, papel, bolas de gude, fezes de gato... enfim. Não fossem os bebês, jamais teríamos a expressão “gosto de guarda-chuva na boca”.
Ainda não entendeu, amigo leitor? Tudo bem, culpa minha. Dei voltas e mais voltas e ainda não desenvolvi o tema. Problema masculino, criado pelas mulheres. Ao longo dos anos, pediram tanto para que não fossemos “direto ao ponto”, que perdemos para sempre a localização do G. A gente sabe que está lá, mas onde...
O.k., como dizia, os bebês são felizes porque, até então, nada conhecem. É por isso que bebê tem aquela cara babaca de turista em cidade nova. Repare. O ônibus da excursão para, todos descem e logo os novatos passam a apontar para as coisas com os indicadores, com a boca aberta e aquela cara de “dããã...”. Só falta o sorvete na testa. Bebê é feliz em tempo integral porque, recém-saído do útero, qualquer besteira – incluindo as fezes de gato – é novidade. Turista também é feliz, mas só até pegar a BR-101 de volta para casa...
Cazuza, por sua vez, dizia, ou melhor, cantava, que só as mães são felizes. Em partes, discordo. Lembro-me que minha mãe não ficou feliz quando, com uma tesoura, cortei – modo de dizer; destruí – meu próprio cabelo pela terceira vez quando era pequeno. Também não ficou feliz quando xinguei a empregada lá de casa. Eu saberia instantes depois que ela havia se entristecido comigo. A Havaiana contou à minha bunda. Chorei de dor. Por tê-la decepcionado, claro.
Cão chupando manga |
Os cães, salvo raras exceções que incluem estrelas de TV e farejadores de drogas em aeroportos, não trabalham. Os cães não têm contas para pagar. Os cães não precisam escovar os dentes para ter saúde bucal. As esposas dos cães não reclamam quando eles não tomam banho depois de correr horrores atrás de uma bola ou de um carro – até os acham mai sexy, penso. As esposas caninas, por sua vez, podem ficar tranquilas, porque sabem que os maridos não vão dar mole para nenhuma gata metida a besta. E elas sempre recompensam os bofes, agindo como verdadeiras cadelas na cama. Maravilha.
Bem, de modo geral, os cachorros são felizes porque se contentam com pouco. Quando você tem um cão, ele sempre te recebe com prazer na hora do seu retorno para casa. Você pode ter bebido a noite toda, chorado abraçado com um mendigo e amanhecido na Delegacia com o Beto, o Cabeça e o Pedrão: você vai chegar em casa e só vai ter que arremessar uma bolinha três vezes para que seu cachorro volte a te amar como nunca. Tente fazer o mesmo com a sua mulher... E me mande um e-mail caso tenha chegado vivo à segunda tacada.
Devíamos nos espelhar nos cães, felizes todo dia. E não pense que cão não tem motivos para sofrer. Quem já viu medirem a temperatura do bichinho com um termômetro, sabe o que digo... Nem avisam o coitado. Mas cachorro é legal, logo esquece. Bastam três jogadas de bola. Jamais tente resolver da mesma forma no caso de ter colocado o “termômetro” do mesmo modo na sua mulher sem aviso prévio. Ela nunca entenderia. Neste mundo cão, só mesmo os cachorros são felizes.
Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 30 de agosto de 2011.