Se Deus é o inventor de todos os animais, o cupim é cria do capeta. Êta, bicho danado! Enfrento um exército de homens, mas não topo contra uma gangue de cupins. São uns animaizinhos malditos e famintos. Devoram qualquer que seja a coisa que veem pela frente. Paredes, portas, janelas, guarda-roupas, camas, bidês, raques, cozinhas inteiras. Já vivi em casa com cupim, sei como é. É um pavor constante. O bicho é tão comedor, mas tão comedor, que não dá nem pra se arriscar a dormir de bruços...
Quando era criança, achava que os cupins eram aquelas bolinhas que ficavam pelos vários corredores da minha casa. Ta bom, eu admito, é mentira: a minha casa só tinha um corredor. Enfim, anos mais tarde descobri que aquelas centenas de bolinhas que se espalhavam pelos cômodos e nas quais eu pisava sem dar importância eram, na verdade, as fezes do cupim. Ou seja: a minha casa era virada em merda. E não é fácil lidar com isso quando se passa a entender o mundo... A terapia ajudou.
Tragédia em casa...
Ao mesmo passo em que eu crescia, a pobre residência ia desabando. Culpa dos cupins. Chegou um ponto em que a minha casa tinha mais buracos nas paredes do que barraco em favela carioca dominada pelo tráfico... Aí você pode estar pensando: “Mas lá no Rio a situação é mais grave, Renam, as marcas são de tiros”. O.k., concordo, mas no Rio de Janeiro o inimigo pelo menos pode ser vencido.
Não tem o que fazer. Esta é a mais pura – e triste – verdade. Basta apenas rezar, pedindo que o forro não caia sobre a sua cabeça... Aliás, quem tem casa de madeira tomada por cupim precisa mesmo se apegar no santo. Quando dá vento forte, o jeito torcer para que a casa aguente o tranco. Quando vai chegar visita, só resta ter fé que os detritos fecais da praga não vão sujar todo o chão encerado na peroba. Quando é para fazer amor, só basta acreditar que os vizinhos – e as crianças no quarto ao lado – não vão ouvir nada. Êta, bicho danado!
As intermináveis fezes pela casa!
Graças a Deus a casa onde moro foi reformada no dia do atentado – já falei sobre isto aqui. Hoje consigo até dormir tranquilamente, o que não acontecia nos anos do “cupinzal”. É sério: com a quantidade de detritos que caíam do teto, era capaz de a gente até se afogar durante o sono. Ou encontrar uma chapa de MDF no vaso sanitário dias depois. Tenso.
Com a casa reformadinha no concreto, eu estava vivendo em paz, me sentindo livre da praga... Estava. Outro dia andaram me falando que até tijolo o cupim deu pra comer. Se é verdade ou não, ainda não descobri, mas, por via das dúvidas, não tenho mais dormido de bruços. Êta, bicho danado!
Outros bichos escrotos
Mosquito do jeito que gosta...
Se em algum dia da minha existência eu topar com Deus por aí, quero olhar no fundo dos belos olhos dele e dizer... “Pai... óóóóóó, Pai... diga-me: pra que diabos inventastes o mosquito?!”. Na lata, na bucha. O mosquito tem alguma outra função neste planeta que não seja dar coceira e passar dengue? Pode ser que algum chato ecologicamente correto venha me dizer que eles ajudam a controlar a cadeia alimentar, fazem parte da balança do ecossistema, alimentam alguns outros animais... balela! Acho que os animais que se alimentam de mosquito poderiam muito bem mudar o cardápio para a alegria geral da floresta. E vamos ser francos: defensor de mosquito só pode gostar de sentir a picadura.
A dita cuja na minha cama...
E baratas? Qual é a função das baratas no Reino de Deus, Senhor? Fala sério... A barata até hoje só serviu para apelidar carro, causar histeria entre as mulheres e inspiração em pagodeiro. Fato: você pode nunca ter sido afetado por uma barata, mas com certeza já ouviu a música dela no rádio, na televisão ou nos últimos assentos de algum ônibus de excursão. Então como sei que você já viveu este pesadelo, aqui vai uma dica: compre um otorrinolaringologista para se defender.
PS: Agora, com vocês, Só Pra Contrariar...
Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 14 de fevereiro de 2012.
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