terça-feira, 13 de setembro de 2011

Sobre o maior atentado que já vi

Lembro-me como se fosse há dez anos. Ah, é. Faz dez anos. Enfim, lembro-me. Era 11 de setembro de 2001. Nunca sabemos como será o nosso dia quando levantamos da cama pela manhã e, naquela ocasião, não foi diferente. Quando acordei ainda não sabia, mas, ao retornar da escola naquele dia, iria me deparar com o maior atentado que já vi. Tinha 12 anos na época.

Meu dia na escola foi comum, nada fugiu do normal, você sabe. Todo mundo sabe como é ter 12 anos. Enfim, monotonia, o maldito cotidiano de sexo, drogas e rock n’ roll de qualquer pré-adolescente. Cheguei da escola no horário de sempre. Como de costume, meus pais já estavam em casa. Mas, pelo silêncio que pairava, percebi que havia algo estranho no ar. E havia mesmo. Encontrei os dois na área dos fundos. Pareciam não acreditar no que viam... Mas, será possível? Era. O maldito Batista começou a reformar a casa detonando logo a churrasqueira. Ô, homem tinhoso. Nunca conheci pedreiro mais atentado. O maior atentado que já vi.

Nunca entendemos o porquê, mas aquele atentado do Batista pôs abaixo a churrasqueira logo no primeiro dia de serviço. Ele poderia ter feito qualquer outra coisa, mas não, detonou a churrasqueira. O que seriam dos almoços de domingo depois daquele 11 de setembro? Tempos difíceis viriam, previmos. Estávamos em choque. Como todo o mundo ficaria.

Coincidentemente, o mundo ficou mesmo em choque naquele dia. Não por conta do Batista, é claro. A fama dele nunca trespassou muito o bairro Alto Feliz, o que dizer então do continente americano. Não. O mundo estava embasbacado mesmo por causa de outro atentado: Osama Bin Laden.

Batista e Bin Laden foram responsáveis por mudar aquele 11 de setembro de 2001. Altos e esguios, em comum ainda tinham o temperamento explosivo – Bin Laden, mais explosivo, digamos. O fato é que cada um, a seu modo, fez com que aquele dia ficasse marcado para sempre. Batista deu fim a uma churrasqueira. Bin Laden, a duas torres e quatro aviões. Pouca gente conhece Batista, o pedreiro que deu início à reforma lá de casa. Bin Laden, por sua vez, é mais famoso, o que não deixa de ser justo, afinal a reforma dele foi maior: Batista levou abaixo apenas uma parte da minha residência, Bin Laden fez a casa cair por completo nos Estados Unidos.

Por anos, os norte-americanos perseguiram Bin Laden. Promoveram duas guerras, perderam milhares de vidas, tiraram outras tantas, até que conseguiram dar cabo do atentado. Lembro que meu pai, ao longo da reforma aqui em casa, falou uma ou duas vezes em matar o Batista, mas não foi tão a fundo. Não que tenha faltado motivo, é preciso dizer. “Batista, o piso do banheiro ficou desalinhado”. “Ali depois vai o box, ninguém vai ver”. “E o do quarto?”. “Tem a cama, ninguém nota”. “Mas e o do corredor, Batista?!?!”. “(Profunda reflexão, até que...) Ah, ali coloca uma folhagem”. Sim, o Batista sobreviveu. Mas este mundo não é feito apenas de justiça, sempre digo.

Bin Laden, como disse, morreu. Teve um enterro até digno. Por aqui, na BR-101, os homens que usam saia e vivem tocando o terror tem um fim bem mais inglório do que terminar no oceano. Li e ouvi os comentários mais diversos sobre a cobertura feita em memória do que ele fez. Gente que chorou os mortos e gente que preferiu ressaltar os crimes norte-americanos – para que ter pena dos Estados Unidos, se eles mataram milhares em Hiroshima e Nagasaki, coisas do tipo. Respeito toda opinião, mas resguardo meu direito de poder discordar. Os senhores da guerra que mandaram soltar bombas atômicas no Japão provavelmente não estavam no World Trade Center, nem mesmo no Pentágono: o tempo e os cânceres já devem ter lhe tirado as vidas. Assim sendo, julgo valer a pena cada lágrima derramada por inocente morto. E no WTC eles eram milhares... O fato exige tal cobertura. Não sejamos impiedosos com o sofrimento alheio. Friso: os mortos no WTC não têm culpa pelas atrocidades norte-americanas de outrora. Mas cada um entende como quer.

Ah, passada uma década dos atentados, muita coisa mudou. A reforma lá em casa acabou há anos e hoje em dia desfrutamos de duas churrasqueiras. Os Estados Unidos, coitados, ainda estão se reerguendo. Incrível como um financiamento da Caixa pode fazer falta... e nem adianta colocar a culpa nos estragos. No fim das contas, cada um tem o terrorista que merece.

PS: Faça como meu pai: dê uma chance a paz.



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 13 de setembro de 2011.

4 comentários:

  1. Caraca! Comentário muito inteligente. Também não acho que tenha sido exagerada a cobertura. Foram milhares de pessoas inocentes, isso dói. De certa forma, é reconhecer que os familiares e amigos têm ombros amigos aqui no Brasil. E quanto à churrasqueira.. maior tragédia é ter uma de alumínio. hehehehe

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  2. Exatamente, Lô. Tudo isso é culpa desta paranoia com relação aos Estados Unidos que se criou, como se eles fossem os culpados de tudo... Poxa, eles deram ao mundo a Coca-Cola e o McDonald’s, não nos esqueçamos.

    E quanto à churrasqueira de alumínio, foi a nossa solução... Mas este assunto é doloroso demais para mim. Obrigado.

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  3. Parabéns, Rê! Ótima relação entre os fatos, duas linhas num bom nó!
    Beijão
    Manu

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  4. Obrigado, Manu!

    Provavelmente nós, aqui de casa, teríamos esquecido qualquer outra data de início de reforma.

    Mas era 11 de setembro de 2001...

    Beijos.

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