Comemoramos amanhã o dia da nossa Independência. Teremos, por todo o Brasil, milhares de crianças marchando (digo, andando...) em desfiles cívicos que exaltam a importância do feito para a nossa trajetória. Todas, ou a maior parte, estarão lá em troca de nota na média final ou no quesito “participação”. Elas odeiam acordar cedo. Aliás, sejamos francos: todos odeiam. Inclusive os pais, que na grande maioria vão à parada só para ver os filhos, mesmo. Ou seja: nunca ficam para ver a entrada da cavalaria.
Em geral, apenas os políticos têm saco e sorrisos para aguentar do início ao fim o desfile. Os cavalos ficam por último porque, vira e mexe, defecam no asfalto. Parece que dão Activia para os bichos antes de entrar na avenida, credo. Como seria extremamente deselegante as crianças terem que caminhar desviando das bombas fecais pela rua – mas hilário, é preciso reconhecer –, elas vão primeiro. Os pais, com elas. Perceba, há certa coincidência nisto tudo. Em Brasília funciona quase assim. O desinteresse faz com que as pessoas não voltem seus olhos para toda a merda feita. E os políticos ficam...
Método para demonstrar amor à pátria |
Desfile de 7 de Setembro também deveria ser um momento de protesto. A nata da política está reunida para acompanhar a parada, então por que não dar uma de Facebook e cutucar? Ótimo mostrar as belezas naturais do nosso país, mas não somos apenas maravilhas. Excelente ressaltar a importância da água, natureza e afins, mas, gente, quem realmente decide se é hora de fazer alguma coisa pelo planeta vai estar lá no palanque de honra, com gravatas apertadas no pescoço e broches cafonas de estrela, pássaro ou algum outro partido político...
E, afinal, comemoramos a independência de quê? Portugal não mete mais o bedelho por aqui, mas, em contrapartida, devemos dinheiro no exterior, somos dependentes de nossas exportações para outros países e mal conseguimos controlar nossas fronteiras, vertente antiga de drogas e produtos ilegais. O Brasil que somos, de modo geral, não é traduzido nas avenidas de 7 de Setembro. O Brasil que queremos ser, talvez, mas ainda assim no final a merda sempre aparece – não fossem os cavalos, não recordaríamos do quanto precisa ser feito.
Onde estão as nossas caras pintadas? |
Não, filho, é setembro. O nosso amor à pátria parece que só aflora de quatro em quatro anos – e não estou falando de eleições, obviamente. Que brasileiro era aquele, meu Deus? Que homem aquele filho dele se tornará, meu Pai? Senhor, protegei-o, ele não sabe o que diz!
Minha amargura com o pseudobrasileiro foi amenizada no mesmo dia. Ainda que não concorde com grande parte do circo do desfile, é reconfortante saber que ainda existem pessoas que amam o que representa o 7 de Setembro. Minha professora de inglês é uma destas. Comentou na última aula que a-do-ra os desfiles cívicos. Achei muito bacana ouvir, mas, de todo modo, dá uma sensação estranha ver um compatriota fazer juras de amor ao país e não usar a própria língua para manifestar tal apreço. Ainda assim, já é alguma coisa... I love you too, Brazil.
Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 6 de setembro de 2011.
Nenhum comentário:
Postar um comentário