terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Carnaval e os perigos da folia

Judas pegando o que merece...
Terça-feira passada não teve coluna porque também sou filho de Deus. E se Deus é realmente brasileiro aposto que o Senhor deve ter pulado o Carnaval, com dedinhos pra cima e tudo. Parece que até Judas saiu num bloco de sujos, o danado... Só Jesus que não curtiu a festa, anda meio pregadão. No fim ficou em casa com Pedro, que estava quase na avenida com a Maria Madalena, mas viu no “Face” dela algumas fotos suspeitas e se negou a sair na última hora. Três vezes!

Enfim, o Carnaval é o principal período de festas aqui no Brasil. É o momento em que o nosso povo pode tirar as suas fantasias do armário, e os nossos homens podem sair dele. Os quatro dias de festa – ou os 96, caso você esteja na Bahia – são provavelmente a época mais permissiva do ano. É um clima de love is in the air, de nobody é de nobody. O pessoal já sai de casa com a intenção de beijar na boca, e possivelmente em nenhuma outra parte do mundo há tanta troca de afeto. E de saliva. Sejamos francos: é preciso ter coragem para enfrentar uma boca alheia nas últimas horas da terça-feira de Carnaval, quando a folia toda já passou por ali.

Carnaval: troca de afeto e salivas²
Como eu tenho namorada, não corro esse risco – pelo menos, é o que espero. Sempre rolam aqueles comentários maldosos no período de Carnaval, de que a vida a dois não vale a pena nesta época do ano. Para quem está em meio a um compromisso sério, o jeito é esperar o Dia dos Namorados e devolver o veneno... Opa, eu disse Dia dos Namorados? Pensando bem, o povo da folia já vai voltar a dormir sozinho na Quarta-feira de Cinzas, enquanto os namorados estarão na boa e velha Quarta-feira do Sofá. Durmam com um barulho destes! Com trocadilho, por favor.

Texto de Carnaval sem bunda: não dá
Mas o.k., admito: para quem não se importa com higiene bucal, o Carnaval é uma delícia. O clima é de folia e a palavra de ordem nos quatro dias de festa é pegação. E rola muita pegação... Pega-se Aids, sífilis, gonorreia, coceirinhas em geral. E o mais grave: filhos. O mês de novembro está cheio de crianças produzidas quando os seus pais falaram “ô abre alas que eu quero passar” e as suas mães liberaram na avenida a Portela. A consequência disto é eterna, e o Carnaval não para: nove meses depois, a marchinha continua no ritmo de “mamãe eu quero mamar” e, 15 anos mais tarde, um garoto cheio de espinhas vai cantar a conhecida “ei, você aí, me dá um dinheiro aí”, enquanto você já não tem mais razão para tentar levantar a pipa do vovô em casa com aquela colombina de outrora. Faltam motivos aparentes. Na aparência dela, no caso.

Despertar na Quarta-feira de Cinzas...
Certo, exagerei um pouco, Carnaval não é apenas beijo na boca e sexo. Também tem álcool. Estes são os dias do ano em que mais sobra cerveja e falta glicose nos organismos. As consequências disto são desastrosas: acidentes nas estradas, falta de bom senso com o próximo, beijo na mulher mais feia da festa, despertar do lado de um segurança de festa chamado Átila. Definitivamente a bebida atrapalha. Ou pelo menos desorienta... Quer saber? Ainda bem que passei o Carnaval namorando.

Profissão repórter

Neste Carnaval eu cobri o desfile oficial das escolas de samba de Laguna para a RBS TV, onde trabalho atualmente, junto com o cinegrafista Gregori Flauzino. Entre um “filma nóis, Galvão” e outro, eis que surge um homem e me pergunta: “Dá pra tirar uma foto?”. “Claro”, respondi, já dando aquela ajeitadinha básica na gola da camisa pólo da Globo. “Beleza, mas tenta enquadrar só o meu amigo e eu...”.

Moral da história: Não importa onde você trabalha... O que importa é quanto o seu trabalho fotográfico ainda é reconhecido.

PS: Agora, com vocês, a Turma do Funil*!



* Essa música foi escolhida pela Veja como a melhor marchinha de Carnaval de todos os tempos!

Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 28 de fevereiro de 2012.

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