terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O calor do verão

O lado bom do verão
Verão, sol, praia. Estamos na estação mais quente do ano, quando os ânimos também se acaloram. Por todos os cantos vemos festas, bebedeiras, kuduro. Nada mais natural, o Brasil tem essa cara de verão. Culpa do Carnaval. Culpa de fevereiro. Culpa da beleza rústica que emana do sovaco suado dentro do ônibus circular cheio. Culpa da leveza da mulata que passa lentamente pela construção, parando a obra. Culpa do assassinato dos serventes, todos mortos pelo namorado ciumento da mulata. Ah, o verão. Ah, o calor.

Sim: a sua vida é uma merda
Na minha opinião, o verão é uma delícia. Mas só para quem tem dinheiro. É difícil ser pobre o ano todo, mas no verão ser pobre é pior. É dormir sem ar-condicionado. É aguentar mosquito. É usar Boa Noite espiral pendurado no garfo e esfumaçar a casa toda. É ter braço suado esfregando no seu dentro da Kombi. É passar pela catraca ensopada. É querer tomar Coca-Cola e ficar na vontade. É morrer de calor durante a semana no trabalho – onde também não tem ar-condicionado. É esperar pelo fim de semana e chover. Aliás, definitivamente, vida é chuva é sol, mas domingo é só chuva. Sejamos francos: domingo só não chove quando é seu plantão no serviço – o único dia de folga de São Pedro. No ano.

Sim, porra: a sua vida é uma merda
Resumindo tudo, verão só é bom para quem está na praia. E só quem está na praia são pessoas muito, muito ricas, e os professores. Os professores reclamam do salário o ano todo, fazem duas greves por semestre e ainda ganham dois meses de folga. Os efetivos, pelo menos, porque os ACTs (admitidos em caráter temporário) estão se acotovelando nas Secretarias de Desenvolvimento Regional para escolher as melhores vagas nas escolas. Todos devidamente encharcados de suor. É, literalmente, o calor da hora.

Além do incômodo de só pegar fim de semana chuvoso, o verão traz outros problemas, até para quem consegue curtir a praia: pessoas sem noção. Talvez seja a temperatura, talvez seja a quantidade de cerveja ingerida. O fato é que elas surgem aos montes. Esgarçam o som à beira-mar. Gritam. Usam sungas beges. Jogam latinhas pela janela do carro. Usam outras sungas beges. Se sentem as donas da orla, do mar, do pedaço. Não sabem usar as rótulas. Tomam água quente misturada com mate embaixo de guarda-sol, com 38 graus à sombra. Dizem tchê. Usam mais sungas beges.

Até o maldito Wally usa sunga bege... :(
Antes que me acusem de bullying, defendo-me: não penso que apenas os gaúchos são sem noção, muito pelo contrário. Também tem os argentinos. Argentinos são um povinho estranho. Usam tênis na beira da praia. Esticam as meias nas canelas. Se impressionam, sem disfarçar, com as bundas na areia. Trazem as sogras junto. Preferem o Maradona... Olha, argentino é um povo tão estranho que até as placas dos carros de lá são diferentes. E o pior: vem lá do país deles querendo trocar pesos pelo nosso dinheiro. Fala sério: se realmente desse para trocar peso por grana, não existia mais gordinho nesse país.

Carpe diem!
Que ninguém gosta de trabalhar no verão, todo mundo sabe, é fato. Mas verdade seja dita: ninguém gosta de trabalhar no inverno, no outono e na primavera também. O povo é danado. Dia de sol só é bom pra ficar na praia. Dia de chuva só é bom pra ficar em casa. Dia de frio só é bom pra ver filme. Dia de calor... baixa a pressão! É incrível, todo dia tem algum motivo excelente para o povo não querer trabalhar. Os dias da semana também não prestam. Segunda-feira é ressaca. Terça-feira é depressão. Quarta-feira é eternidade. Quinta-feira é longa. Sexta-feira é impaciência. Sábado é reclamação. Domingo é chuva, ou plantão. Ah, o verão. Ah, o calor.

PS: Agora, com vocês, Marina Lima...



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 31 de janeiro de 2012.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Rommana Remor, a gata do Congresso

Rommana, a gata do Congresso
Romanna Giulia Ceccon Leandro Remor Marcelino, ou simplesmente Rommana Remor, ou ainda Coisa Linda, é a nova sensação do Congresso Nacional. Desde que ela assumiu a vaga deixada pelo deputado licenciado Gean Lourero, em novembro do ano passado, os olhos do país se voltaram para a Câmara de Deputados – mais precisamente, para a dona do Fusquinha rosa. O rebuliço só fez aumentar quando anunciaram que Rommana apareceria na Playboy. Exatamente: Playboy. A parlamentar está dando o ar da graça na principal revista voltada para o público masculino que enfrenta a puberdade. Só que vestida, para desespero do futuro eleitorado.

Segredo revelado: é tudo maquiagem
Vossa Excelência apareceu na publicação do mês de janeiro – não vi, Mila – dando as suas opiniões a respeito das tentativas do Congresso em aprovar certas leis para combater a homofobia – e que, segundo ela, podem promover orientações ou práticas sexuais diferentes daquelas criadas pelo Senhor meu Deus. A opinião dela, nua e crua, é a seguinte: uma coisa é combater o preconceito; outra, é promover determinada prática sexual entre a garotada. Disse a bonitona: “Sou contra qualquer intervenção do Estado na orientação sexual dos brasileiros. Políticas públicas não podem promover orientação ou prática sexual”. Em outras palavras, digamos que ela se posicione entre o Jean Wyllis e o Jair Bolsonaro. E sem putarias.

Jean Wyllis em cima de Bolsonaro... Rá!
As mulheres estão conquistando cada vez mais espaço na política, e acho ótimo. Desde que não atrase o almoço, é claro. Mas, brincadeiras a parte, é preciso reconhecer que privar a mulherada, como antigamente, de ter cargos de destaque foi um atraso para a humanidade. Quantas deputadas e senadoras já poderiam ter estampado a Playboy? Um atraso...

Ser jovem e bonita em Brasília pode ser um problema. É preciso demonstrar constantemente aos nobres colegas que não se é apenas mais uma assessora parlamentar gostosona atrás de um golpe da barriga, um frequente incômodo. É necessário, ainda, lutar para conter o aumento da corrupção cada vez mais desenfreado, motivado pelo advento das belas deputadas e senadoras: é que quanto mais mulheres bonitas caminham pelo Congresso, mais cresce o número de interessados em mamar nas tetas do governo.

Fusca rosa: a marca da musa
Para Rommana Remor, talvez fosse mais fácil ser feia. Ela não precisaria provar constantemente que tem mais potencial do que rostinho bonito caso fosse uma mulher tenebrosa, sem charme, desprovida de qualquer beleza, escrota. Basta ver o exemplo da Dilma. A danada não precisa provar nada para ninguém nunca, sortuda. Mas engana-se quem pensa estar apenas na política o sofrimento da mulher bonita. Vide o exemplo das modelos, culpadas pela beleza e aprisionadas ao estereotipo de pessoa “prejudicada intelectualmente”. As tops falam duas ou mais línguas e há tempos já passaram do Pequeno Príncipe. Sem contar que, potrancas que são, nunca perdem o andar da carruagem. Suas lindas.

A gata tem família: ó o respeito, eleitor!
Aos mais entusiasmados com a parlamentar catarinense, é bom lembrar que Rommana Remor é casada, tem uma filha e uma enteada. Também é preciso ressaltar que não está nos planos da musa do Congresso aparecer na Playboy sem as devidas vestimentas; o jeito é se contentar com os projetos de lei e proposições com a assinatura da bela. Até porque enquanto você, futuro eleitor, está mais animado com as fotos da Vanessa Zotth lá pelo meio da Playboy deste mês, a deputada segue no Legislativo Federal tentando mostrar que pelas bandas do Congresso pode, afinal, haver alguma coisa boa.

PS: Agora, com vocês, em homenagem a Rommana... Frenéticas.



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 24 de janeiro de 2012.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Assim você me mata...

Assim você me faz te matar...
É praticamente impossível soltar um inocente “nossa” sem que alguém complete com um “assim você me mata...”. Michel Teló não apenas cravou um hit grudento na cabeça do país inteiro: ele conseguiu por em desuso uma das palavrinhas mais comuns da língua portuguesa. A fogueira seria o mínimo para tal crime – assassinato de palavra, previsto no artigo 30.013.079 do livro de normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). As autoridades só não deram cabo da vida do cantor porque apenas acadêmicos do oitavo semestre usam este livro. E nem são todos.

Cada um no seu ai, se eu te pego
O hit “Ai, se eu te Pego” foi lançado por Michel Teló no segundo semestre do ano passado. Ele foi co-criado por Sharon Axé Moi – mesma autora da canção “Cada um no seu Quadrado”, a principal compositora brasileira depois da morte de Renato Russo. A competente jornalista Fabíola Oliveira foi taxativa: alguém precisa deter esta mulher. Tentativas até então não faltaram, mas todas têm fracassado; Sharon sempre dribla a polícia fazendo Claudinho e Buchecha com giratória.

“Ai, se eu te Pego” nasceu como funk, virou forró e acabou em sertanejo universitário... Falando nisto, me espanta esta nova classificação da música derivada do caipira. Na minha opinião, se estas novas composições sertanejas são universitárias, o rock de Cazuza deveria ser PhD – e o do Restart, pré-escolar. Mas não percamos o foco: o assassinato do “nossa”. Você, homem, pode até não achar deveras grave o fim de tão singela palavrinha em um idioma mais superlotado que presídio carioca; no entanto, lembra-te, leitor: uma mulher sem assunto usa todos os itens do dicionário ao longo do dia pelo menos duas vezes. Nós, simples que somos, só necessitamos do “aham” para as respostas... mas tenhas compaixão.

Sêmen feelings: nojo, susto e safadeza
Não é que o “nossa” tenha sido varrido do mapa; ele apenas não pode mais ser pronunciado com tranquilidade. É como... sei lá, falar “sêmen” na Conferência Mundial de Freiras. E o pior é que não foi só por aqui que a palavra teve que cair em desuso: Michel Teló também conseguiu emplacar o hit na Europa – Portugal e Espanha, mais precisamente. Bastou o gajo Cristiano Ronaldo fazer a dancinha do “Ai, se eu te Pego” para que a música se espalhasse mais que chuchu em cerca. Agora a coreografia virou moda nos campos, nas quadras e nas trincheiras: até soldado treinado para matar impiedosamente qualquer ser vivo que se mexa num raio de 500 metros tomou coragem e começou a falar “nossa, assim...”.

O começo do problema...
Depois de contaminar Brasil, Portugal e Espanha, não contente, Michel Teló resolveu se meter com a principal potência militar mundial: os Estados Unidos da América. O Pentágono já estuda o que fazer para conter a música no país, considerada um grude: brasileiros que portem iPods, discmans e walkmans amarelos estão proibidos de levar na bagagem qualquer cópia da música na versão original ou traduzida. O medo é perder a interjeição “wow”, usada na versão em inglês, assim como perdemos o “nossa”. Barack Obama, pouco entusiasta do country of Harvard, como é conhecido por lá o nosso sertanejo universitário, já mandou avisar Teló pelo comandante das Forças Armadas: “Oh, if I catch you... D’oh!”.

- Delicious é a motherfucker, Teló!
Ainda não sabemos se o setor de inteligência dos Estados Unidos será capaz de conter o avanço de “Ai, se eu te Pego” no país, mas já dá para ter uma convicção: os norte-americanos com certeza estão arrependidos de ter inventado essa tal globalização. Por aqui, como já não há mais o que fazer, a música tem sido empregada para os mais variados fins, obtendo os mais diversos resultados – é o próprio Efeito Kuleshov: o hit pode ter várias interpretações, dependendo para quem se oferece. Imagine a mulher mais linda da festa: “Ai, se eu te pego...”. Imagine o José Sarney: “Aaaaai, se eu te pego...”. Tem diferença, mas o pior é que nas duas situações a resposta seria a mesma: “Nossa...”, acompanhado de um “assim você me mata”. Maldito Michel Teló.

PS: Agora, com vocês...



PS: And now, with you...



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 17 de janeiro de 2012.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Adeus ano velho, feliz ano novo...

Painho, sempre gentil com a clientela
Voltei! Nas últimas duas semanas não houve coluna porque estava em Búzios. Digo, nos búzios: é que gosto de fazer meu mapa astral no começo de cada ano, e fui consultar painho. A chegada de 2012 é por si só um grande acontecimento; é o começo do fim. Do mundo, no caso. As previsões indicam que a vida como conhecemos vai terminar este ano – o que me deixa com uma sensação de que a corrupção no Brasil vai ter fim. O.k., nem tanto.

Aos mais desavisados, os maias tinham um calendário que indicava o fim de um ciclo em 21 de dezembro de 2012. Poderia ser o começo de um ciclo novo? Sim. Mas a turma que adora tocar o terror começou a afirmar que se trata, mesmo, é do nosso bye, bye. Aqui em casa o clima é de apreensão, porque meu pai já avisou que vai se acabar no próximo dia 21 de dezembro. Crença no calendário maia? Que nada, é só o aniversário dele.

Torcida organizada Comando Vermelho
A extinção da vida humana no planeta Terra é sempre um tema interessante, mas vamos falar de algo verdadeiramente importante: futebol. O ano está movimentado no mercado da bola, com os times fazendo muitas contratações. Por todo o Brasil, as equipes têm comprado atacantes, meias e defensores. A exceção é o Corinthians, que resolveu comprar árbitros – para reforçar a lista já existente, é claro. Aliás, parabéns ao clube pela conquista do Campeonato Brasileiro de 2011, que na minha vida foi um marco: nunca mais assisti a Bandeirantes desde então. Só lamento ter perdido a festa da torcida... Dizem que a comemoração foi linda, com colchões queimados e quebra-quebra por todos os presídios do país.

Dilma e Lupi: abatido a bala
Já que citei o ano velho, façamos uma retrospectiva não cronológica dos fatos mais importantes do ano passado. Não sei qual a opinião você tem sobre 2011, mas eu achei supimpa. Muita coisa boa aconteceu neste intervalo de 365 dias, a começar pelo campo da política. Foi o primeiro ano de uma mulher à frente do Brasil, ainda que um homem esteja mandando ver atrás dela – sem trocadilhos. Estou esperançoso que a situação melhore e torcendo para que a Dilma não tire o avental e continue com a faxina. Esperançoso, também, para que não cesse a revolta: passeatas contra a corrupção eclodiram por todo o país. Corrupção, mais ainda.

Zeca Camargo e André Marques
O ano de 2011 ainda foi marcante pelo emagrecimento do Zeca Camargo e pelo prenúncio de explosão do André Marques. Também teve casamento real – que curiosamente ficou no nosso imaginário –, teve piriguete no BBB ganhando a simpatia da mulherada, teve filme de prostituta fazendo sucesso entre as donas de casa e teve o câncer do Gianecchini, do Lula, da Cristina, do Chávez, do Kiko e do Nhonho. Culpa dos norte-americanos, óbvio.

Ainda não me conformei...
Para o pessoal da metralhadora, o ano foi agitado. Muammar Kadhafi foi assassinado e literalmente virou presunto: passou quatro dias em um frigorífico. Quem também passou desta para a pior foi Osama Bin Laden. O terrorista acabou morto e jogado no mar, o que causou uma onda de revoltas. Entre os peixes, no caso. Por falar em mortos, também perdemos personalidades importantíssimas ao longo do ano passado, como José Alencar, Steve Jobs, Amy Winehouse, Sócrates, Joãosinho Trinta e Lacraia da Eguinha Pocotó. Lamentável.

Anime-se: o fim está mais próximo!!!
Estamos mais perto da Copa de 2014 e a expectativa é enorme. Pela aposentadoria do Galvão Bueno, no caso. Sinto que a vida até lá tende a melhorar muito, com as pessoas se respeitando mais, com os políticos sendo honestos, com os homens não mais usando som alto à beira-mar, com o fim do Calypso e da TPM. Tudo isto só por causa da aposentadoria do Galvão Bueno... Talvez eu seja um sonhador, mas a humanidade só caminha por conta de devaneios, vodka barata e camisinhas furadas. E sobre o fim do mundo? Duvido muito. Se tivesse um palpite, diria que você, eu e o Oscar Niemeyer ainda temos muito que viver pela frente... Mas, por via das dúvidas, aproveite o ano: pode ser o último.

PS: Agora, com vocês, Amigos!



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 10 de janeiro de 2012.