Esse mundo só não é pior porque é uma bola; acho que se fossem duas seria um saco. Ainda assim ele está repleto de maldades e mesquinharias. Aos mais desavisados, mesquinho, segundo o dicionário Michaelis, é alguém “sem qualidades de grandeza”. Ou o “cavalo que não deixa pegar na cabeça, especialmente nas orelhas, por isso é difícil pôr-lhe o cabresto, buçal ou freio”, o que me lembra que certas vezes me dá medo consultar o dicionário.
Concentremos-nos nas pessoas “sem qualidades de grandeza”. Elas existem aos montes. Estão constantemente preocupadas com a etiqueta da roupa, o veículo na garagem e o tamanho da casa. É o maldito status. Status, como já se definiu há um bom tempo, é comprar aquilo que você não precisa, com o dinheiro que você não tem, para mostrar às pessoas que você não gosta alguém que você não é. Status, segundo o dicionário Michaelis, é uma merda.
Vejo muitas pessoas vazias caminhando por este mundo, e acredito que o termo não é facilmente compreendido. Uma vez joguei na cara de um gordinho que ele era uma pessoa vazia. Ficou feliz. No mesmo dia largou a dieta e voltou a comer McDonald’s com Coca-Cola. Antes ele só comia o McDonald’s.
Big Big Mac
Uma pessoa vazia, no meu entendimento, é alguém que não está em busca de ser o melhor que pode ser; está em busca de ser melhor do que os outros, de fato, são. Inveja. O grande problema deste modo de se viver é que não apenas o sucesso pessoal é valorizado, mas também o fracasso alheio: “se minha casa não pode ser maior que a do vizinho, que bom que a dele desmoronou”, refletia o gordinho com o Big Mac na mão...
Parabéns pelo corte de gastos, chefe!
Não viva assim. Já tem gente demais perdendo tempo ao lado de pessoas de que não gosta realmente para alimentar algum interesse banal. São sujeitos sempre dispostos a dar tapinha nas costas do chefe e falar mal dele na hora do café para os colegas. São indivíduos que fazem amizade com um cara porque ele é amigo de uma garota que é prima de alguém que conhece um produtor que pode elevar a sua carreira – ou seu status... Crie laços que verdadeiramente sejam prazerosos de se manter. Por afeto, não por conveniência.
Essa levou muito golpe de barriga para dar golpe da barriga...
E se amizade por interesse já é terrível, ainda tem algo pior: relacionamento por interesse. Há quem acredite que subir na vida é “dar para o homem certo”, e faça disto uma meta. São prostitutas de luxo. E pior do que quem aplica, é quem cai no velho golpe da barriga, mais antigo até que o do bilhete premiado. Existem velhos ricaços, devidamente carecas e pançudos, que creem no amor verdadeiro de siliconadas garotas de 25 anos sem restrições sexuais. Como também há milhares de endinheiradas mulheres com idade avançada que acredita ser possível existir um jovem mancebo sedento por, veja só, carinho e sexo com idosas.
Além do relacionamento por interesse financeiro, há outra modalidade – tão mesquinha quanto – que se baseia na carência. Esta palavra é constantemente usada para justificar um relacionamento que é fundamentado no interesse. Posso ser careta, mas não entendo uma pessoa que namora outra e não tem o objetivo claro de ficar realmente com ela; sim, estou me referindo a casamento. E, sim, sei que os homens que chegaram até aqui fugiram da leitura do restante do texto... Mas é o que penso. Quando se está ao lado de uma pessoa, você tem que ao menos vislumbrar a sua vida ao lado dela, senão, vale de quê? Namoro por carência é uma piada. Você pode muito bem se deitar no sofá e ganhar cafuné da sua mãe. Pode comprar um cachorro e ser recebido todo dia por alguém que estava com saudade – caso você o alimente. E quanto a sexo... sejamos francos: do jeito que a coisa anda, não é difícil conseguir. Só não tente com sua mãe e seu cachorro.
O danado do meu vizinho provoca...
O texto está chegando ao fim, e como Cazuza fez um dia gostaria de dedicá-lo para aquelas “pessoas de alma bem pequena, remoendo pequenos problemas, querendo sempre aquilo que não têm”. Talvez não seja uma boa conclusão, mas tenho que ir até a agropecuária mais próxima comprar adubo: a grama do vizinho me parece mais verde.
PS: Agora, com vocês, a homenagem de Cazuza...
Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 25 de outubro de 2011.
As crianças odeiam ter que escovar os dentes após as refeições; logo, as crianças de Serra Leoa são mais felizes...
Ore e me adore antes que eu te cobre!
Leitor, este é o chamado humor negro, prazer. Neste tipo de piada, situações trágicas são usadas para fazer rir. Nem sempre conseguem. Humor negro é como Síndrome de Down: ou você tem, ou você não tem. Fui apresentado ao melhor – ou pior, depende do ponto de vista – do humor negro por dois amigos da faculdade de Jornalismo que têm, obviamente, o lugar garantido no inferno; Deus não tolera este tipo de piada no céu. A não ser que você contribua com os seus 10% mensalmente, claro... (by Edir Macedo)
O humor negro passou a ser mais frequente, imagino, com o fim da ditadura e o período em que passou a vigorar a liberdade de expressão: a princípio, neste país, você pode emitir qualquer opinião livremente – e ser processado pelo que disser, mas, enfim. Com esta liberdade assegurada, este tipo de humor passou a estar presente em nosso cotidiano pelas mais variadas formas. Até em cantada, vejam só, já existe humor negro. “Gata, se esta pista de dança fosse um tabuleiro de xadrez, você seria a rainha!”. “Que fofo! Por quê?”. “Por que estou louco para te co...”. O que define se o rapaz se dará bem ou não com a cantada é o fato de a garota gostar ou não de humor negro. Talvez o fato de ela ser ou não safada também influencie... Bem, talvez seja só isto.
O humor negro está presente, ainda, na televisão, em programas como o Pânico na TV, da Rede TV!, e como o CQC (Custe o Que Custar), da Band – que trouxe para a telinha humoristas que já praticavam este tipo de humor no stand-up comedy, tipo de apresentação na qual o humorista ou comediante aparece de cara limpa, sem fazer personagens, e começa a “contar causos”. E é sobre esta invasão do humor negro à televisão que eu gostaria de falar...
Rafinha Bastos, Marcelo Tas e Marco Oportunista Luque
O episódio aconteceu há quatro semanas. Durante o CQC, programa transmitido às segundas-feiras à noite, a cantora Wanessa Camargo foi mencionada. Marcelo Tas, um dos três homens que compõe a bancada, cita que a filha de Zezé di Camargo estava linda no quarto ou quinto mês de gravidez – não com a entonação de uma mulher em um salão de beleza pintando as unhas, veja bem; da forma, sim, como um homem se referiria a uma mulher durante a terceira rodada de cerveja em um bar. Eis que surge o humorista Rafinha Bastos, outro integrante da bancada, e ao melhor estilo “humor negro na roda de boteco” finaliza o assunto: “Eu comeria ela e o bebê”. Parte da plateia ri, o assunto muda, termina o nosso flashback.
Essa pelo menos não engravida, né, Ronaldão?
Dias depois Rafinha Bastos foi afastado pela cúpula da emissora, que decidiu retirá-lo da bancada do programa como forma de punição pela piada. Antes disto, Ronaldo – o craque da camisa número 9 e o eterno ex de Milene Domingues, Daniella Cicarelli e Andréia Albertini – telefonou para a Band para reclamar da piada feita. Ronaldo é amigo e sócio do marido de Wanessa, Marcus Buaiz. Marco Luque, o terceiro integrante da bancada do programa, também soltou na imprensa uma nota de repúdio à piada feita pelo colega de CQC, em apoio ao casal, de quem diz ser amigo – além, “claro”, de ser contratado pela empresa de Buaiz para fazer propaganda para uma operadora de celular.
O ocorrido nos leva a pensar sobre diversas questões, como liberdade de expressão – a favor de Rafinha Bastos – e responsabilidade ética, moral e bons costumes na TV – contra. A piada de Rafinha Bastos foi um cocô? Foi. Não porque era de humor negro, mas porque foi ruim mesmo. Foi uma espécie de “humor negro sem humor”. E você sabe, quando só fica negro...
O humorista é adepto confesso deste tipo de piada. Sempre usou em apresentações de stand-up antes de ser contratado pela Band. Era óbvio que, mais cedo ou mais tarde, faria humor negro e desagradaria parte do público – a que não é tão chegada ao estilo, especificamente. A piada foi ruim, mas ainda assim era uma piada. Quem gosta de humor negro, rindo ou não, achou normal; quem odeia, além de não gostar, se ofendeu. A diferença é esta, e só esta, leitor. Você vê? Acredito que sim. Até porque coluna de jornal não é feita para cegos...
PS: Sim, este texto contém humor negro de cabo a rabo, mas não se preocupe: pagarei meus 10%.
Agora, com vocês, uma música com humor negro...
Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 18 de outubro de 2011.
Popeye fumava até em lugares fechados na minha época
Eu fui criança por muito tempo. Durante toda a minha infância, mais ou menos. As coisas eram bem diferentes naquela época – que acabou há uns 10 ou 12 anos. O Estado permitia que os pais dessem palmadas nos filhos. Não havia bullying – a denominação, no caso. A Laranjinha Água da Serra custava R$ 0,30. O SBT viva exibindo Chaves. Bem, ainda vive. A Manchete existia. A Record ainda era uma emissora pequena, e não uma “TV universal”. A Sessão da Tarde passava filmes dos Trapalhões. Os personagens de desenhos da Disney e da Warner apareciam fumando! Os meninos brincavam com réplicas de armas de fogo, e nenhum aluno matava outro nas escolas por influência de jogos.
As crianças não sabiam usar o Word e – Jesus! – não havia internet. As pesquisas eram feitas nas bibliotecas, e não no Google, e todo estudante conhecia o que era Barsa. Os pais sabiam onde os filhos estavam sem ter que recorrer ao telefone celular. Havia piolho. Subíamos em árvores. Usávamos estilingues. Soltávamos pipas. Malhação ainda se passava em uma academia, e o título do seriado fazia sentido. André Marques era magro... Dengue era só um bicho da Xuxa – que naquela época fazia programas com audiência e ainda por cima pegava o Senna, a danada.
Yes, eu tive TV CRUJ e Doug Funny na infância!
É engraçado que as palavras “quando era criança”, ordenadas exatamente deste modo, geralmente vêm acompanhadas de algo como “tudo era diferente”. A geração anterior sempre acha que a seguinte não teve infância, se é que isto é possível. Meus pais acham que eu não fui feliz como eles foram por nunca ter andado de rolimã ou jogado pião – consulte o dicionário, caso preciso. O mais estranho é que eu acho que esta atual geração também não pode ser tão feliz como foi a minha. Estas crianças nunca andaram de roller, de patins ou de patinete; não jogaram bolinhas de gude, Tazo ou bafo com santinhos de políticos; nem imaginam o que é Mário Kart e nunca viram Castelo Rá-Tim-Bum, Glub-Glub ou TV CRUJ (Comitê Revolucionário Ultra-Jovem).
Isto já foi muito, muuuuito legal
O fato é que acreditamos que as crianças da geração seguinte não são felizes como fomos justamente porque aquilo que nos fez feliz já não existe mais, foi superado por novas tecnologias, brinquedos e brincadeiras. Um Nintendinho não tira o menor sorriso de um menino que cresceu com PlayStation e Nintendo Wii. Mas isto não quer dizer que não seja divertido: só quer dizer que o mundo atualizou-se. Só quer dizer que o tempo passou para nós. Só quer dizer que estamos velhos, e temos que aceitar o fato de que uma criança de 5 anos aprende mais rapidamente a lidar com um iPhone do que nós, a geração que o criou.
Às crianças, se eu pudesse dar apenas uma dica, diria o seguinte: use filtro solar. Os benefícios a longo prazo do uso de filtro solar estão provados e comprovados... O.k., a pombagira do Pedro Bial já passou. Se eu pudesse dar apenas uma dica às crianças mesmo, de verdade, diria o seguinte: divirtam-se. O tempo nesta fase parece ser muito longo, os anos parecem passar devagar, mas é um engano; quando você menos esperar, acabou o ginásio, digo, a 8ª Série, digo, o 9º Ano – Deus, como estou velho! Aí você vai ver que aqueles três anos do Ensino Médio vão passar voando, aqueles quatro ou cinco da faculdade vão ser ainda mais rápidos e você terá que assumir todos os compromissos, carnês e contas que comprovam que, sim, você já é um adulto. Quando você se der conta, talvez perceba que nunca teve um dia de “Curtindo a Vida Adoidado”, ou nunca fez uma festa ao melhor estilo “American Pie”,
Onde é que a gente compra um destes?
e talvez perceba que aos amigos que jurou jamais se separar não cumpriu com a promessa; os caminhos os levaram a destinos longínquos uns dos outros. Talvez você se pegue em meio a uma coluna de jornal falando disto tudo e sentindo saudade, palavra maldita que infelizmente existe nesta língua. Talvez você queira voltar no tempo, mas acabe por aceitar que seu carro não pode ir rumo ao passado para depois ir de volta para o futuro. Sei que você que ainda não completou duas décadas não entendeu o trocadilho. Aliás, talvez não tenha entendido nada... Mas, daqui a uns anos, mais velho, vai perceber que, quando era criança, tudo era diferente.
Se tem uma coisa que eu aprendi por não ter que lavar roupas na minha infância, é o seguinte: se sujar, faz bem
PS: Quando era pequeno, isso existia:
Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 11 de outubro de 2011.
Existe um velho mito, repassado de geração em geração, que há tempos me incomoda. O desconforto causado pela afamada lenda começou por volta de meus 12 anos, quando, uma a uma, minhas colegas de aula começaram a ficar “mocinhas”. Na coluna de hoje, gostaria de por um ponto final na questão: a velha história de que a Tensão Pré-menstrual (TPM) afeta as mulheres. Que bobagem... A TPM afeta, mesmo, os homens.
O amigo leitor que convive diretamente com ao menos uma mulher em casa ou no trabalho já entendeu aonde quero chegar. As feministas mais radicais não alcançaram este segundo parágrafo. As mulheres que, por coincidência, estão na fase que antecede a menstruação prosseguiram com a leitura só a fim de ter mais embasamento para me dar um tiro na próxima esquina. Mas é importante a discussão. Feito meu testamento, avanço com a teoria.
As mulheres não sofrem com a TPM, quem sofre são os homens. Veja bem, a mulher tem todo o direito de ficar – por um período que pode ser superior a uma semana... – impaciente, depressiva, intolerante, inquieta, revoltada, indisposta, chateada, intocável, carente, triste, insuportável, feia no espelho, gordinha no espelho, quebrar o espelho, chata de galocha de verdade. Os homens, não. E mais – e é aqui que a teoria ganha força: a nós cabe apenas compreender e aceitar. Tão somente isto!
Ahnnn?! Ele desligou primeiro?! Mas que filho da...
Se para tudo na vida há um propósito estabelecido por Deus, a TPM foi criada pelo capeta. Só mesmo o diabo do satanás poderia ter planejado algo tão infeliz – a nós, homens. Há que reconhecer, todavia, a importância da Tensão Pré-menstrual para a humanidade. Thomas Edison criou a lâmpada pelo medo que sentia de ficar em casa no escuro com a própria mulher. Alexander Graham Bell bolou o telefone a pedido de uma namorada com fortes crises de TPM, a qual queria saber quem desligava primeiro. Mark Zuckerberg, por sua vez, inventou o Facebook só para admitir, publicamente, que estava “em um relacionamento sério”. E assim, bem como nossos semelhantes, vamos nos submetendo às vontades delas...
PORRA, Palocci, O QUE FOI? Como, nada? Sei...
Pesquisadores britânicos iniciaram uma pesquisa só com mulheres em estado de Tensão Pré-menstrual. Não há registro de sobreviventes em tal laboratório. Já nos Estados Unidos um estudo feito em um presídio feminino teve êxito – com elas enjauladas, ficou mais fácil. Os cientistas descobriram que 50% das presas haviam cometido crimes no período pré-menstrual. Percebe-se que já há um consenso em reconhecer que estes dias que antecedem a menstruação afetam realmente as mulheres. Na Inglaterra, a TPM pode servir de atenuante à pena de uma criminosa; o próximo passo é a comunidade acadêmica reconhecer o atenuante para a pena do homem que mata uma mulher em TPM, afinal ele também estava sob pressão. Ainda não há projetos de lei neste sentido tramitando no Congresso Nacional, apesar da relevância do tema. O problema é o medo causado pela TPM da presidente Dilma Rousseff – a qual parece durar o mês todo.
Os atuais esforços de grupos científicos espalhados pelos quatro cantos deste mundo redondo consistem em reordenar o significado das siglas para TPM. Entre as opções já sugeridas pelos pesquisadores, temos: Todos os Problemas Misturados; Tempo Para Meditação; Toda Problemática no Momento; Total Paranóia Mental; Totalmente Pirada e Maluca; Tente no Próximo Mês; Tô Pirada Mesmo; Tendências a Patadas e Murros; Tocou, Perguntou, Morreu; Temporada Proibida para Machos; Tô Puta Mesmo; Tendência Para Matar; Tire as Patas, Moleque; Tenha Paciência, Meu; Tira a Porra da Mão! O nome ainda não foi definido, mas os pesquisadores nunca mais voltaram para casa.
Ops... Ai, como tô bandida!
Não há método comprovado cientificamente para um homem combater com sucesso uma Tensão Pré-menstrual, mas ao longo da vida aprendi algumas coisas. 1º) Não faça perguntas tolas; aliás, não faça perguntas. 2º) Jamais responda com “não sei”, “talvez” ou “tanto faz”; ou você usa a afirmativa “sim”, ou você usa a afirmativa “não”. 3º) Acerte a afirmativa. 4º) Ligue sempre, mesmo sem ter nada para falar. 5º) Jamais fique sem falar nada ao telefone, você não gosta de conversar com ela? Por que você ligou? Você não a ama mais, cretino? 6º) Nunca desligue primeiro. Talvez, mesmo com todos estes esforços, nada dê certo. Por via das dúvidas, tenha sempre chocolate por perto.
PS: Agora, com vocês, uma música sobre TPM...
PS: Por fim, uma história real sobre um dia de fúria...
Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 4 de outubro de 2011.