Ops! Acho que vi o Velho do Saco... |
Dizem que sentir medo faz bem. O pavor seria uma espécie de bloqueio natural a ideias malucas que às vezes todo mundo tem. Como pular de algum lugar bem alto achando que é possível flutuar durante a queda com o guarda-chuva aberto. Tolice. Qualquer idiota sabe que isto só funciona com o guarda-sol. E se você não for o André Marques. Pois bem, dizem que até os mais bravos guerreiros sentiam temores durante a guerra. A diferença é que os covardes fugiam ao primeiro sinal de pavor, enquanto que os ladinos ficavam para morrer. Acho digno: nada mais nobre do que uma homenagem póstuma – a não ser que seja na Assembleia Legislativa, é claro.
Algumas apreensões são comuns a todas as pessoas, penso eu. Como o receio de perder os pais, por exemplo, algo que não desejo para ninguém: já perdi os meus cinco vezes, três no supermercado e duas no Centro. Também é muito comum o medo do escuro, especialmente entre as crianças e os monstros que dormem sob as camas delas. Esta aflição, de fato, não passa de bobagem: todo mundo sabe que nada acontece no escuro se você estiver devidamente tampado até a cabeça com a coberta.
Homens e mulheres têm medos específicos. Nós, por exemplo, tememos acordar sem nossos pênis. Elas, por sua vez, temem que acordemos sem nossos carros. Sofremos com a possibilidade do time do coração ser rebaixado – algo, por sinal, só comparável a acordar sem pênis. Nossas companheiras, se afligem com a chance de perder alguma liquidação ou torra-torra – algo como chegar à festa com o “mesmo vestido daquela vaca”.
A vida é assim, um eterno apavorar-se. Mas, vamos lá, prometi que entregaria alguns medos próprios nesta coluna. Chegou o momento. Só peço que tentem esquecer disto tudo até a próxima semana. Tem coluna nova, não retomemos o assunto. Pois bem. Tenho medo de andar na rua à noite, tanto em Araranguá como em Criciúma. Fico olhando para os lados, meio desconfiado. Sinto-me como numa Gotham City sem Batman. Tenho medo de choque elétrico. Levei um forte, numa viagem com o pessoal da faculdade, ao sair da piscina para instalar o notebook na caixa de som – talvez (talvez!) devesse ter me secado com a toalha antes.
Também tenho medo de cobras. Especialmente as humanas, raça extremamente venenosa contra a qual não há soro antiofídico. Tenho medo de atropelar animais. Acho que já atropelei um passarinho – é sério – e já matei um cachorro. Mas este, pelo modo como se atirou na frente do automóvel, era suicida. Também tenho medo de prender os testículos na porta do carro. E de ter um pesadelo erótico com a Preta Gil. Sei lá. Acho até que prefiro acordar sem o pênis...
PS: Agora, com vocês, uma pessoa com medo:
Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 24 de julho de 2012.
Perder os pais cinco vezes, três no supermercado e duas no centro é pra moer... Tu é um figura. Grande figura! Abraço!!! (Keto)
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