terça-feira, 24 de julho de 2012

Eu tenho medo


Ops! Acho que vi o Velho do Saco...
Sou obrigado a confessar: tenho medo. Aliás, medos. Mas não que eu seja um simples medroso qualquer. Não, nada disto. Sou um legítimo Cagão, com maiúsculo e sem músculo. Também não pense que é fácil, para mim, falar abertamente sobre aquilo que me assombra – já que tais informações podem ser usadas contra a minha pessoa em uma ocasião futura. Torço, contudo, para que ninguém utilize este texto para me fazer mal. E, pra ser honesto, não acredito que algum leitor leve adiante possibilidades como a de me enterrar vivo com o único intuito de dar um cagaço – primeira apreensão que entrego.

Dizem que sentir medo faz bem. O pavor seria uma espécie de bloqueio natural a ideias malucas que às vezes todo mundo tem. Como pular de algum lugar bem alto achando que é possível flutuar durante a queda com o guarda-chuva aberto. Tolice. Qualquer idiota sabe que isto só funciona com o guarda-sol. E se você não for o André Marques. Pois bem, dizem que até os mais bravos guerreiros sentiam temores durante a guerra. A diferença é que os covardes fugiam ao primeiro sinal de pavor, enquanto que os ladinos ficavam para morrer. Acho digno: nada mais nobre do que uma homenagem póstuma – a não ser que seja na Assembleia Legislativa, é claro.

Algumas apreensões são comuns a todas as pessoas, penso eu. Como o receio de perder os pais, por exemplo, algo que não desejo para ninguém: já perdi os meus cinco vezes, três no supermercado e duas no Centro. Também é muito comum o medo do escuro, especialmente entre as crianças e os monstros que dormem sob as camas delas. Esta aflição, de fato, não passa de bobagem: todo mundo sabe que nada acontece no escuro se você estiver devidamente tampado até a cabeça com a coberta.

Homens e mulheres têm medos específicos. Nós, por exemplo, tememos acordar sem nossos pênis. Elas, por sua vez, temem que acordemos sem nossos carros. Sofremos com a possibilidade do time do coração ser rebaixado – algo, por sinal, só comparável a acordar sem pênis. Nossas companheiras, se afligem com a chance de perder alguma liquidação ou torra-torra – algo como chegar à festa com o “mesmo vestido daquela vaca”.

A vida é assim, um eterno apavorar-se. Mas, vamos lá, prometi que entregaria alguns medos próprios nesta coluna. Chegou o momento. Só peço que tentem esquecer disto tudo até a próxima semana. Tem coluna nova, não retomemos o assunto. Pois bem. Tenho medo de andar na rua à noite, tanto em Araranguá como em Criciúma. Fico olhando para os lados, meio desconfiado. Sinto-me como numa Gotham City sem Batman. Tenho medo de choque elétrico. Levei um forte, numa viagem com o pessoal da faculdade, ao sair da piscina para instalar o notebook na caixa de som – talvez (talvez!) devesse ter me secado com a toalha antes.

Também tenho medo de cobras. Especialmente as humanas, raça extremamente venenosa contra a qual não há soro antiofídico. Tenho medo de atropelar animais. Acho que já atropelei um passarinho – é sério – e já matei um cachorro. Mas este, pelo modo como se atirou na frente do automóvel, era suicida. Também tenho medo de prender os testículos na porta do carro. E de ter um pesadelo erótico com a Preta Gil. Sei lá. Acho até que prefiro acordar sem o pênis...

PS: Agora, com vocês, uma pessoa com medo:



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 24 de julho de 2012.

Um comentário:

  1. Perder os pais cinco vezes, três no supermercado e duas no centro é pra moer... Tu é um figura. Grande figura! Abraço!!! (Keto)

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