terça-feira, 13 de agosto de 2013

É cedo ou tarde demais?

Hasta la vista, baby!
Eu nunca fui muito bom para terminar relacionamentos. Nunca. Sou do tipo de cara que acorda com alguém na cama depois de uma festa e namora três meses com esta pessoa só por não saber como dar fim ao caso. É o medo de chegar na lata e falar: “Gilberto, a gente precisa conversar...”. O quê, não é comum despertar ao lado do leão de chácara da zona? Não? Ok, vamos adiante.

Também nunca fui muito bom em definir quando algo deve chegar ao fim. A garrafa de vodka, por exemplo. Até porque vodka ou água de coco, pra mim, tanto faz. Falando assim até parece que sou algum tipo de beberrão crônico. Besteira. Nunca tive problemas com a bebida. Só com a Polícia.

Mentira. Não sou do tipo que bebe todo dia. Mas um velho ditado afirma que não se faz amigos tomando leite. Já foi até comprovado que em algumas pessoas o ato de mamar gera certa intransigência persistente durante toda a vida. É o que chamam popularmente de intolerância “à lactose”. E, sim, esta foi apenas uma piada ruim.

Eu também tenho uma dificuldade enorme em dizer não. Sim. Qualquer pessoa com alto poder de convencimento consegue me persuadir. Minha irmã de onze meses de idade, por exemplo. Uma mente brilhante aparentemente inofensiva que vicia qualquer adulto Ph.D nas músicas da Galinha Pintadinha. Basta que ela ameace um chorinho pra que eu atenda todos os seus pedidos – um prolongamento da voltinha na rua ou a 437ª ida até o brinquedo que ela decidiu jogar ao chão.

Também preciso estar atento a tudo. Especialmente com as mulheres. Minha namorada é capaz de estourar o meu cartão de crédito e durante a discussão me fazer sentir culpado. “Tudo bem, benzinho, você precisava mesmo daquelas três bolsas novas...”. Claro que precisava. Meu limite é que é baixo!

Meus pais são outros que sempre conseguem me fazer sentir culpado. Por coisas simples, como não lavar a louça ou esquecer de religar o marca-passo da vovó. Mas o que mais os incomoda mesmo é minha ausência em datas especiais, fins de semana e feriados. Fico me perguntando se a formatura não bastou para que eles entendessem que eu havia me tornado um jornalista...

Você talvez já tenha percebido, querido leitor: estou enrolando. Preciso retomar o pensamento. Sempre tive dificuldade em colocar pontos finais. Vírgulas e reticências são mais fáceis. Você não precisa encontrar uma frase de efeito, não se preocupa em deixar uma boa impressão na saída, ainda não tem que encontrar as chaves na bolsa. Tudo é mais simples.

Vamos direto ao ponto: esta é minha última coluna no Jornal Sem Censura. Há muito tempo ando sem muito tempo. Basta ver pelos textos publicados neste espaço. Sempre tentei ser original e nos últimos meses acabei virando uma repetição de mim mesmo. Você, leitor, merece mais do que colunas republicadas. E não posso oferecer isto agora. Assumi compromissos que me impedem de revisitar este meu passatempo tão querido.

Agradeço pelo espaço dado. Não é todo jornal que tem coragem de abrir caminho para qualquer devaneio – sem nunca questionar a linha editorial, vale ressaltar. E foi exatamente por esta coluna que ganhei muito, muito Prestígio. E também Chokito e alguns Diamantes Negros, todos deliciosos.

Em alguns comentários favoráveis aos textos, cheguei a ouvir o absurdo da comparação ao mestre Luis Fernando Verissimo. Blasfêmia. Ainda preciso comer muito arroz com feijão, beber muita Catuaba e decorar o Aurélio de traz pra frente e de frente pra adiante pra chegar aos pés do gaúcho. Ainda que eu também seja gaúcho e isto crie uma certa relação homoconterrânea.

Ivan Lessa, ao se despedir da Playboy, contou que sempre escreveu os textos nu. E suando em bicas. A verdade é que sempre estive mais para Ivan Lessa do que para Luis Fernando Verissimo. Entenda como quiser. E se ainda não pareceu, pela minha dificuldade em por fim a tudo, isto é um adeus, Gilberto.

PS: Agora, com vocês... adivinhem... adivinhem! Pois é:



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 26 de fevereiro de 2013.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

O verdadeiro amor dos homens


Futebol: 22 correndo, um torcendo e outra espumando
Poucas coisas neste mundo podem ser maiores do que aquele amor que todo homem de verdade sente no fundo do peito. Pelo futebol. Boa parte das mulheres – a maior, provavelmente – não compreende o nosso apreço pelo esporte bretão. Estas apenas toleram tal paixão ao constatarem que toda e qualquer ladainha contrária é ineficaz: em dia de jogo, a TV é nossa. A-rrá, u-rru.

O vínculo que temos com a modalidade é indiscutível, inexplicável, indelével, integral e, por que não, inútil. Sim, é notório que não existe proveito, mas nem sempre é socialmente aceitável reunir-se com o grupo de amigos para xingar em uníssono um suposto bandido. E a tarefa do árbitro de futebol, sejamos francos, é tão somente esta: apitar e ter a honestidade da mãe contestada.

Os homens já nascem com uma pré-disposição genética e hormonal ao esporte. Viemos ao mundo com a obrigação de administrar bolas desde muito cedo e, com o passar do tempo, também entendemos o valor que tem uma boa pelada. E nada pode ser tão gostoso quanto meter pra dentro entre as pernas, mas não se enganem: a bola que passa entre as chuteiras do goleiro e cruza a meta adversária é o ápice do prazer masculino.

O gosto pelo futebol é adquirido logo nos primeiros anos de nossa vida. Artefatos esportivos são itens obrigatórios no enxoval de um bebê. A paixão por determinado clube costuma ser hereditária, mas o velho “tal pai, tal filho” nem sempre cola. Escolhas contrárias costumam ser perdoadas com o passar dos anos – caso o time selecionado não seja o maior rival do velho, é claro. Eu mesmo torci por muitos clubes até chegar ao mesmo do meu pai. A tática dele foi só me presentear com produtos da sua equipe. Era aceitar, ou me tornar um torcedor não-uniformizado. Não restou o que fazer.

Minha namorada é do tipo que não suporta futebol e, quando tenta, comete alguma gafe. No último dia de jogo, por exemplo, ela comentou que ouviu rumores de uma suposta compra que o São Paulo faria do jogador Ventijo, meio-campo do Cruzeiro. O nome do rapaz é Montillo e o camisa 10 é um dos principais atletas do Brasileirão. Um desdém imperdoável, que abalou o nosso relacionamento. Pelas minhas risadas, no caso: passei dois tempos de 45 minutos pedindo desculpas pelo sarrinho e só fui perdoado nos acréscimos.

Não culpo as mulheres pela baixa popularidade do futebol entre elas; culpo a CBF, a grande responsável pelo ódio feminino ao esporte. O maior problema é o calendário de jogos conflitante com os interesses da mulher. A bola costuma rolar no domingo, dia em que deveríamos visitar a mãe delas; e na quarta-feira, dia do sofá e filme comédia-romântica. São atividades maravilhosas, obviamente adoraríamos ter estes instantes adoráveis ao lado de vocês, mas tentem nos entender: não dá para jogar canastra com a sogra ou ver Antes que Termine o Dia no DVD sabendo que nosso time está em campo e estamos perdendo a chance de xingar a mãe de um bandido. Sem escolhas, imploramos pelo controle da TV, mesmo com a certeza de que, fatidicamente, a noite vai terminar em zero a zero. É muito amor.

PS: Agora, com vocês, Skank:



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 25 de setembro de 2012.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Um estranho no ninho

Gay sensualizando pra geral: cena cada vez mais comum
Ultimamente me parece que o mundo está ao contrário e ninguém reparou – para ser bem original. É como se tudo estivesse exatamente idêntico, só que do avesso. A começar pelas mulheres reivindicando os mesmos direitos dos homens. O.k., até aí nada de novo; a novidade é o oposto. Pois, sim, o vulgo sexo forte tem exigido alguns benefícios antes restritos ao frágil. Até na cama: nunca tantos exemplares masculinos quiseram abocanhar – sugiro evitar reflexões figurativas – os companheiros anatomicamente desenvolvidos para elas. E – Jesus, Maria, José! – vice-versa.

Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia. A conversa envereda para o sexo porque, afinal de contas, viemos para este planeta com uma tarefa pré-definida bem básica: crescei e multiplicai-vos. O problema é que este mundo nunca foi tão gay, colocando em risco o futuro da espécie. Reconheço que já conseguiram engravidar o Arnold Schwarzenegger uma vez, mas cassaram o registro médico do doutor Danny DeVito na mesma época em que foi condenado o doutor Albieri. Informações de coxia dão conta de que a Igreja Católica embasou o contraponto: não houve aprovação para a gravidez masculina, os clones humanos e as camisinhas de Vênus.

Às vezes pode até passar despercebido, mas eu sei que alguma coisa aconteceu, está tudo assim tão diferente... Se lembra quando a gente era criança e havia dois grupos bem definidos? De um lado, ficavam os meninos; correndo atrás de bolas, soltando gases, fedendo, de modo geral. Do outro, estavam as meninas; algumas mais molecas, outras mais rosas na essência, frescas, num resumo. Simplesmente nos odiávamos. E é então que entra a ação do influente tempo, aumentando bíceps e arredondando quadris, num esforço para a aproximação. E passamos a nos dar. E algumas se dão bastante.

Em algum momento no meio disso – entenda como quiser – há um descompasso na orientação da natureza. Pinta uma dúvida e o garoto não resiste à pintada: decide que o que lhe provoca desejo realmente é a turma do mesmo vestiário. Confesso que entendo mais facilmente a atração que uma mulher sente por outra, afinal são elas que também me atraem; mas, em contrapartida, sexualmente falando, acho mais autoexplicativa a relação entre dois homens. Ainda que seja leigo, é bom que se diga.

Faça o que tu queres, há de ser tudo da lei! Só aumenta a quantidade de amigos meus que são ou viram gays – e não vejo qualquer problema nisto. Talvez vivamos a liberação sexual mais intensa de todos os tempos. Começou nos anos 70, mas naquela época os liberais ainda eram caretas ao ponto de preferirem o sexo oposto – ah, clichê... O moderno agora é investir no mesmo. E ai de quem achar estranho! O presente já não faz sentido e o futuro nunca foi tão incerto. Só sei que me sinto cada vez mais antiquado. Amém.

PS: Agora, com vocês, uma homenagem! :D



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 4 de setembro de 2012.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Em campanha

- E o seu voto, quanto vale?
Estamos no período eleitoral, época de escolher os próximos enquadrados na Lei da Ficha Limpa. Ou de reeleger os já enquadrados, enfim. É tempo de encontrar santinhos em meio às correspondências – todos infernais. É hora de propaganda eleitoral gratuita e de o povo pagar caro por isso: nossa paciência testada num nível de repulsa elevado à quarta potência. Vezes dois. É a temporada de mudança, de fazer a cidade acordar! Com os carros de som, no caso: impossível dormir num sábado à tarde chuvoso depois daquela semana de batalha.

Não faz sentido, mas eleição eu gostava mesmo quando era criança. A turma se reunia no recreio pra jogar bafo. E nada de soprar o hálito na cara do amigo; não, nada disso. Os colegas sentavam-se no corredor, sobrepunham dois santinhos dobrados um sobre o outro e tentavam volvê-los com a mão levemente curvada em forma de concha, de modo que o primeiro a conseguir fazê-lo ficar-lhe-ia com o material publicitário vinculado àquele homem ou mulher em campanha. Explicando assim até pode parecer difícil, mas, num resumo breve, bastava socar aquelas fuças safadas contra o chão para virar os bagulhos. Simples assim. Tão simples que deve ter caído em desuso – a menos que já aja aplicativo equivalente para o iPad.

Hoje em dia período eleitoral me incomoda. É que não sou chegado a tapinhas nas costas de gente que mal mostra os dentes nos outros três anos e nove meses em que não há campanha. Odeio ser parado por alguém que pede votos sem ao menos ter propostas sérias a apresentar, como se eu fosse entregar a minha opinião final pela súplica, numa espécie de favor ao desconhecido que um dia decidiu me cercar na rua. Ridículo.

Antes que alguém me entenda mal, adianto-me: eleições são necessárias, uma prática indispensável num país que almeja a democracia. Acompanhar a política e todas as movimentações que afetam o nosso cotidiano também deve ser um exercício diário, afinal o dinheiro que você recebe, o dinheiro que você gasta e até mesmo o dinheiro que você deixa guardadinho naquela poupança – um abraço, Collor! – são afetados pelas decisões destes representantes públicos. O que me irrita, mesmo, é o período eleitoral.

Me incomoda empresário que não valoriza os próprios empregados abraçando pobre. Me azeda ver gente vendendo voto por tijolo, consulta no dentista ou gasolina. Ou pior, escolhendo este ou aquele porque é “daquele partido”, sem ao menos saber quais ideias tal candidato tem. Me deixa indignado ver senador e deputado conseguindo trabalhar menos ainda, fazendo inveja até em turista, empenhados em campanha. E o que mais me tira do sério mesmo é o horário político no rádio e na televisão.

Propaganda eleitoral gratuita é uma piada. Cada um pinta a vida maravilhosa que lhe parece melhor. É que nem Facebook: a gente só divulga o que vale a pena. E as juras? Somos bombardeados por promessas impossíveis, sem qualquer embasamento ou planejamento. É, simplesmente, terrível. Penso que a melhor forma de se conhecer – um pouco – cada candidato é através dos debates, mas estes acontecem à míngua. E o povo acaba votando ou pelo partido, ou pelo tijolo ou pelo mínimo conhecimento que se tem da trajetória política do pretendente ao cargo – noção que a propaganda obrigatória não ajuda a construir. Então como se escolhe um candidato? Com aquele exercício diário, claro. O problema é que no Brasil há pouca gente em forma e muito sedentário digitando o “confirma” nas urnas. Assim não dá, assim não pode.

PS: Agora, com vocês, uma verdade inconveniente:



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 28 de agosto de 2012.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Agora é no Rio

Renato Sorriso nas Olimpíadas, para a tristeza de muitos
Os Jogos Olímpicos de Londres acabaram domingo deixando algumas lições importantes. Primeira: jamais brinque de “quem chegar por último é a mulher do padre” com Usain Bolt – pelo menos não sem antes escolher o vestido. Segunda: errar é o Mano, mas repetir o mesmo erro na Copa América, nas Olimpíadas e ainda cogitá-lo para a Copa do Mundo é CBF. Terceira: navegar é preciso; investir em esporte, também.

Sorriso, Ambrósio, Jorge: Brazilian Day em Londres
O Brasil conseguiu o seu maior número de medalhas em uma edição olímpica, fato a ser celebrado. Mas ainda é pouco, muito pouco, para uma nação do nosso porte e com nosso talento. Eu mesmo poderia ter sido um grande nadador ou jogador de vôlei, mas creio que careceu investimento: me faltaram oportunidades, aptidão e uns 20 centímetros.

Analisando o cenário, teríamos condições claras de figurar – no mínimo – entre os dez primeiros colocados no quadro geral de medalhas. Terminamos em 22º, o que não é vergonha: ainda que nossos atletas fiquem a míngua enquanto alguns poucos cartolas estufam contas bancárias em paraísos fiscais, resultados expressivos foram conquistados. E conquistados na base da luta, suor e sofrimento diário, enquanto um enorme grupo de sedentários – como você e eu – criticava os seus sétimos, quartos e até mesmo terceiros lugares dentro da elite mundial sem nunca ter ganhado uma medalha de Jasc sequer.

Bem, agora os jogos são aqui. E o que esperar de uma Olimpíada num país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza como o nosso? Além de superfaturamento em obras, filas em aeroportos e preços abusivos, digo. Incógnita total: há um medo geral de que o Brasil faça um fiasco. Uma preocupação insistente de que, em vez de welcome, recepcionemos o mundo com faixas hands up, playboy! É esperar para ver.

Pois um dos momentos mais aguardados do encerramento oficial das Olimpíadas de Londres era justamente aquele em que o Brasil mostraria o seu cartão de entrada para 2016. E nada de Visa ou MasterCard: tratava-se de uma rápida apresentação de traços marcantes de nosso país. Eis que surge Renato Sorriso no meio da galera, para delírio da classe operária e das madames do Leblon – cada um a seu modo, é claro. E eis que os problemas já começam.

Há quem tenha amado. Há quem tenha achado vergonhoso. Fato é que ninguém ficou indiferente à apresentação brasileira no último dia dos jogos londrinos. Consta que Boris Casoy teria repetido “isto é uma vergonha” dez vezes em frente ao espelho. As Empreguetes teriam a-ma-do. Luana Piovani teria entrado em colapso e xingado todo mundo no Twitter – um dia como outro qualquer, enfim.

Sou da parte que gostou. Acredito que não poderia haver melhor representante da nossa alegria que Renato Sorriso. A principal riqueza que o país tem é o seu povo, que batalha todo dia dando duro e ainda consegue sorrir, apesar das dificuldades. O.k., parte dos críticos só não gostou da encenação de “barrá-lo”, algo “vexatório para o Brasil”. E se fosse um gari inglês? Será que o momento não seria encarado apenas como uma encenação – que, de fato, era? E quem reclamou das músicas, esperar o quê? Sinatra? Mozart?!

A coreógrafa comentou que neste momento os chavões seriam inevitáveis, já que deveria trabalhar com figuras de fácil compreensão mundial – como o samba e o calçadão de Ipanema. Teve até gente que questionou a “excessiva” referência à cultura carioca, ignorando totalmente que as Olimpíadas, de fato, são no Rio de Janeiro e acontecem tão somente lá. E a pergunta continua: o que esperar dos jogos aqui? Não sei. Já não sei mais nem o que dizer sobre a parte pobre – de espírito – da nossa gente.

PS: Agora, com vocês, Jorge Ben:



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 14 de agosto de 2012.

terça-feira, 31 de julho de 2012

O maior momento do esporte

É tempo de Olimpíadas, é tempo de inspiração!
Vivenciamos novamente o maior momento do esporte mundial. Não, não me refiro ao Campeonato de Canastra realizado anualmente no meu bairro. Tampouco me aludo ao Torneio de Bocha do bar que meu sogro frequenta para a prática desta modalidade que exige o máximo de concentração, habilidade e cachaça. Não. É tempo de Olimpíadas, meus caros!

As Olimpíadas surgiram há muito, muito tempo, antes mesmo de Cristo, pouco depois do nascimento de Niemeyer. Uma dificuldade. Primeiro porque, naquela época, faltava tecnologia. As sandálias gregas não contavam com sistemas de absorção de impactos, o que poderia compensar em partes a falta de asfalto para as maratonas daquele tempo e, talvez até, impedir a morte de Filípides. Há indícios de que os energéticos a base de taurina também não haviam sido inventados. Mas sempre houve dúvidas: Ícaro parece ter bebido alguma coisa que lhe deu asas.

Antigamente os atletas saíam de suas casas para suar a camisa motivados não pelas grandes premiações em dinheiro - sequer inventado -, mas pelo status de ser quem eram e o consequente reconhecimento público. É quase como os jornalistas atualmente, num exemplo moderno. O único prêmio era possuir a coroa. E nada de imaginar uma noite de amor com a Elizabeth da época. Não: a recompensa pelo esforço estafante era tão somente a auréola de louros concedida aos vencedores.

Hoje tudo mudou. Não há mais corrida de bigas, não há mais cabos de guerras, não há mais lançamentos de pedras. Os heróis do passado foram substituídos por homens e mulheres competindo no ar-condicionado. Menos emoção, menor glória? Nada. As condições de trabalho melhoraram para que estes atletas chegassem ao limite do corpo humano sem doping. Recordes antigos são dinamitados. Números que jamais farão sentido para você ou eu, que pedimos clemência ao subir três andares de escada. Novos ídolos nascem. Olímpia vive, agora em Londres.

Não há quem resista a uma olhadela nas Olimpíadas. Fora os guardas felpudos, seres empalhados pela própria rainha inglesa, ninguém fica indiferente aos jogos. Tenho visto tudo o que posso. De competições consagradas como o tiro ao prato até esportes de pouco público, como o futebol. Contagia. Quase comecei a academia esta semana. Desliguei a TV antes deste mal. É bom tomar cuidado: soube que a rainha Elizabeth se atirou de um avião com o James Bond só pra ver a pira olímpica. E que pira.

A capital do mundo agora é Londres, então welcome a você - sem duplos sentidos porque aqui não se faz piada velha. Viva o clima londrino. Ouça Beatles. Ande pela contramão. Odeie o príncipe Charles. Não tome banho - sei lá, a França é ali perto. Dance os cem metros rasos no seu quadrado. Tome chá às cinco. Case com a Kate Middleton - o.k., não se pode ter tudo. Mas, se não puder nada disto, apenas faça o seguinte: pratique esporte. Just do it. O legado máximo de qualquer Olimpíada é a motivação para uma vida saudável e a busca pela superação de obstáculos. Ouse. Mexa-se. Faça qualquer coisa. Nem que seja a bocha.


PS: Agora, com vocês, Queen:



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 31 de julho de 2012.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Eu tenho medo


Ops! Acho que vi o Velho do Saco...
Sou obrigado a confessar: tenho medo. Aliás, medos. Mas não que eu seja um simples medroso qualquer. Não, nada disto. Sou um legítimo Cagão, com maiúsculo e sem músculo. Também não pense que é fácil, para mim, falar abertamente sobre aquilo que me assombra – já que tais informações podem ser usadas contra a minha pessoa em uma ocasião futura. Torço, contudo, para que ninguém utilize este texto para me fazer mal. E, pra ser honesto, não acredito que algum leitor leve adiante possibilidades como a de me enterrar vivo com o único intuito de dar um cagaço – primeira apreensão que entrego.

Dizem que sentir medo faz bem. O pavor seria uma espécie de bloqueio natural a ideias malucas que às vezes todo mundo tem. Como pular de algum lugar bem alto achando que é possível flutuar durante a queda com o guarda-chuva aberto. Tolice. Qualquer idiota sabe que isto só funciona com o guarda-sol. E se você não for o André Marques. Pois bem, dizem que até os mais bravos guerreiros sentiam temores durante a guerra. A diferença é que os covardes fugiam ao primeiro sinal de pavor, enquanto que os ladinos ficavam para morrer. Acho digno: nada mais nobre do que uma homenagem póstuma – a não ser que seja na Assembleia Legislativa, é claro.

Algumas apreensões são comuns a todas as pessoas, penso eu. Como o receio de perder os pais, por exemplo, algo que não desejo para ninguém: já perdi os meus cinco vezes, três no supermercado e duas no Centro. Também é muito comum o medo do escuro, especialmente entre as crianças e os monstros que dormem sob as camas delas. Esta aflição, de fato, não passa de bobagem: todo mundo sabe que nada acontece no escuro se você estiver devidamente tampado até a cabeça com a coberta.

Homens e mulheres têm medos específicos. Nós, por exemplo, tememos acordar sem nossos pênis. Elas, por sua vez, temem que acordemos sem nossos carros. Sofremos com a possibilidade do time do coração ser rebaixado – algo, por sinal, só comparável a acordar sem pênis. Nossas companheiras, se afligem com a chance de perder alguma liquidação ou torra-torra – algo como chegar à festa com o “mesmo vestido daquela vaca”.

A vida é assim, um eterno apavorar-se. Mas, vamos lá, prometi que entregaria alguns medos próprios nesta coluna. Chegou o momento. Só peço que tentem esquecer disto tudo até a próxima semana. Tem coluna nova, não retomemos o assunto. Pois bem. Tenho medo de andar na rua à noite, tanto em Araranguá como em Criciúma. Fico olhando para os lados, meio desconfiado. Sinto-me como numa Gotham City sem Batman. Tenho medo de choque elétrico. Levei um forte, numa viagem com o pessoal da faculdade, ao sair da piscina para instalar o notebook na caixa de som – talvez (talvez!) devesse ter me secado com a toalha antes.

Também tenho medo de cobras. Especialmente as humanas, raça extremamente venenosa contra a qual não há soro antiofídico. Tenho medo de atropelar animais. Acho que já atropelei um passarinho – é sério – e já matei um cachorro. Mas este, pelo modo como se atirou na frente do automóvel, era suicida. Também tenho medo de prender os testículos na porta do carro. E de ter um pesadelo erótico com a Preta Gil. Sei lá. Acho até que prefiro acordar sem o pênis...

PS: Agora, com vocês, uma pessoa com medo:



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 24 de julho de 2012.