Futebol: 22 correndo, um torcendo e outra espumando |
O vínculo que temos com a modalidade é indiscutível, inexplicável, indelével, integral e, por que não, inútil. Sim, é notório que não existe proveito, mas nem sempre é socialmente aceitável reunir-se com o grupo de amigos para xingar em uníssono um suposto bandido. E a tarefa do árbitro de futebol, sejamos francos, é tão somente esta: apitar e ter a honestidade da mãe contestada.
Os homens já nascem com uma pré-disposição genética e hormonal ao esporte. Viemos ao mundo com a obrigação de administrar bolas desde muito cedo e, com o passar do tempo, também entendemos o valor que tem uma boa pelada. E nada pode ser tão gostoso quanto meter pra dentro entre as pernas, mas não se enganem: a bola que passa entre as chuteiras do goleiro e cruza a meta adversária é o ápice do prazer masculino.
O gosto pelo futebol é adquirido logo nos primeiros anos de nossa vida. Artefatos esportivos são itens obrigatórios no enxoval de um bebê. A paixão por determinado clube costuma ser hereditária, mas o velho “tal pai, tal filho” nem sempre cola. Escolhas contrárias costumam ser perdoadas com o passar dos anos – caso o time selecionado não seja o maior rival do velho, é claro. Eu mesmo torci por muitos clubes até chegar ao mesmo do meu pai. A tática dele foi só me presentear com produtos da sua equipe. Era aceitar, ou me tornar um torcedor não-uniformizado. Não restou o que fazer.
Minha namorada é do tipo que não suporta futebol e, quando tenta, comete alguma gafe. No último dia de jogo, por exemplo, ela comentou que ouviu rumores de uma suposta compra que o São Paulo faria do jogador Ventijo, meio-campo do Cruzeiro. O nome do rapaz é Montillo e o camisa 10 é um dos principais atletas do Brasileirão. Um desdém imperdoável, que abalou o nosso relacionamento. Pelas minhas risadas, no caso: passei dois tempos de 45 minutos pedindo desculpas pelo sarrinho e só fui perdoado nos acréscimos.
Não culpo as mulheres pela baixa popularidade do futebol entre elas; culpo a CBF, a grande responsável pelo ódio feminino ao esporte. O maior problema é o calendário de jogos conflitante com os interesses da mulher. A bola costuma rolar no domingo, dia em que deveríamos visitar a mãe delas; e na quarta-feira, dia do sofá e filme comédia-romântica. São atividades maravilhosas, obviamente adoraríamos ter estes instantes adoráveis ao lado de vocês, mas tentem nos entender: não dá para jogar canastra com a sogra ou ver Antes que Termine o Dia no DVD sabendo que nosso time está em campo e estamos perdendo a chance de xingar a mãe de um bandido. Sem escolhas, imploramos pelo controle da TV, mesmo com a certeza de que, fatidicamente, a noite vai terminar em zero a zero. É muito amor.
PS: Agora, com vocês, Skank:
Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 25 de setembro de 2012.
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