terça-feira, 25 de setembro de 2012

O verdadeiro amor dos homens


Futebol: 22 correndo, um torcendo e outra espumando
Poucas coisas neste mundo podem ser maiores do que aquele amor que todo homem de verdade sente no fundo do peito. Pelo futebol. Boa parte das mulheres – a maior, provavelmente – não compreende o nosso apreço pelo esporte bretão. Estas apenas toleram tal paixão ao constatarem que toda e qualquer ladainha contrária é ineficaz: em dia de jogo, a TV é nossa. A-rrá, u-rru.

O vínculo que temos com a modalidade é indiscutível, inexplicável, indelével, integral e, por que não, inútil. Sim, é notório que não existe proveito, mas nem sempre é socialmente aceitável reunir-se com o grupo de amigos para xingar em uníssono um suposto bandido. E a tarefa do árbitro de futebol, sejamos francos, é tão somente esta: apitar e ter a honestidade da mãe contestada.

Os homens já nascem com uma pré-disposição genética e hormonal ao esporte. Viemos ao mundo com a obrigação de administrar bolas desde muito cedo e, com o passar do tempo, também entendemos o valor que tem uma boa pelada. E nada pode ser tão gostoso quanto meter pra dentro entre as pernas, mas não se enganem: a bola que passa entre as chuteiras do goleiro e cruza a meta adversária é o ápice do prazer masculino.

O gosto pelo futebol é adquirido logo nos primeiros anos de nossa vida. Artefatos esportivos são itens obrigatórios no enxoval de um bebê. A paixão por determinado clube costuma ser hereditária, mas o velho “tal pai, tal filho” nem sempre cola. Escolhas contrárias costumam ser perdoadas com o passar dos anos – caso o time selecionado não seja o maior rival do velho, é claro. Eu mesmo torci por muitos clubes até chegar ao mesmo do meu pai. A tática dele foi só me presentear com produtos da sua equipe. Era aceitar, ou me tornar um torcedor não-uniformizado. Não restou o que fazer.

Minha namorada é do tipo que não suporta futebol e, quando tenta, comete alguma gafe. No último dia de jogo, por exemplo, ela comentou que ouviu rumores de uma suposta compra que o São Paulo faria do jogador Ventijo, meio-campo do Cruzeiro. O nome do rapaz é Montillo e o camisa 10 é um dos principais atletas do Brasileirão. Um desdém imperdoável, que abalou o nosso relacionamento. Pelas minhas risadas, no caso: passei dois tempos de 45 minutos pedindo desculpas pelo sarrinho e só fui perdoado nos acréscimos.

Não culpo as mulheres pela baixa popularidade do futebol entre elas; culpo a CBF, a grande responsável pelo ódio feminino ao esporte. O maior problema é o calendário de jogos conflitante com os interesses da mulher. A bola costuma rolar no domingo, dia em que deveríamos visitar a mãe delas; e na quarta-feira, dia do sofá e filme comédia-romântica. São atividades maravilhosas, obviamente adoraríamos ter estes instantes adoráveis ao lado de vocês, mas tentem nos entender: não dá para jogar canastra com a sogra ou ver Antes que Termine o Dia no DVD sabendo que nosso time está em campo e estamos perdendo a chance de xingar a mãe de um bandido. Sem escolhas, imploramos pelo controle da TV, mesmo com a certeza de que, fatidicamente, a noite vai terminar em zero a zero. É muito amor.

PS: Agora, com vocês, Skank:



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 25 de setembro de 2012.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Um estranho no ninho

Gay sensualizando pra geral: cena cada vez mais comum
Ultimamente me parece que o mundo está ao contrário e ninguém reparou – para ser bem original. É como se tudo estivesse exatamente idêntico, só que do avesso. A começar pelas mulheres reivindicando os mesmos direitos dos homens. O.k., até aí nada de novo; a novidade é o oposto. Pois, sim, o vulgo sexo forte tem exigido alguns benefícios antes restritos ao frágil. Até na cama: nunca tantos exemplares masculinos quiseram abocanhar – sugiro evitar reflexões figurativas – os companheiros anatomicamente desenvolvidos para elas. E – Jesus, Maria, José! – vice-versa.

Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia. A conversa envereda para o sexo porque, afinal de contas, viemos para este planeta com uma tarefa pré-definida bem básica: crescei e multiplicai-vos. O problema é que este mundo nunca foi tão gay, colocando em risco o futuro da espécie. Reconheço que já conseguiram engravidar o Arnold Schwarzenegger uma vez, mas cassaram o registro médico do doutor Danny DeVito na mesma época em que foi condenado o doutor Albieri. Informações de coxia dão conta de que a Igreja Católica embasou o contraponto: não houve aprovação para a gravidez masculina, os clones humanos e as camisinhas de Vênus.

Às vezes pode até passar despercebido, mas eu sei que alguma coisa aconteceu, está tudo assim tão diferente... Se lembra quando a gente era criança e havia dois grupos bem definidos? De um lado, ficavam os meninos; correndo atrás de bolas, soltando gases, fedendo, de modo geral. Do outro, estavam as meninas; algumas mais molecas, outras mais rosas na essência, frescas, num resumo. Simplesmente nos odiávamos. E é então que entra a ação do influente tempo, aumentando bíceps e arredondando quadris, num esforço para a aproximação. E passamos a nos dar. E algumas se dão bastante.

Em algum momento no meio disso – entenda como quiser – há um descompasso na orientação da natureza. Pinta uma dúvida e o garoto não resiste à pintada: decide que o que lhe provoca desejo realmente é a turma do mesmo vestiário. Confesso que entendo mais facilmente a atração que uma mulher sente por outra, afinal são elas que também me atraem; mas, em contrapartida, sexualmente falando, acho mais autoexplicativa a relação entre dois homens. Ainda que seja leigo, é bom que se diga.

Faça o que tu queres, há de ser tudo da lei! Só aumenta a quantidade de amigos meus que são ou viram gays – e não vejo qualquer problema nisto. Talvez vivamos a liberação sexual mais intensa de todos os tempos. Começou nos anos 70, mas naquela época os liberais ainda eram caretas ao ponto de preferirem o sexo oposto – ah, clichê... O moderno agora é investir no mesmo. E ai de quem achar estranho! O presente já não faz sentido e o futuro nunca foi tão incerto. Só sei que me sinto cada vez mais antiquado. Amém.

PS: Agora, com vocês, uma homenagem! :D



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 4 de setembro de 2012.