terça-feira, 20 de março de 2012

Vinte e dois homens atrás de uma bola

Garotada no futebol: desde sempre
Vinte e dois homens correndo atrás de uma bola. Para boa parte das mulheres, essa é a melhor definição que se pode dar ao futebol. Para outra boa parte, é a única. E mais: isto não faz o menor sentido para elas.

Os homens já nascem pré-dispostos a gostar de futebol. Minha mãe conta que eu fazia até embaixadinhas no ventre dela, coisa mais linda... E quando o menino nasce, quais os presentes mais comuns? Roupinhas de time. Meu afilhado recém-nascido, coitado, já ganhou vestimentas de Grêmio, Santos e São Paulo – por enquanto. O menino anda tão indeciso que, penso eu, vai acabar torcendo só pra seleção brasileira. Na Copa. Em jogo de final.

Quando o garotinho cresce, que presente ganha? Uma bola. É pra cima e pra baixo com a gorducha no pé, incomodando todos os tios e primos mais velhos para jogar uma travezinha livre que seja, um mano a mano, um bobinho qualquer. E as meninas, onde estão? No quarto, brincando de casinha, num mundo perfeito onde o Ken não sai pra bater pelada na sexta-feira à noite com a turma deixando a Barbie sozinha. Doce ilusão.

As mulheres crescem e o futebol continua sem sentido. Aos dezessete elas estão lá no recreio da escola, devidamente perfumadas e vestidas em suas calças colantes, e a molecada, vai pra onde? Pra quadra de futebol. Retornam às paqueras suados, vermelhos do sol, de raiva pelo sinal que bateu cedo demais. Bobos porque ganharam, tolos porque perderam. Por que existes, maldito futebol?

A essa altura a mulher já não suporta ouvir falar da bola. Está cansada de ver vinte e dois correndo na TV quarta-feira à noite, sábado e domingo à tarde. Vai questionar por que existe impedimento, vai se irritar com o zero a zero chato, vai odiar a reportagem com os melhores momentos do jogo – aquele que terminou em zero a zero e acabou de passar.

Gostamos de futebol e ponto. Não confie num homem que não goste – bom sujeito não é. Mas não se trata de uma competição com vocês, suas lindas. E não se esqueçam que também toleramos a novela, sem ao menos questionar porque vocês fazem tanta questão de ver o capítulo depois de saber exatamente o que vai acontecer com o Pereirão lendo o resumo no jornal. Então tenhamos calma. Até porque nós somos seus todos os dias. A menos que tenha jogo.

PS: Agora, com vocês, Skank...



Texto publicado na coluna “Devaneios” do jornal Sem Censura em 20 de março de 2012.

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